Sobre a autora
Isabela Albuquerque é goiana do pé rachado e pode não parecer, mas tem orgulho disso. Formada em Letras, começou a escrever com 14 anos e, mesmo com hiatus intermináveis entre uma história e outra, jamais deixou de imaginar personagens e cenas em sua cabeça. Prestes a completar 25 anos, idealizou essa coletânea por causa da sua paixão incondicional por história e casais lésbicos fictícios.
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As pessoas olhavam para ela com um misto de surpresa e medo. Era engraçado. Katherine Martin nunca imaginou que as pessoas a veriam daquela forma. Ela gostava disso. Gostava da atenção, do poder que tinha naquele momento. Porque, se alguém por acaso a olhasse de um jeito esquisito, ela poderia apenas enfiar a espingarda em seu rosto e explodir sua cabeça.
Sua companheira, Elizabeth Marston, assoviou para que saíssem da lanchonete. O assalto acabara e fora bem-sucedido. As duas precisavam fugir antes que a polícia chegasse. Extasiada pelo dinheiro que elas tinham, Katherine lascou um beijo apaixonado na boca de Elizabeth ali mesmo. Agora, outra expressão estampava os rostos dos reféns: nojo.
As duas ladras se encararam e riram da reação dos presentes. Elas distribuíram acenos antes de embarcarem em seu Ford Model A vermelho e fugirem de vez de Rowena, Texas. Ainda rindo, Katherine pegou a bolsa com o dinheiro e começou a contá-lo.
— Foi bem ousado o que você fez no final — comentou Elizabeth, olhando de soslaio para a companheira enquanto alcançava a velocidade máxima do carro.
Katherine continuou sorrindo. Ela fitou Elizabeth com desejo.
— Você me deixa ousada — respondeu.
Elizabeth entrou na sua vida por acaso. Ela aparecera de terno na lanchonete que Katherine trabalhava, há cerca de dois meses. Elas tinham muito em comum, apesar das histórias diferentes que contavam. Ao saírem para beber uma noite, Elizabeth revelou que a polícia estava atrás dela por assalto à mão armada. Tinha parado no interior do Kansas para que a poeira baixasse.
Katherine ficou fascinada. Nunca vira uma mulher ladra antes. Sua cidade ainda vivia no final do século XIX e ela não se casara na idade que estava, pois insistia a mãe que não encontrara o pretendente perfeito. Ela perguntou a Elizabeth onde seria sua próxima parada e se queria companhia. A outra mulher aceitou de bom grado a oferta.
O romance veio quase que automaticamente. Katherine via Elizabeth de um jeito único, diferente das outras mulheres. Com uma estatura de dar inveja a qualquer homem, Elizabeth se impunha em toda sala que entrava. Seu cabelo escuro na altura dos ombros vinha de um corte refinado da última vez que estivera em Nova York. Seus olhos amendoados eram o maior motivo de sua empreitada nos crimes ter dado certo. Um olhar era o bastante para que todos caíssem aos seus pés.
Andar ao lado de Elizabeth era intimidante, especialmente para Katherine, nascida e criada em uma cidade pequena. Com avós irlandeses, a mulher possuía cabelos ruivos considerados "amaldiçoados" por grande parte das famílias de onde morava. Ninguém gostava muito dos Martin naquela região. Seus olhos eram pretos, tão escuros que era difícil separar a íris da pupila. Era uma cabeça menor que Katherine, mas não menos ameaçadora durante um assalto.
— Para onde iremos agora? — questionou Katherine. Elizabeth deu de ombros. — Tem uns duzentos dólares aqui — ela continuou, balançando as notas como se fossem um leque. — Dallas está perto...
Katherine pulou no colo da companheira, dando-lhe beijos pelo rosto inteiro. De nada valia o dinheiro que roubavam se não pudessem ter uma noite de descanso. No pouco e intenso tempo que estavam juntas, Katherine entendera que Elizabeth era tímida e não gostava de sair por aí. Apesar da grande distância entre ela e a alta sociedade de Nova York, Elizabeth mantinha alguns costumes que pareciam ridículos em sua atual condição.
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Coletânea Lesbohistórica
RomanceNos últimos meses, várias autoras reuniram para escrever contos situados em diversas épocas e lugares da História. A única exigência: que tivesse um casal lésbico. O resultado você encontra aqui.