3 | TALKING TO HAMISH

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O despertador estourou meus tímpanos por um momento.

Revirei na cama e procurei no escuro o objeto barulhento para que finalmente pudesse desligá-lo. A vontade era jogá-lo na parede, mas eu não podia acordar as meninas nos outros quartos. Arrastei-me para fora da cama, sonolenta demais e tentando entender o que estava acontecendo.

Era meu primeiro dia de aula. Agosto havia chegado maravilhosamente bem. Eu não sofri nenhuma punição pela merda no refeitório há três dias, portanto havia restabelecido minha auto confiança. Para minha alegria, Mabel criara um grupo no Facebook chamado "Três Mosqueteiras" e havia colocado eu e Daphne. Eu passei o fim de semana inteiro lendo as mensagens animadinhas das duas sobre os seus possíveis romances, enquanto me animava para escrever algo para o jornal da faculdade.

Somente ontem que pude ter um surto de inspiração. Escrevi três mil palavras a respeito do transporte coletivo do campus. Havia tido a ideia do tema depois de ler o fórum de reclamações de alunos da Universidade de Hamish. Algumas coisas variavam entre a comida do refeitório e chegavam até as maldades feitas em trotes pelos veteranos. Assuntos alarmantes, mas optei em escrever sobre os ônibus, afinal era um tema que dominava mais, considerando que não participara de trote nenhum.

Joguei meu corpo em direção ao banheiro. Era ótimo que os três quartos fossem suítes — apesar de serem fodidamente mais caros — pois eu podia me demorar na minha ducha matinal sem que alguém viesse reclamar. Aproveitei o momento de meditação debaixo do chuveiro para lavar meus longos cabelos negros. Sabia que estava com olheiras profundas sob meus olhos cor de mel, por isso meus fios precisavam ficar domados; alguma coisa precisava ser perfeita.

Ajeitei-me adequadamente para meu primeiro dia. Não muito largada, mas também não muito certinha. Havia combinado de encontrar minhas amigas no refeitório e precisava me apressar, pois tinha de passar primeiro na sede do jornal para deixar o que havia escrito.

Nebraska e Shelby estavam em seus profundos sonhos. Muito provável que fossem se atrasar, mas já que eu não possuía nenhuma intimidade maior para acordá-las, decidi sair de fininho e fui direto para o ponto de ônibus.

No meio do caminho, segurando com força o material impresso escrito no dia anterior, minha mente divagava. Eu estava eufórica para saber o que achariam, mas o medo ainda percorria cada célula do meu corpo. Sabia que tinha feito um bom trabalho, mas seria o suficiente? Eu saberia lidar com um "não"? Isso poderia arruinar minha vontade de continuar escrevendo para mostrar para alguém. Eu sairia nitidamente cabisbaixa sem nenhum plano B na mesa.

A sede do Talking to Hamish era perto do prédio de Literatura, no vão entre a biblioteca e a saída principal do refeitório. Mesmo em um horário tão cedo, calouros e veteranos corriam pelo espaço, porque dali uma hora as aulas se iniciariam. Eu estava ansiosa para adquirir novos conhecimentos, mas o jornal era minha prioridade do dia, de tal forma que não me preocupei em saber quais salas eu deveria ir mais tarde.

Adentrei o ambiente que mais parecia uma sala de estudos, exceto pela decoração característica de um jornal, com objetos vintages e folhas amareladas de papéis cobrindo uma parede inteira. Mesas arredondadas com cadeiras almofadadas ocupavam o centro do ambiente, próximas de um freezer recheado de bebidas diferenciadas. A luz era perfeita para leitura, e o silêncio predominante, mesmo com alguns cochichos em outro ponto da sala, fazia com que o tempo simplesmente parasse ali.

Pude sentir meu coração estralar. Acho que fiquei tempo demais observando os detalhes, pois não percebi quando uma figura masculina se aproximara de mim. O jovem, cujo rosto estava tampado por uma barba comprida, sorriu-me de um jeitinho especial. Devolvi o gesto e acenei com a cabeça.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora