Sobre a autora
Nathalia M. vive pela escrita e sonha em ser uma escritora profissional. ainda estudante e mineira, se inspira em grandes escritores, principalmente em Clarice Lispector, sua maior ídola.
___________________
Parte I (Dia Branco)
"Ave María, grátia plena, dóminus tecum"
Seus joelhos estavam colados a madeira gelada, a luminária ao lado de sua cama traçava, em tons de laranja, seu rosto. As mãos estavam unidas, entrelaçadas a um terço vermelho, que tanto representava a forma que vivia, mas não a si mesma.
"Benedícta tu in muliéribus"
Seu cabelo estava solto, era grande o bastante, mas não a incomodava. Ele obtinha a cor do luto, propriamente dizendo, era até mais preto que o mesmo.
Luto pelos desejos mortos, pela situação que se encontrava. Luto pela vida que nem chegou a viver. Não da forma que deveria ser.
"Et benedictus fructus ventrus tui Jessus"
Na verdade, todas suas características representavam o luto.
Desde sua boca desenhada, desde seus olhos estreitos e também pretos, acompanhadas de suas sobrancelhas um tanto grossas. Desde seu nariz totalmente delicado a sua estatura mais baixa que o normal.
Elisa. Esse era o nome da garota que alinhava a perfeição, que era o encontro do luto e da esperança.
Talvez, ela fosse uma pura contradição.
"Sancta María, mater Dei"
Elisa de contradições, de sonhos, dos lutos. Mas, quem era, realmente, Elisa?
Quem sabe era a garota que foi abandonada após seu primeiro choro, deixada nas portas do convento Santo Antônio, quem sabe, a que foi criada por Madre Virgínia com o único intuito de se tornar freira ou ainda, quem sabe, era uma noviça que se sentia deslocada.
Quem era, realmente, Elisa?
Mais um dos mistérios que persiste a vida humana, que nos instiga a buscar seu resultado, mas na verdade ele não precisaria ser buscado, ele já obtinha sua resposta. Ela era, com certeza, a mulher que via o tempo passar na sua frente, mas não o acompanhava, deixava o ir, porquê os limites preenchia a sua existência.
"Ora por Nobis peccatóribus"
E o tempo está constantemente movendo-se, de forma automática e inabalável. Ele não para, nem por mil rezas, nem por um lamento ou por uma urgência.
O tempo não anda em círculos.
Essa era a tormenta de Elisa. Sabia que o tempo tem seu início e seu fim, para cada indivíduo, e ela estava o desperdiçando sendo uma pessoa a qual lhe escolheram para ser. Não queria se tornar uma freira, queria ser apenas ser ela mesma, mas uma coisa que a moça não sabia era de como conter o tempo.
Porque, simplesmente, não é possível. Os humanos tem o falho hábito de querer possuir o irreal, o ilusório e querer combater o impossível.
Como o tempo. Como a morte. Como a paixão. Como a vida. Como o início e o fim. Era impossível combater a veraz Elisa.
"Nunc et in hora mortis nostrae."
Apesar de tudo, ela nunca deixara de rezar. Rezava diversas vezes, para poder ir além dos mares, para poder sentir o vento que te arrastaria mundo afora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coletânea Lesbohistórica
Roman d'amourNos últimos meses, várias autoras reuniram para escrever contos situados em diversas épocas e lugares da História. A única exigência: que tivesse um casal lésbico. O resultado você encontra aqui.