O VIZINHO
Por ser o filho caçula de três filhos. Meus irmãos muito mais velhos nunca brincaram comigo. Morávamos em uma aldeia em Portugal, onde todos se conheciam e as crianças tinham a liberdade de brincar na rua sem perigo algum.
Lembro-me de quando nos mudamos para esse lugar, eu tinha 14 anos de idade, foi necessário, pois, mamãe precisava cuidar de minha tia que estava muito doente, pra mim seria bom, pois teria meus primos para brincarmos nos períodos que não estávamos na escola ou nas aulas de artes marciais.
Entre os primos eu não era o mais novo, então já era mais respeitado pelos mais novos e os mais velhos me defendiam sempre que alguém queria me provocar. Fui uma criança meiga e muito sensível ao mundo. Tinha traços finos, uma postura diferente dos demais meninos da rua. Tinha mais afinidade com as meninas, mas, amava estar entre os meninos, mesmo sem saber jogar futebol, arriscava jogar, para poder trombar neles.
Em 1989, completei meus 15 anos, Dona Madalena, mamãe, fez um lanche da tarde no quintal de casa para comemorar os meus cumpleaños. Todos reunidos, vizinhos e familiares, um carro chamou minha atenção na rua, era uma família diferente que se mudava ao lado de nossa casa, logo pensei, tomara que não tenham crianças birrentas, porque nunca gostei do choro de criança, gritos então, nem se fala. Correu tudo como planejado por minha mãe, tirando o fato do Tio Bartolomeu querer beber vinho e atacar a adega de meu pai, quase que deram início a III guerra mundial, por conta de algumas garrafas de vinho velhas, que nem sei por que papai guardava com tanto apreço. Com toda a confusão do meu tio, minha mãe decide acabar com a festividade, convidando todos a ir ver o por do sol no alto da colina.
Eu estava tão ansioso para voltar logo para casa, queria abrir meus presentes, foram poucos, mas queria saber o que havia ganhado.
Chegamos, todos fomos tomar banho para jantar, enquanto minha mãe arrumava a janta e conversava com meu pai, sobre o meu futuro, para onde me mandariam para estudar que profissão eu teria. Eles conversavam de forma descontraída e alta, que do meu banheiro podia ouvir tudo. Eu ali tão novo e não tinha pensado em nada disso para minha vida. Só queria saber dos meus presentes.
Ao sair do banho, só me enrolei na toalha, pensando que poderia ter alguma roupa entre os presentes e logo iria experimentar. Assim fiz, fui abrindo os presentes e eram risadas e gritos de felicidade a cada embrulho rasgado, ganhei a trilogia do Senhor dos Anéis (1954), meus primos sabiam que eu era fascinado em livros. A Tia Mercedes me deu um cachecol vermelho que ela mesma fez, junto havia um bilhete que dizia o seguinte:
"Para o meu menino branco feito a neve e mais doce que maçã do amor. Fiz esse cachecol, porque sei que não tens nesta cor e completaria assim a sua coleção de adornos para o pescoço. Beijos da sua tia Mercedes!".
Continuei a abrir os presentes e tive a sensação de ser observado, desde o momento que sai do banheiro, como sabia que estava sozinho em meu quarto não liguei. Até que ouvi o melhor grito de todos os dias "Thony, a janta esta na mesa, estamos esperando por você". Era minha mãe anunciando para a vizinhança toda que estávamos indo jantar naquele momento. Foi quando peguei uma zorba branca, enquanto vestia, ergui minha cabeça e pude observar que o novo vizinho estava na janela de seu quarto olhando para nossa casa, não pude disfarçar o meu olhar para aquele rapaz e ele também não disfarçou, e começou a me encarar, terminei de me vestir, com minha mãe gritando que a comida estava esfriando e já estavam todos à mesa.
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THONNYANDO
ContoAs aventuras, a cada rapaz que conheci teve um Thonny diferente. Thonny sou eu, para pessoas que não conseguem falar meu nome inteiro. Fica aqui o convite a ler os Thonnys que diferem em minha vida. Serão 100 contos, que mais marcaram os meus anos...