SEGREDOS: Frágeis.

LEIA, MAS NÃO PERGUNTE.

      Sirenes passam rapidamente pela janela do quarto de Noah de Luca, que estranha a grande movimentação na rua. Ele desce correndo até a porta de casa e, ao sair para fora, consegue ver de longe onde os carros param. Noah é tomado pelo medo ao notar que o corpo de bombeiros, a ambulância e duas viaturas estão parados em frente à casa de seu melhor amigo, Tommaso Mattia.

      Imobilizado no meio fio, Noah avista Liam Conti atravessar a rua rapidamente sem prestar atenção em quem está na frente. Liam acaba escorregando na calçada molhada e grita para Noah, que continua sem entender o que está acontecendo.

      — O Tommaso... — Liam se esforça para controlar sua respiração, mas o desespero é tão grande que seu autocontrole não o ajuda. — é o corpo dele ali. Eu o encontrei!

      Liam está vestindo sua calça de moletom cinza e sua blusa branca — manchada de sangue —, mas Noah não percebe que está manchada.

      Noah não entende muito bem a gravidade do que aconteceu, mas o desespero de Liam é contagioso.

      — Como você sabe? — pergunta, mas não obtém resposta porque Liam só consegue repetir várias vezes que foi ele quem o encontrou jogado na calçada.

      Liam se joga no chão e Noah pula para ajudá-lo, suas mãos sangrentas estão trêmulas e Noah fica confuso por não saber o que falar para tranquilizar o amigo. Sem contar que o barulho de sirenes e as pessoas fofocando em voz alta só confunde mais ainda Noah, que tenta pensar em milhões de coisas.

      Itapecerica da Serra sempre apresenta noites frias no final de novembro, mas hoje parece que está dez graus a menos do que Noah achava que estava.

      — Gente, o que aconteceu? — Marco Ricci pergunta ao se juntar ao grupo, mas Liam não responde. Marco veste seu pijama e seu cabelo louro-cravo está bagunçado.

      — Como posso dizer se eu não entendo? — começa Noah. — Liam tem sangue nas mãos e me falou que é o corpo do Tom bem ali na calçada!

      William Gallo chama a atenção no meio da multidão assim que grita para a Sra. Mattia.

      Noah se levanta, deixando Liam e Marco para trás, ele segue a passos lentos até a primeira viatura. Seu coração bate tão forte que o faz abraçar a si mesmo para se acalmar, o que não adianta muito. Cada passo é um suspiro pedindo para que não seja nada tão grave, mesmo que tudo já esteja dizendo o contrário.

      Noah analisa a cena segundos antes de chegar próximo ao local.

      A janela do quarto de Tommaso está quebrada e toda a casa permanece com as luzes desligadas, menos a escada da frente.

      Noah chega à segunda viatura, que corta metade da rua, e chama um policial para conversar.

      — Ele se matou? — Noah pergunta, mas o homem, que anota algo em sua caderneta, não fala nada.

      Ao perceber que Noah não vai sair dali, o policial levanta a cabeça e o olha seriamente. — Sim.

      Noah respira uma vez, olha novamente para a janela. Respira de novo, olha para a ambulância. Respira controlando o choro, olha para o corpo.

      Sem acreditar no que acabou de ouvir, ele corre às presas para o corpo de seu amigo que está jogado, com as costas virada para cima. Seu rosto encontra-se machucado por causa do impacto e há muito sangue em volta do corpo. O que é estranho, porque ele aparenta ter machucado apenas o rosto.

      O corpo de Tommaso deveria estar ali há algumas horas, por causa do fedor forte.

      — Meu Deus! Quem fez isso com ele? — grita Noah, olhando para cada pessoa que o assiste.