Capítulo II

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SARA

Depois de sair da casa da Alice e me acalmar um pouco, parei em uma lanchonete para comprar alguma coisa para a Jass comer. Olhando para minha pequena comecei a lembrar como eu era quando ela nasceu, cinco anos atrás, uma risada sem humor escapa dos meus lábios ao perceber a mudança de 180 graus. Naquele tempo eu não importava com nada além de viver a minha vida ao máximo, um dia de cada vez. Minha irmã e meu cunhado eram os únicos que me aturavam, minha única família depois de ser colocada de lado por os meus pais.

Clara era 3 anos mais velha que eu e se casou com o Juan logo depois de se formar em administração, os dois eram realmente apaixonados um pelo outro e Clara não se importou com a hostilidade que nossos pais receberam o Juan, só por ser filho de imigrantes mexicanos, mesmo ele sendo um dos caras mais inteligentes que eu já conheci. Eu não me surpreendi ao ver meus pais se comportando daquela maneira, já que quando eu completei 18 anos e finalmente decidi contar a eles que era gay. Nunca vou me esquecer da cara da minha mãe e o nojo na cara do meu pai. Eles não tocaram no assunto novamente depois daquele dia, me tratando como sempre, sem dar importância, como se eu fosse um nada. Se eu não tivesse herdado os cabelos ruivos do meu pai e os olhos negros da minha avó por parte de mãe, pensaria que fosse uma criança adotada que ninguém levaria a sério ou realmente iriam se importar. Um mês depois do dia que eu falei que era lésbica para os meus pais fui aceita na Universidade Estadual de Cleveland, em Ohio, o que era o mais longe que eu poderia estar da cidade que eu nasci em Dakota do Sul. Mas junto com a alegria de ser livre dos meus ­­– preconceituosos, mente fechada, minions da igreja local – pais, eu estava deixando minha irmã, a única que me amou incondicionalmente desde o começo, para trás.

Clara ficou ao meu lado quando estava confusa demais para entender o porquê fotos com mulheres usando biquinis era bem mais atraente que os garotos dos filmes que vivíamos assistindo. Eu sabia que era errado quando meus olhos sempre seguiam as meninas no ensino médio na escola ou tinha um crush enorme na Angelina Jolie em vez do Brad Pitt. Tudo que eu sentia era errado, porque era isso que meus pais diziam, mas mesmo assim eu queria saber mais e entender o que estava acontecendo comigo, já que mesmo aos 13 anos não conseguia ser uma seguidora fiel que acreditava em tudo que o pastor Ross dizia no domingo. Então quando a Clara me pegou assistindo duas meninas se beijando, tão concentrada, que não a escutei entrando no quarto, ela me escutou e me amou do mesmo jeito quando perguntou se eu queria conversar sobre aquilo, eu só concordei com a cabeça e falei baixinho, "acho que sou lésbica".

Então ao receber a carta que eu fui aceita na universidade, ela foi a primeira pessoa para quem eu liguei e dei a notícia, Clara não poderia ter ficado mais alegre e orgulhosa da minha conquista. E mesmo ela amando nossos pais e ter escolhido estudar na uni mais perto da nossa cidade, ela entendeu a minha vontade de ser livre e ter a minha própria vida.

"Sara, sei o que está pensado, estão pode ir parado," ela falou, poderia sentir o carinho mesmo estando tão longe "você conseguiu o que queria, Red Bird. Você pode voar e ser livre agora, para de se importar comigo, eu estou bem."

Red Bird. Pássaro Vermelho. Ela sempre me chamou daquele jeito.

Depois de conversar com a Clara, falei para os meus pais que iria estudar em Ohio, e posso ter fingido não ter visto o alivio no rosto dos dois naquela hora, mas mesmo sabendo que eles não se importam comigo, ainda doía um pouco. Poderia tentar me iludir que eles iriam me ver do mesmo jeito que a minha irmã me via, mas nada iria mudar, então arrumei minhas coisas e fui para Cleveland sem olhar para trás.

Lá na universidade eu me descobrir, vivendo como sempre quis, usando as roupas que sempre desejei. Namorei, amei quem não devia, fiquei com o coração partido. Fiz amizades que me lembraria para o resto da vida. Bebi demais e acordei com uma tattoo nova. Estudei, trabalhei, e conseguir as minhas coisas aos poucos. O tempo todo meus pais não ligaram para mim uma única vez, como se eu nunca tivesse existido, mas eu nunca, nunca me esqueci da Clara, conversávamos quase todos os dias. Ela reclamou do novo aluno que ajudava o seu professor todos os dias, dizendo como ele era arrogante e antipático, e depois me contou como eles ficaram bêbados e trocaram amassos. Clara me contou tudo ao decorrer dos meses que eles começaram algo, se magoaram e voltaram de novo. Eu conhecia minha irmã o bastante para saber que o Juan era o príncipe encantado que ela estava esperando. E não fiquei surpresa quando os dois disseram que iriam se casar. O que me deixou mesmo surpresa foi quando Clara bateu os pés e se recusou ficar escutando os merdas que nossos pais disseram a respeito do casamento.

Midnight - A New Species FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora