Sono eterno

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AVISO DE GATILHO
SE TIVER DEPRESSÃO OU PROBLEMAS DELICADOS QUE PODEM SER AGRAVADOS POR LEITURAS DELICADAS, SUGIRO LER EM MOMENTOS DE CALMA E NÃO CONTURBADOS

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ADONIS NARRANDO

As pessoas tem repulsa de mim. O simples fato de gostar de garotos me fez um excluído. Isso me fez pensar em suicídio diversas vezes.

Mas... será que isso é necessário? Será que mais alguém também pensou nisso? Preciso saber. Tenho que achar alguém.

Achei.

Jin, de Busan na Coreia do Sul.
Vamos lá, Jin. Me conte sua história.

DEPOIMENTO DO JIN

Olá. Se você lê isso, saiba desde já que está lendo tudo o que minha vida já foi. Cada desilusão, cada momento alegre e cada tortura que a vida me fez sofrer todos os dias. Amor é uma palavra que sempre me pareceu bela, pelo menos até o dia em que amei alguém de verdade.

Seu nome era Leon. Ele era de Portugal. Aqui na coreia quando um extrangeiro fala conosco em coreano, nem sempre vai ser respondido em coreano, alguns preferem falar em inglês justamente por não querer forçar para entender um coreano intermediário. E ele sofria com isso. Eu era um dos únicos que o respondia em coreano, mesmo com as dificuldades dele. Isso fez ele se aproximar de mim, e com o tempo viramos amigos.

E ficamos mais próximos ainda depois de descobrir que frequentávamos a mesma igreja. Minha família é super religiosa. Embora haja um número enorme de ateus e agnósticos em meu país, a religião mais forte é o cristianismo. Sou de uma família católica, e daquelas que não aceita um estilo de vida diferente do conservadorismo. E a igreja também era conservadora.

Cresci ouvindo um padre gritar todo tipo de coisa durante a missa. Ele dizia que ateus, agnósticos e pessoas de outras religiões iriam para o inferno, que pecadores devem ser punidos, e que enquanto o apocalipse não chega, devemos castigar os hereges. Seus discursos de homofobia também eram famosos. Ele recitava palavras tão cruéis que até dói no coração só de pensar.

Sempre percebi a minha atração por garotos, não sou besta, sabia procurar informações de mundo fora de casa. Usava computadores de bibliotecas para aprender como era um modo de vida diferente do meu. Sempre achei o jeito que minha família vive muito errado. Eles adoram um deus tão cegamente, que não percebem se o que fazem por esse deus é certo ou não.

Leon e eu éramos inseparáveis. Sempre juntos. Ele sabia que eu era diferente de nossas famílias. Teve coragem de me contar que era gay. Eu também me assumi para ele. A partir daí saímos muito juntos. Fomos a boates gays secretas juntos.

Vez ou outra demos alguns beijos. Mas nada mais que isso. Pegávamos outros caras, transamos...

Mas um dia, o pai dele desconfiou sobre nossos passeios. Ele nos seguiu até um bar gay. E quando voltamos cada um para nossas respectivas casas, levamos a pior surra de nossas vidas. Meu pai me bateu a ponto de eu ter que ir no hospital. Quebrei duas costelas, o nariz, desloquei o ombro e rompi um tendão. Fiquei mais de um mês internado. E ninguém nunca me visitou. Os médicos só falavam que meus pais estavam pagando tudo e que eu deveria ficar tranquilo. Estranhei muito, pois se antes eles queriam me matar, porque agora querem me manter vivo?

Eu já descobriria o motivo, e desejaria que eles tivessem me matado, ou que meu quadro se complicasse e que os médicos me deixassem morrer naquela cama de hospital.

Quando voltei pra casa, eles estavam tristes. Diziam estarem com remorso por terem me agredido. Falaram que conversaram com os pais do Leon, e iriam nos mandar para um retiro da igreja, para o padre nos curar.

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