ᴘɪɴᴋ

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Se não pelo fundo em desfoque e pelas várias particulares em cores brilhantes e vibrantes voando ao seu redor, Miles nunca entenderia que aquilo era um sonho.

Àquele ponto Miles não sabia se podia confiar mais em si. A sua indagação havia sido totalmente atrapalhada por pontos e pontos, se juntando e separando, fazendo sentido, formando imagens e logo após desfazendo e se transformando em um completo nada. Para Miles aquilo era nada. Ele odiava que seus sentidos foram enganados, odiava ter pensado que alguém era tão errado, até que a pessoa se mostra correta. Se sentiu sem direções ao perceber que a imagem que estava formada em sua cabeça não era uma lembrança - e nem sequer um real acontecimento -, ao acordar de um breve descanso e descobrir que tudo aquilo era um sonho.

Parecia tão real. Ele. Alex. Ele e Alex, sentados num canto do bar, conversando, a mão de Alex se aproximando da dele. O cabelo perfeitamente bagunçado como se estivesse arrumado. Tudo aquilo se desfez como uma imagem na superfície de um lago.

Estava com todos seus recentes papéis de rascunho em sua frente, que provavelmente continham pelo menos seis músicas suas. Olhou seu relógio do celular, estava há horas sentado na cafeteria ao lado da universidade. Num canto do local, observou a movimentação do lado de fora, tudo tão tranquilo quanto uma localização próxima à um local com alunos andando para cima e para baixo o tempo todo.

Sua visão acabou focando em um ponto específico e ao mesmo tempo em lugar algum, do outro, em outro comércio. Era como se ele estivesse assistindo à uma viagem de tempo e espaço, onde não ouvia nada mais ao seu redor e sua visão ficava turva e toda a matéria não fazia mais parte do mesmo plano que seu corpo, restava apenas a sensação de seu respirar.

Logo seu espectro voltou ao corpo apenas para corpos mergulharem no seu campo de visão sem pedir qualquer tipo permissão. Demorou, claro, para seu consciente voltar a forma habitual de compreender o mundo da forma que acredita como ele seja, e reconhecer que a massa materializada eram pessoas. E uma dessas pessoas, para sua surpresa, era alguém que ele estava se familiarizando entrar em lugares que não estava pronto para encontrá-lo.

Como pôde perceber, Miles viu que Alex não estava sozinho. Andava com uma camisa social azul de mangas compridas com vários, consideráveis, botões abertos. Parou por um instante, apenas para continuar ouvindo seja lá o que a garota de cabelos castanhos compridos tinha para falar, e ela não parecia tão contente até Alex se voltar em sua direção, segurar seus braços com ambas as mãos e falar algo que Miles ficaria imaginando em apenas nos sonhos mais secretos o que seria, guardaria para si e seria enterrado à sete palmos do chão e levaria com si a curiosidade de roer as unhas, saber o que tinha feito aquela mulher tão alta e bonita como uma modelo, abrir um dos sorrisos mais lindos e cheio de rosas em tons de vermelho que Miles já teve o desagrado de testemunhar.

Tão rápido quanto se formou, o sorriso dela se desfez como uma rosa murchando em fim de primavera, revelando um carão tão firme como um muro de pedras erguido para impedir que os inimigos do outro flanco ultrapassem. Foi como uma mistura de raiva com descontentamento, seguido de completo deboche sobre a vida e a atual conversa que estavam tendo. Ela virou tão rápido, arrancando de si as mãos que provavelmente outrora havia tocado diversos membros de seu corpo, que seus cabelos voaram de forma mal ensaiada no ar, arrastando-se ao rosto do homem que permaneceu parado observando ela desfilar para longe daquele confronto.

Miles estava tão entretido no seu filme mudo particular que não notou a nova movimentação no cenário, Alex saindo do enquadramento e indo em direção à porta da cafeteria.

Ele entrou no local com aquela áurea de superior... Não, ela não estava mais lá. Nada estava como antes, ele parecia alguém mais na dele. Mesmo andando com postura e graciosidade que só aquele homem consegue reproduzir, seus ombros pareciam encolhidos como um cachorro que passou a noite na chuva grossa e agora pedia com as orelhas caídas um pouco de sua atenção. Ou um homem suspeito, que não quer ser visto por ninguém, com seu casaco por cima de outro casaco, capuz levantado e boca e nariz cobertos por um cachecol. Era como se ele quisesse se fazer de invisível, mas nu, diante te todos os olhos dentro da cafeteria. Fez seu caminho ao balcão, falou baixo com a atendente, impedindo que fosse ouvido por terceiros. Sendo assim, todos os outros presentes desistiram de tentar tirar algo da imagem daquele homem e voltaram ao seus afazeres.

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⏰ Última atualização: Dec 09, 2021 ⏰

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