Um Pedido de Socorro

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Acordei feliz, ou pelo menos um pouco feliz. Hoje é quarta - feira. Dia da ligação semanal. A única pessoa pra quem eu poderia pedir socorro era para Grace, ainda tenho o papel com o telefone dela. Tenho alguns números de parentes numa agenda, mas, tenho certeza que nenhum deles viria me ajudar.

...

-- 10:30. Melhor eu ir. - Disse bem baixo, para ninguém ouvir. 

...

-- Grace? - Ela atendeu, consegui ouvir a respiração dela do outro lado da linha. - Grace, responde.

-- M... Max?! Você está bem? Onde você está? 

-- Richard não te contou? - No começo achei que ela estava fingindo que não sabia de nada, mas agora... 

-- Com você também? Ele matou sua família não é mesmo? Alguns anos atrás ele fez o mesmo comigo, Max.

-- Sim, eu estou num manicômio em Lizville. Me mandaram para cá logo após... você sabe o que. - Senti lágrimas se formando nos meus olhos. - Como? Ele também matou sua fámilia?

-- Eu era muito pequena, Richard praticamente me criou. Depois que ele fez isso comigo, me levou para a floresta. Para falar à verdade, nem parecia ele mesmo à alguns anos, ele cuidou de mim, pensei que faria o mesmo com você.

-- Por favor, tenta me tirar daqui, busca ajuda, não importa para quem for. - Ouvi um barulho do outro lado. - Grace? Está ai? - Alguém cortou a ligação, eu tenho certeza. Bom, melhor eu ir pro pátio, Richard não ousaria " aparecer '' em público.

...

-- Oi. - Era um senhor. Se sentou ao meu lado, num banco de pedra. - Como vai? - Parecia uma pessoa amigável, tinha uma feição familiar no rosto, os olhos eram castanho-escuro, e o cabelo completamente branco.

-- Bem. - Eu estava com cara de assustado, mais ele parecia inofensivo, e... muito, muito familiar mesmo. - Então, porque um garoto tão jovem como você está aqui?

-- Prefiro não falar, me acharia uma pessoa horrível. - Abaixei a cabeça por uns segundos e voltei a olhar para ele. - E você?

-- Depressão. Mais estou começando a me recuperar.

-- Não parece depressivo. O que houve?. - Lembra que a curiosidade matou o gato, Max.

-- Não vou te contar. Ainda não. - Ele se levantou e me estendeu a mão. - Tenho que ir, até mais. - Apertei a mão dele como sinal de amizade.

Pelo menos agora eu teria com quem conversar. Hora da terapia. Melhor eu ir aindando.

...

-- Vi que está fazendo novos amigos. - Novamente aqueles óculos na ponta do nariz.

-- Vocês daqui, costumam observar a vida dos pacientes, ou é só você?

-- Faz parte do tratamento. - Que mentira. - Está se adaptando bem, não é mesmo?

-- Estou tentando. - Eu nunca falo olhando nos olhos dele. - Aqui não é tão ruim. Fora a solidão, e a falta que minha mãe faz.

-- Ela era sua única família?

-- Sim. - Novamente as lágrimas se formando nos meus olhos. - Agente pode conversar depois? 

-- Claro, deve ser forte para você. Eu entendo. Você pode voltar amanhã, na mesma hora ok?

...

-- Ah. - Fui abrindo meus olhos pouco à pouco. - Estava tão bonitinho dormindo.

-- Grace? - Era tão bom vê-la.

-- É bom te ver também. - Ela me abraçou. 

-- Te deixaram vir aqui? 

-- Sim, mais tem um segurança enorme lá fora. Eu volto outro dia ok? 

-- Volta mesmo? - Eu não queria solta-lá.

-- Eu prometo, agora volta à dormir. - Ela saiu, enquanto fechava à porta, piscou um dos olhos. Adorava o jeito dela.

...

Eu não tenho mais família. Eu posso tentar me enturmar. Mais tenho certeza que não encontraria ninguém igual à mim. Eu não gostaria de compartilhar este sofrimento com ninguém. Ninguém merece o que estou passando, nem a pior pessoa deste mundo. Que para mim tem um nome: Richard Klarsson.

Mensagem SubliminarOnde histórias criam vida. Descubra agora