Desencontros

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O silêncio se instaurou após aquela revelação de Norika. Não faziam ideia de como tinham chegado tão rápido, não era possível aquele tipo de coisa sem… Magia.
Algumas horas depois, sem qualquer contratempo, sentaram-se para comer próximo a um rio, mas sob a copa das árvores, à sombra. Fizeram uma pesca boa graças à Norika e descansaram cerca de uma hora até voltarem a andar.
Passaram mais algum tempo viajando na estrada e começou a escurecer, tudo estava muito calmo. Os únicos combates eram para comer. Nenhuma viva alma sequer cruzou a estrada naquele dia.
Depois de caminharem bastante após anoitecer, Nae achou uma pequena caverna, ela não se aprofundava muito, então não seriam atacados por qualquer animal de grande porte vindo por trás, além de não haver rastros de que algo ou alguém havia estado ali. Um local perfeito para passar a noite. Shirou começou a tentar acender uma fogueira, porém sua mão deslizou e acabou ferido na mão esquerda, doía e sangrava. A princesa, que havia ficado também enquanto os outros foram buscar lenha, mexeu em suas coisas e tirou um pequeno kit médico da bolsa, começando a fazer o curativo em seu cavaleiro.
Não demorou muito e os outros dois apareceram, Norika carregava uma quantidade muito boa de lenha, ao contrário de Atsuya, o qual mal tinha algo em mãos. A fogueira ainda não havia sido acesa e já estava completamente escuro.
— Não me surpreende em nada, irmão. — disse o ruivo pegando as pedras e acendendo a fogueira sem nenhuma dificuldade. — Você nunca foi muito bom nessa parte.
— Você tem que tomar mais cuidado… Como vai ser a vigia? Duas horas para cada um? — perguntou a garota de cabelos cacheados. — Eu posso começar se quiserem.
— Pode deixar comigo! — falou prontamente a princesa. — Descansem, vocês fizeram praticamente tudo hoje.
— Mas, prin…
— Nada de “mas”! Você e você — Apontou para os Fubuki. — vão dormir! Principalmente você, Atsuya, seu ferimento ainda não deve estar completamente curado, então será o último, descanse bem. Não quero saber de oposição quanto a isso.
Umihara soltou uma risada e logo assentiu.
— Eu fico com a segunda parte da vigia, o Fubuki ali — Apontou para o mais velho — pode ficar com a seguinte.
— Pode me chamar de Shirou e ele de Atsuya, não precisamos de formalidades aqui. E fica muito mais fácil.
— Perfeito, então me chamem de Norika. — disse com um sorriso gentil. — Agora vão dormir, teremos dias longos.
Nada mais foi dito, deixando apenas o barulho de animais e insetos preencherem seus ouvidos. A princesa encontrava-se sentada um pouco antes da entrada da caverna, pois assim um possível ataque só viria de uma única direção, contudo suas duas horas foram tranquilas.
A vigia de Norika já não foi tanto assim. Na primeira hora, alguns predadores aproximaram-se curiosos e foram afugentados sem combate pela guerreira. Já na segunda, não houve qualquer incidente. Shirou teve certos problemas quando uma ave, parecida com um avestruz, porém muito maior, se aproximou da caverna. Entraram em combate e felizmente ganhou, apesar da certa dificuldade por conta da sua mão ainda latejando. Teve sorte que os outros apenas se remexeram, mas não acordaram. Quando Atsuya assumiu a vigia, o grupo afugentado por Norika retornou, sendo expulso mais uma vez, mas logo amanheceu sem outros problemas. A esgrimista arrumou o local para que não houvesse rastros da noite que passaram ali e seguiram viagem.
— Minhas costas doem… — disse Nae — Eu deveria ter feito uma cama de folhas…
— Quer desistir? — brincou Atsuya. — Nós podemos voltar se quiser.
— Claro que não! — exclamou ela. — Só voltarei para casa quando achar as sereias.
— E lá vamos nós de novo… — sussurrou o mais velho dali.
— Eles são sempre assim?
— Na maioria do tempo sim, mas nunca dá problema, nos conhecemos desde pequenos.
— Hum… Entendi. — respondeu Norika, rindo da discussão deles.
Voltaram para a estrada e caminharam por mais uma hora, até avistarem uma carruagem sendo balançava por… Mortos-vivos?!
Arregalaram os olhos, tinham que sair dali o mais rápido possível. Norika puxou todos para trás.
— Vamos sair daqui sem sermos vistos! É muito perigoso os enfrentarmos. Pela mata, rápido! Não façam barulho.
Todos se esconderam em meio ao matagal e andaram devagar, passando pela carruagem sem problemas. Afastaram-se mais até saírem finalmente do meio das folhas, suspiraram aliviados, porém um grito de dor e desespero foi ouvido de dentro da carruagem. Tinha alguém lá.
— Tem uma mulher lá dentro! — exclamou Shirou. — Temos que salvá-la!
— Não dá mais, Shirou… É tarde demais…
— Nae! — ouviram Atsuya gritar.
Shiratoya corria de volta para a carruagem, suas feições mostravam determinação, não deixaria alguém morrer em vão. Chegou desferindo um ataque com sua espada curta em um dos zumbis dali, afastando-o da carruagem e se pondo em posição de ataque. Ele logo avançou nela para arranhá-la, mas errou e levou mais uma espadada. O zumbi virou-se e usou a outra mão para arranhá-la, fazendo-a soltar um praguejo. Afastou-se dele e avançou, quase errou, mas conseguiu atingir-lhe no peito.
Nae não percebeu outro zumbi surgindo por trás dela, contudo uma espada fina atravessou seu crânio, fazendo-o recuar alguns passos.
— Não seja imprudente! — gritou Norika — Vamos, ajudem!
Logo estava quatro contra dois. Shiratoya e Atsuya enfrentavam um que logo se desintegrou no chão. Viraram-se no mesmo momento que Shirou também foi arranhado e Umihara cravou a espada mais uma vez em seu peito, fazendo-o desintegrar como o primeiro. Suspiraram aliviados.
— O que deu em você?! — vociferou o ruivo. — Está querendo morrer?!
Ela o ignorou e subiu na carruagem, abrindo-a. Jazia uma mulher ao chão em um cena deplorável. Apertou os dedos contra a maçaneta e apenas fechou a porta, descendo e não falou mais nada, apenas seguiu andando. Atsuya se calou e outros não disseram nada, apenas a acompanharam.
Segundos depois, o barulho de mais um zumbi surgiu e de outro. E de outro. E de outro. E de outro. Vinha de todos os lados. Seguido de um estrondo do caminho que iam.
— É um ogro zumbi! Corram! — gritou Norika puxando Shiratoya e disparando.
Corriam novamente entre as árvores daquela floresta, perderam os cavaleiros de Hokkaido de vista. O trecho dessa vez era mais livre, não havendo tantos arbustos e outros objetos para retardar suas velocidades, porém isso também era ruim ao escutar aqueles sons cada vez mais perto. Buscou algum local onde poderiam se esconder, seja uma árvore ou buraco, porém não enxergava nada àquela velocidade. Continuaram correndo até sair do matagal e voltaram para a estrada de terra batida.
— Norika, você viu Shirou e Atsuya?
Ela fez um sinal de silêncio e negou com a cabeça, segurou a mão de Nae e voltaram a correr pela estrada ao ouvirem os barulhos cada vez mais próximos. Não olharam para trás, apenas aceleraram o passo ao notarem o balançar dos arbustos. Afastaram-se o mais depressa possível dali, dariam um jeito de se comunicarem com os irmãos Fubuki mais tarde.
[...]
Apoiaram-se nos joelhos após a longa corrida, respiravam com dificuldade pelo cansaço. Nae tentou falar, mas ainda estava sem fôlego; quando, de repente, escutou um barulho no arbusto atrás de si e Umihara avançou contra si desembainhando sua fina espada. A rosada apenas impulsionou-se para o lado no mesmo instante que a outra fincou sua lâmina no morto-vivo, o qual virou pó. Limpou o suor da testa e guardou sua arma, foi até Shiratoya e esticou a mão, a qual ela aceitou de bom grado.
— Está tudo bem?
— Tirando o susto, a maratona e que não sei onde estão meus cavaleiros, sim… Obrigada. — Levantou com sua ajuda e logo limpou suas vestes — Onde... Estamos?
— Vou tentar descobrir, devemos procurar um rio, pois onde há um, há um vilarejo ou cidade próxima.
Concordou com a esverdeada e puseram-se a andar mais calmamente dessa vez. Nae passou a prestar atenção na outra que parecia saber aonde ir.
Norika trajava um vestido antes branco, agora sujo de terra e folhas, uma armadura dourada em seu busto, junto a duas ombreiras e cinto da mesma cor e uma capa marrom, além do calçado de tiras grossas e trançadas em sua perna.
— O que foi? Está me encarando demais...
— Estava me perguntando como você luta com uma quantidade tão baixa de proteção. — referiu-se à falta de armadura e de um escudo.
Umihara sorriu para ela.
— Do mesmo modo que um monge luta sem armadura e de mãos nuas praticamente..
Apenas soltou um “Verdade...” e seguiram quietas, atentas a qualquer barulho suspeito, porém tudo seguiu tranquilo até chegarem à beirada de um riacho.
Respiraram aliviadas e respiraram fundo mais uma vez, tentando acalmar os próprios corações.
— Obri… Obrigada por me salvar naquela hora. — agradeceu a princesa. — Precisamos encontrar os outros dois.
— Sim, contudo nossa prioridade é chegarmos à cidade primeiro. Possivelmente eles irão para lá também. Agora…
Não terminou de falar, pois um estrondo foi ouvido e uma árvore caiu em seguida. Afastaram-se dali o mais rápido possível e, no momento seguinte, surgiu o mesmo monstro da carruagem.
— Ele de novo não! — reclamou a esverdeada, mas logo se pôs em posição de ataque. — Corra, Nae. Eu atraso ele. — Sequer olhou para ela, fixando o olhar no monstro.
— Não vou te deixar, você foi muito legal de vir conosco. — respondeu a rosada, retirando a espada curta da bainha. — Eu… Eu disse a mim mesma que não seria mais covarde. — Posicionou-se ao lado da outra.
— Então morreremos lut…
Não teve tempo de completar a frase, uma onda de fogo pegou o ogro por trás, fazendo-o urrar. Seguido de um forte brilho, sons metálicos e um trovão. Ele caiu no chão e virou pó.
Olharam assustadas para o grupo que surgiu. Um draconato de escamas vermelhas tomou a frente. Suas feições eram sérias e o corpo forte revelado pela falta de armadura, apenas shorts marrons e uma capa grossa em suas costas, além das bandagens e armamento. Entretanto, o que mais chamava atenção, eram suas escamas finais da cabeça serem amareladas e espetadas para cima.
— Vocês estão bem?

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⏰ Última atualização: May 10, 2019 ⏰

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