Capítulo 46

398 38 3
                                    

_______ Dimitri Salim

Imensas vezes, senti que a minha existência já não tinha mais sentido, enquanto fui mantido em cativeiro. E de certeza, não encontraria mesmo depois de ter sido resgatado, ao que tudo indica, este é o fim da vida paupérrima que sempre tive, resultado dos maus tratos que passei.

Foi-se a prisão, o sufoco de ser morto a qualquer instante. Os gritos, socos, coronhadas, o susto e tantas outras agressões. A pior das piores experiências, que alguma vez vivi, um sequestro deixa marcas para a vida toda. No final das contas, tive a felicidade de ter sobrevivido.

Enquanto aguardava ansiosamente a chegada dos meus pais e da minha maninha, perguntava a mim mesmo a forma mais leve de dar a notícia, sobre o meu estado debilitado. Ou será que devo guardá-lo até achar ser a hora certa, para eles tomarem conhecimento!

Por um lado, eles me apoiarão incondicionalmente e farão de tudo para achar uma solução do problema que o Gagliasso me causou, ao me injectar aquela maldita droga. E se por acaso nada solucionar, me resta seguir em frente. Apesar de que não será nada fácil, mas, como dizia filósofo alemão Nietzsche "tudo aquilo que não me destrói me fortalece".

***

Depois de sermos submetidos a exames, fomos liberados para ver nossos familiares. Assim que cheguei na sala, uma emoção forte tomou conta de mim, o abraço apertado dos meus pais foi como lavagem de todas as feridas e mágoas, um sentimento puro de amor, saudade e segurança.

Logo que sai de êxtase, questionei a eles o motivo da Sasha não ter vindo, foi nessa hora que vi seus semblantes mudarem da água para o vinho. Ambos se entreolharam de um jeito, e eu conhecia muito bem aquele olhar. Alguma coisa eles escondem, eu preciso saber agora.

— Onde está a minha irmã? Questionei apreensivo.

Aquele silêncio absurdo, depois da minha indagação criou mil pensamentos pessimistas...

— Filho! Infelizmente a sua irmã não está entre nós...

Se deixá-lo terminar, cortei logo a fala do meu pai, minhas lágrimas rolaram na hora...

— Calma filho, acho que você entendeu errado! Disse a minha mãe, querendo me acalmar.

— Então cade ela?

— Em coma, ela sofreu um atentado. Levou três disparos, uma semana depois do seu rapto.

— Eu quero ver ela, por favor me levem até a Sasha. Disse entre lágrimas amargas.

Para o meu infortúnio, os médicos não liberaram a minha saída devido o meu estado físico debilitado. O que mais queria naquele momento, era sair daquela sala e correr até onde ela estava internada. Foram necessários calmantes, para baixar os meus níveis de nervosismo, e me botar num sono profundo.

***

Dois dias se passaram e finalmente recebi autorização para deixar a zona onde estava sob cuidados, ao longo desse período os meus pensamentos recaíram no estado da Sasha. Meus pais me contaram a história toda, fiquei perplexo ao tomar conhecimento das razões para tal ato.

Se o amor for isso, então prefiro não senti-lo. Infelizmente lidar com a rejeição não é algo de ânimo leve, mesmo assim, Elizandra não deveria cometer tal barbaridade, ainda bem que ela está sob jurisdição policial. Desse modo, outros males causados por ela não serão concretizados.

Meus pais voltaram a me abraçar forte, minha mãe não conseguia conter a emoção que a minha volta ocasionava. Eram lágrimas de emoção, de agradecimento a Deus por me manter vivo, bem como a todos que de tudo fizeram para o meu bem sucedido resgate.

Abrir a porta daquele quarto não foi fácil para mim, minhas mãos tremiam na maçaneta, suspirei e com uma certa dificuldade emocional, abria-a. Sasha estava ligada a vários tubos, respirando através de aparelhos. Uma lágrima no canto do olho, carícias em seu rosto, e um sentimento de culpa.

Se eu não fosse ao encontro da Soraia naquela noite, ela estaria fora dessa situação, linda e sorridente como sempre. Por minha causa, Sasha está lutando por sua vida, meus pais sofrem, assim como os nossos familiares próximos e amigos. Mantive a todo tempo, minha mão na sua enquanto acariciava sua pele.

— Se seus ouvidos ainda me ouvem, saiba que estou aqui ao seu lado e não é um sonho. Voltei para casa, estou fora de perigo. Para completar a felicidade dos nossos pais, peço que abras os olhos, sorria para nós. Estamos morrendo de saudades suas, Princesa.

Ditas aquelas palavras, senti um movimento ligeiro das mãos dela, até sentir seu dedo cutucar a palma da minha mão. Gritei feito louco, chamando o Doutor responsável por ela, rapidamente se fez presente e para a alegria de todos. Sasha abriu seus olhos, e quando me avistou seus olhos se encheram de lágrimas.

Minutos depois meus pais apareceram, a felicidade era tanta que não cabia nos nossos peitos, logo a seguir a equipe médica pediu que saíssemos para fazerem seu trabalho. No corredor nos abraçamos novamente, agradecendo a Deus por atender nossos pedidos e ter amparado meus pais no momento mais difícil das suas vidas.

Estimado (a) Leitor (a), dê seu voto⭐

COMER COM PRAZEROnde histórias criam vida. Descubra agora