Capítulo 5

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O clima naquela cozinha estava muito tenso, só melhorou um pouco quando Taeil se juntou a eles, o mais velho tinha o dom de suavizar qualquer ambiente, simplesmente com a sua presença e seu cheiro de camomila ajudava bastante.

Ele percebeu, no momento em que viu Renjun e a cara feia de seu filhote, que a conversa após o almoço não seria das melhores então tentou esticar o máximo que pôde, mesmo vendo que o alfa estava ficando impaciente já que o cheiro de âmbar estava ficando cada vez mais forte, ele deveria ser uma das pessoas que veem as linhas, pois ficou chocado ao ver Taeil em casa e sua provável linha.

Doyoung foi o primeiro a se levantar da mesa e pediu para os mais novos o aguardassem na sala enquanto ele arrumava a cozinha com um sorriso doce para Renjun e um olhar que deixou Jeno muito preocupado.

- Taeil hyung, pode ficar do meu lado e segurar a minha mão? – Doyoung perguntou baixo assim que os adolescentes saíram de suas vistas.

- É claro que sim Dodo, você vai falar sobre aqueles trastes?

Doyoung acenou meio a contra gosto, pois odiava quando outras pessoas falassem mal de seus soulmates, mesmo que ele mesmo tenha falado muito mal de cada um.

- Já tá na hora não é mesmo? – Doyoung respondeu com um sorriso triste.

- Eu vou estar do seu lado o tempo todo Dodo. – Taeil disse afagando os cabelos negros.

Enquanto Doyoung tomava coragem, Jeno se sentou no sofá mais distante que havia do qual o chinês tinha se sentado e nem olhava na direção de Renjun, que formulava teorias em sua mente. Ele sabia que o senhor Kim tinha dois soulmates assim como ele, que os conhecia e não estava com nenhum dos dois. Ele tinha medo de acontecer o mesmo com ele, ontem mesmo ele confirmou que não conseguiria ficar com só um dos dois, tinha que ser os dois ou doeria, como estava doendo naquele momento.

Doyoung e Taeil chegaram na sala abraçados, ganhando atenção dos dois adolescentes e se sentaram nas duas poltronas paralelas, de frente aos meninos, antes de Doyoung falar:

- Primeiro de tudo, eu sei que você tem perguntas meu bebê, mas deixa eu contar minha história primeiro ok?

Jeno assentiu morto de curiosidade, ansioso para saber da história de como havia sido concebido, já que Doyoung nunca tocou no assunto.

- Obrigado filhote. – Doyoung sorriu docemente pro filho que lhe soprou um beijo para incentivá-lo – Bom, pra vocês entenderem tudo, eu preciso falar sobre a minha mãe.

Doyoung estremeceu a só de pensar na mãe e Taeil quase rosnava de lembrar da megera.

- Ela é uma alfa que nunca aceitou ser alma gêmea de uma beta, tanto que nunca dirigiu a palavra á sua soulmate. Ela se casou com uma ômega, que anos depois conheceu sua alma gêmea, um beta, com quem sumiu no mundo. Deixando pra trás sua esposa e seu filho de três anos. Quando minha outra mãe foi embora ela parou de me perfumar com cheiro de alfa e minha mãe descobriu que eu era um beta. Ela só não me deu pra adoção porque sua soulmate ameaçou me adotar, e ela não queria que a beta se aproximasse de nada que era seu...

... Então eu fui criado da pior forma possível, aos 10 anos, eu tinha uma lista enorme de tarefas, se eu não as cumprisse era castigado com varas, cintos, chicotes, ficava sem comer por dias, era obrigado a ficar sem dormir por semanas, e tinha um emprego numa lanchonete para comprar minhas coisas porque ela não gastaria dinheiro com uma classe tão inferior. Foi na lanchonete que eu conheci o Taeil, que era um cliente de lá. – Doyoung sorriu pro mais velho que acariciou suas mãos. – Eu não ia pra escola porque ela dizia que era um desperdício de tempo e dinheiro, mas a beta que é soulmate de minha mãe, me dava aulas durante meu intervalo na lanchonete...

... Quando eu fiz 17 anos, percebi que eu não tinha uma, mas sim duas linhas. Infelizmente nenhuma delas se ligava a de Taeil, meu namorado na época, nós terminamos e dois meses depois eu estava fugindo pra um parquinho na frente de casa pra ficar um tempo longe dela quando assisti uma briga de casal que não via as linhas, mas um queria se manter o relacionamento e o outro queria terminar... – Doyoung sorriu ao lembrar daquele dia e de como queria sair no soco com aqueles dois que estavam fazendo um escândalo no parquinho e quase acordando o quarteirão, ou pior sua mãe. – Eu estava indo eu mesmo calar aqueles idiotas nem que fosse no soco, quando reparei que eles se ligavam sim, e mais do que isso se ligavam á mim...

... Eu simplesmente fiquei sem reação, tudo piorou quando minha mãe acordou e ela me viu na rua depois do toque de recolher, ela só não me bateu na frente deles porque eles não deixaram, me levaram pra casa de um deles e os pais deles confirmaram que eu não tava ficando maluco. Nós decidimos tentar, e foi ótimo. Eles me tiraram da casa da minha mãe, que não fez questão nenhuma, me ajudaram a entrar na escola, e tudo isso eu menos de um ano. Eu conheci os amigos eles, eles conheceram o Taeil, tudo estava lindo, até que eu cheguei em casa mais cedo do serviço e peguei os dois conversando com um de seus amigos, aquele ômega ridículo que era amigo deles disse que achava que eu não era o soulmate deles e eu provavelmente inventei isso pra fugir da minha mãe e o pior de tudo é que eles falaram que fazia sentido, principalmente porque eu não deixava eles me marcarem, eu nunca me senti tão destruído, sabe, eu só queria ter um casamento antes, queria que fosse num momento especial. Então eu fui pra casa do Taeil naquela noite, no outro dia, passei no nosso apartamento no horário de trabalho dos dois, peguei minhas coisas e fui embora, três meses depois eu descobri que estava grávido. Com as nossas economias Taeil e eu compramos esse prédio quando Jeno tinha cinco anos e até hoje eu não vi um sinal dos meus dois soulmates.

- Ainda bem que eu não conheci os amigos dos seus soulmates Dodo, ou eu teria partido a cara desse ômega. – Taeil disse arrancando um sorriso do rosto choroso de Doyoung.

Doyoung estava em lágrimas e Jeno estava visivelmente furioso. Como pudera pensar em conhecer seu outro pai, imaginando a angústia que Doyoung deve ter passado desde o ano novo, vendo as duas linhas no dedo de seu único filho, imaginando se ele passaria ou não pelo mesmo.

Renjun analisava a história em sua mente, tinha se comovido muito com a história do senhor Kim, mas seu lado racional não conseguia se deixar levar.

- Talvez tenha sido uma brincadeira, eles talvez nem saibam que te machucaria tanto. – Renjun comentou, atraindo olhares raivosos dos betas, mais velho e mais novo, enquanto Doyoung negava com a cabeça.

- Ninguém que tenha visto o que minha mãe fazia comigo teria coragem de brincar com isso, e outra, eles se conheciam desde os 8 anos, namoravam desde os 13 eu apareci do nada, fiquei por menos de dois anos, os dois são mais do que suficientes um pro outro.

- Olha, eu não posso falar por eles, mas quando o Jeno saiu correndo ontem, mesmo que o Jaemin tenha ficado do meu lado, eu senti uma dor horrível e ele também, eu nunca seria feliz só com o Jaemin ou só com o Jeno e eu percebi ontem e acho que o Jaemin concorda comigo. – Renjun disse sério.

Jeno arregalou os olhos ao ouvir o chinês, seu peito se alegrou de uma forma como nunca antes.

- Eu entendo criança, mas se eles sentem tanta dor quanto eu sinto, como você fala, porque eles nunca me procuraram assim como você está fazendo?

Doyoung disse com um sorriso sem vida, cortando o coração de Renjun, plantado uma dúvida no de Jeno e fazendo doer o de Taeil, que escondia um amor que nunca seria correspondido.


Notas Finais

Eu tinha percebido que não tinha colocado os cheiros nos personagens mas já corrigi isso.
Os cheiros vão se dividir assim:

alfas: Amadeirados e Especiarias;
betas: Herbais e frescos;
ômegas: Florais e Frutais.

Eu coloquei uma imagem que achei no via aroma que mostra alguns aromas que eu usei e também usei de referência esse site https://www.gosteieagora.com/2012/09/entendendo-perfumes-notas-familias-olfativas/



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