SEGREDOS: Frágeis.

ME DESVENDA.

      Quinta-feira, faltam dois dias para a festa Holiday. Sra. Luca se manteve ocupada depois do que aconteceu na delegacia, e Sr. Luca não trocou uma só frase com Noah, embora ele não tenha facilitado nem um pouco, por sentir que não é a hora de voltar a conversar com pai, depois de tudo que aconteceu. Seu peito dói por ver que ele está agindo da pior forma possível, visto que eles nunca tinham ficado tanto tempo sem conversar como agora.

      Esses dias não foram tão ruins quanto parece, porque Noah esteve longe de seu celular a todo momento e isso abafou um pouco a pressão que estava tendo em relação às mensagens que andava recebendo.

      Ele começou a ler O Morro dos Ventos Uivantes, como antes quando se alimentava de seus livros junto com Tommaso durante as férias escolares.

      — Vamos apostar quem consegue ler dois livros em um mês? — Tommaso brincou com a latinha de Coca-Cola quase vazia. 

      — Quais livros? — Noah respondeu, enquanto observava as nuvens se espalhar vagarosamente pelo céu.

      Era o último dia de junho de 2017, o calor estava dominando naquela tarde. Noah e Tommaso chegaram da escola e foram para a piscina do condomínio, como tinha virado rotina naquele mês.

      — Vamos ler O Morro dos Ventos Uivantes e... — Tommaso pensou mais um pouco, enquanto Noah ainda se distraía com os desenhos que as nuvens se formavam. — A Culpa É das Estrelas.

      Noah tirou seu Ray-ban de armação preta e lentes verdes e encarou Tommaso com curiosidade, um pouco incrédulo por causa dos livros que ele tinha escolhido.

      — O que foi? — Tommaso questionou sorrindo um pouco.

      — Você está romântico, ou quer ficar, não é possível! — Noah indagou retribuindo com um sorriso largo.

      — Já tenho você, não preciso de mais nada. — Tommaso respondeu antes de colocar o canudo entre os lábios e tomar o último gole do refrigerante.

      Noah respirou fundo e voltou a encarar o céu ensolarado. Tommaso o observava colocar os óculos de volta e ficou pensando no que tinha acabado de falar.

      Os dois caíram em silêncio profundo. Tommaso observava algumas pessoas brincarem entre si na piscina e Noah pensava o quão queria que aquela frase fosse verdade. Ele não tinha ciência do que acontecia quando ouvia Tommaso se declarar — mesmo que brincando —, mas ele queria ouvir várias e várias vezes ao dia.

      Claro que ler O Morro dos Ventos Uivantes mexe com a cabeça de Noah, ainda mais agora que Tommaso não está mais aqui; mas ultimamente Noah se sente sádico, e reviver lembranças e hábitos que tinha com Tommaso se tornou prazeroso.

      Noah quer poder ligar para William, Marco e Liam, mas seu celular está confiscado. E ele não está preparado para ver os meninos e ter que explicar o que lhe deu na cabeça para sair e beijar Erik Pacheco. . Então talvez seja melhor esperar a poeira diminuir para tentar conversar com eles.

      O quarto de Noah está uma bagunça; as peças de roupas que ele usou para ir à delegacia estão jogadas atrás da porta, no canto da parede; no pé da cama tem um pacote de bolacha vazio e uma garrafa de suco de laranja, que ele pegou de madrugada enquanto todos dormiam; e na mesa que estava o notebook, agora está cheia de livros que ele já leu, mas não guardou.

      Depois que Tommaso morreu, tudo que antes não o incomodava passou a ser extremamente assustador, como receber mensagens, ligações, ouvir algum graveto estourar na calada da noite, ouvir os latidos raivosos dos cachorros e ouvir a campainha tocar. Não que Noah esteja pensando apenas em coisas ruins, mas de uns dias para cá sua vida virou um mar de má sorte.