A garçonete

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ADONIS NARRANDO

Tem de todo lugar. Estados Unidos, México, Argentina, Colômbia, Egito, África do Sul, China, Inglaterra, Japão, Coreia, França, Rússia... tem do Brasil também.

Resolvo ler algum. Clico aleatoriamente em uma história. E então começo a ler. A primeira história é da Hannah.

Começo a ler.

Vamos, Hannah. Me conte sua história.

DEPOIMENTO DA HANNAH
Olá, eu sou Hannah. Moro em Las Vegas, em Nevada, Estados Unidos. Sou lésbica. Nunca escondi isso de minhas amigas. Elas sempre me deram apoio em tudo o que precisei.

Isso até o dia em que realmente precisei. Eu transei com uma garota, e minha mãe descobriu. Um rapaz da igreja, que frequentava a mesma escola que eu, ouviu uma conversa entre a menina que eu fiquei e um amigo dela. O menino contou tudo para a minha mãe. Ela me botou pra fora de casa.

Eu estava tão perdida. Todas as minhas amigas me negaram abrigo. Diziam que éramos amigas, mas não podiam ter uma lésbica dentro da casa delas. O que os país delas pensariam?

Então, eu não tive opções. Passei uma semana dormindo nas ruas. Para a minha sorte, eu ainda estava matriculada na escola pública. Então lá eu tinha almoço de graça e onde tomar um banho. Só por isso eu não passei fome.

Então, achei um emprego. Las Vegas tem muitos cassinos, e sempre estão lotados, não importa a época do ano. E sempre precisam de gente. Eu seria garçonete. Só isso.

Então comecei a trabalhar. O casino em que trabalhei também era um cabaré. Toda hora tinha um homem bêbado me assediando. Foi um inferno. Mas eu aguentava. Eu precisava aguentar.

Eu até tentava arranjar outro emprego, mas não conseguia. Ninguém queria contratar uma garçonete de cabaré. Detalhe que dificulta ainda mais me contratarem, eu sou negra.

Um dia os clientes começaram a pedir que eu me apresentasse como stripper. Então tive que falar que eu sou lésbica para o gerente, ou ele iria me demitir por ter recusado.

Esse foi meu maior erro. Aí sim os machos escrotos que frequentavam o cabaré queriam me ver de stripper. Eram doidos pra ver uma lésbica dançando pra eles. Um bando de idiotas com fetiches perturbadores.

Eu fui intimada a realizar esse trabalho, ou seria demitida.

Meu mundo caiu novamente. Já não bastasse ter sido expulsa, queriam me rebeixar ao ponto de ter que tirar minha roupa pra excitar um bando de tarados.

Pensei estar perdida, até conhecer ela.

Chloe me apareceu quando eu mais precisei. E não. Chloe não é lésbica. Essa não é uma história sobre a menina lésbica rica que salva a outra menina lésbica e desamparada.

Essa é uma história de resiliência. Chloe me viu chorando na calçada em frente a um restaurante um dia. Ela se aproximou de mim, e me perguntou porque eu chorava. E como eu estava sozinha, era de toda ajuda ter pelo menos alguém para desabafar.

Chloe se comoveu com minha história. E Então ela disse ser dona de uma rede de restaurantes. Ela falou que podia me dar uma vaga de garçonete. Mas havia uma condição. Denunciar a exploração trabalhista e chantagem que eu sofria no cabaré.

Era algo necessário, mas eu não tinha coragem. Mesmo sendo pressoas ruins, eles ainda foram quem me tiraram da miséria.

Eu estava tão confusa, quando Chloe me disse as palavras das quais nunca mais me esquecerei:

- Não tenha pena de fazer o que é certo, só porque quem faz algo errado faz isso pensando este errado ser o certo.

Ela estava certa. Eu tinha que passar a cuidar e a pensar mais em mim mesma. Se eu não me amar, ninguém nunca irá. Eu aceitei a proposta dela.

Fui até a delegacia e contei tudo, contei até sobre minha mãe ter me expulsado de casa. Mas como eu já tinha 18 anos, ela não era mais obrigada a me criar. O policial disse de um jeito grosseiro. Provavelmente era preconceituoso.

Depois que eu contei, fui pedir demissão no cabaré e levei meus documentos para começar a trabalhar no restaurante de Chloe.

Foi lá que comecei a subir na vida. Comecei como uma garçonete. E então virei caixa. Até que um dia Chloe se disponibilizou a pagar um curso de administração para mim. Foi aí que virei gerente de seu restaurante.

Com as economias que fiz, comecei a fazer faculdade de arquitetura. Lá na faculdade conheci várias pessoas. Fiz novos amigos, dessa vez eram verdadeiros.

Estava sempre com Clay e Erik. Os dois eram gays, mas não eram namorados. Nós nos entendíamos. Pois assim como eu, eles foram expulsos de casa.

Na faculdade também tive muitos amores. Jenna, Samira, Lorene e Lindsay. Foram amores passageiros, mas que me fizeram bem.

Eu me formei, e me tornei uma arquiteta. Eu e Chole somos amigas até hoje.

Mas o dia em que eu fui mais feliz, foi quando minha mãe me procurou.

Ela estava arrependida. Disse que foi muito radical comigo, e me pediu desculpas. Queria que voltassemos a ser mãe e filha. A partir daí minha vida está perfeitamente normal.

E a frase que deixo para vocês é:

Não tenha pena de fazer o que é certo, só porque quem faz algo errado faz isso pensando este errado ser o certo.

Essa foi a frase que Chloe me disse, e que eu levarei para o resto da vida. Não importa o motivo, homofobia é homofobia. Se é crime em seu país, denuncie.

FIM DO DEPOIMENTO

ADONIS NARRANDO

Meus Deus. É uma história de resiliência. Realmente é bom saber como outras pessoas enfrentam seus problemas. E acho que parar um pouco para ler me acalmou um pouco.

Mal consigo acreditar que tentei me matar alguns minutos atrás. Mas, será que vale a pena viver? A vida é composta por momentos felizes, mas é composta por momentos dolorosos também. O que diz se alguém tem uma vida feliz é ter mais momentos felizes do que momentos dolorosos.

Eu sinto dor em cada momento de minha vida. Desde o dia em que beijei pela primeira vez. Esse foi meu último dia feliz.

Talvez haja algo que me fale o que fazer. Mas estou curioso. Quero ler outras histórias. Uma história daqui.

Vamos ver... achei. Daniel, é do Brasil.

Vamos lá, Daniel. Me conte sua história.

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