16 | REFEITÓRIO EM CHAMAS

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Eu não gostava muito dos últimos meses do ano por conta do frio que se aninhava entre as pessoas.

Setembro se arrastava e, mesmo que a segunda semana já estivesse no meio, eu sentia a enorme necessidade de pular os dias. Eu não queria ficar e descobrir o que viria pela frente, porque minha paciência havia se esgotado. As pessoas do meu convívio me irritavam, e eu não conseguia evitar duas pessoas em específico, enquanto aguardava o sinal de vida de uma delas.

As aulas de quarta-feira eram as melhores, porque eu passava o dia inteiro com minhas amigas Mabel e Daphne. Ambas me arrastaram para o refeitório, embora eu estivesse implorado que gostaria de comer em casa, pois existia uma grande possibilidade de bater de frente com Nebraska, que sempre perambulava pelo prédio da Literatura.

Eu não precisava explicar os motivos pelos quais não quis acompanhá-la na festa de sábado. O Instituto de Engenharia era o covil dos veteranos, cujas festas eram mais épicas do que as da fraternidade Beta Sigma Tau, a mais populosa. Para meu azar, os mesmos organizadores que enchiam o saco dos calouros faziam parte de ambas organizações. Por mais que Nebraska, uma veterana popular, estivesse na minha cola, eu não confiava nos demais alunos.

Sem contar que, depois do meu encontro com Charlize, resolvi passar o resto do fim de semana socada no meu quarto e sem ver o ralo sol que tentava tomar espaço no céu pela manhã. Eu não sabia como havia evitado Nebraska e Seth durante as aulas, mas estava orgulhosa de mim.

Infelizmente a única mensagem que gostaria de receber naqueles dois dias, e depois nos outros da semana, não chegara piscando no meu celular. Esperava que Charlize não houvesse desistido de ir comigo no Red Devil qualquer dia desses, pois eu continuava na mesma vibe. Eu só a vi pelo corredor uma vez, mas ela não trombara o olhar no meu. Passara reto sem ver ninguém, e eu fiquei no canto da parede roendo as unhas.

Eu precisava de uma ajuda urgente. Não podia ficar procurando sua silhueta em todo lugar que conseguia ir. Eu devia me ocupar com meus estudos e também com a missão de descobrir quem era Frankenstein, embora sentisse que o estava traindo desse jeito. Eu agia pelas suas costas, mas era preciso que a verdade viesse à tona. Eu não o julgaria se ele estivesse fazendo o mesmo.

— Bolachinha e cafézinho — Daphne falou para ninguém em especial. Ela só encarava a própria comida. — Nada de almoço. Apenas outro café.

Eu e minhas mosqueteiras estávamos sentadas em uma mesa distante de outros alunos. Eu ouvia um murmúrio e risadas dos veteranos, mas tinha receio de erguer o olhar para saber do que se tratava, pois só precisavam disso para escolher outro calouro de saco de pancadas.

— Por que você está sem almoçar desde o início da semana? — Mabel, sempre muito bem apresentada nas suas melhores roupas, perguntou.

— Estou de regime — Daphne informou.

— Você está bem assim. Não precisa de regime — eu toquei seu ombro.

Ela me deu um sorrisinho, mas o ato não se prolongou por mais que alguns segundos.

— Você só está dizendo isso porque é minha amiga.

— Ela está dizendo isso porque é a verdade — Mabel concordou comigo. Eu pisquei em agradecimento. — Você já tem uma bundinha magra. Talvez não tanto quanto a Cobham, mas ainda assim só tem osso aí atrás. Você vai desaparecer se continuar assim.

— Obrigada pelo apoio, Seymour — Daphne zombou.

— À disposição — Mabel mostrou seus dentes brancos e alinhados.

— Ei, por que você não respondeu minha mensagem no domingo? — lembrei enquanto lutada contra minha saladinha.

Daphne estava me ignorando com sucesso há vários dias e eu gostaria de entender o motivo. Eu estava atraindo confusão, mas desejava ficar bem com as únicas pessoas que importam no meio de tanto lixo corrosivo.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora