Muitas das vezes em que decido sair à noite, arrependo-me no dia a seguir. Aulas de manhã, estágio à tarde. Todo o meu corpo pede descanso. Acho que o meu cansaço psicológico supera o físico. O facto de ontem ter voltado a ceder às vontades do Rúben deixou-me confusa e confesso que um pouco desiludida comigo mesma.
Levo a taça de cereais que acabara de preparar e dirijo-me para a sala, sentando-me no sofá. O som do meu telemóvel faz-se ouvir e depois de ver que se tratava de uma chamada da minha mãe, rapidamente atendo a mesma.
- Olá, mãe...
- Então filha? Como é que estás?
- Cansada... hoje foi um dia complicado. E tu?
- Está tudo bem, querida... bom, liguei-te para saber se amanhã vens almoçar comigo e com o teu pai. Já temos saudades tuas!
Não consigo deixar de sorrir com o seu convite. Apesar do divórcio, os meus pais continuam a dar-se muito bem um com o outro e confesso que dou por mim a acreditar que eles são muito mais felizes como amigos do que como marido e mulher.
- Claro que sim. Amanhã só tenho o estágio na clínica à tarde, por isso não há problema.
- Ainda bem. Vou fazer o arroz de marisco que tu tanto adoras e quem sabe, faço também um bolo de chocolate!
- Estou a ver que vou sair daí a rebolar!- Profiro, fazendo a mais velha gargalhar.
A conversa com a minha mãe durou breves minutos e assim que desliguei a chamada, voltei a concentrar-me nos meus cereais e na série que estava a ser transmitida na televisão.
Pouco tempo se passou até que o som da campainha interrompe o silêncio que reinava em casa. Deixo escapar um suspiro e levanto-me do sofá, indo abrir a porta de seguida. Assim que o faço, emito uma leve risada ao ver André com uma caixa de pizza na mão.
- Acho que se enganou na morada... não encomendei pizza nenhuma.- Falo, provocando uma gargalhada em ambos.
- Quem dera a muitas ter um entregador de pizzas como eu!- Reviro os olhos e o jogador exibe um sorriso convencido.
Entramos em minha casa e depois de preparar tudo para este jantar inesperado, decidimos que um filme seria o melhor acompanhamento para a típica combinação de pizza e Coca-colla.
- Então... como é que estão a correr os treinos? Esta fase final do campeonato não está a ser fácil, pois não?
- Não... mas também não é nada que já não esteja habituado. Com o tempo, vamos sabendo lidar com a pressão. E, sinceramente, estou convicto de que vamos sair vencedores.- Sorrio ao ver o sorriso orgulhoso estampado no rosto de André e deito a minha cabeça no seu ombro, ao mesmo tempo que abraço o seu peito.
- Sabes que eu tenho muito orgulho em ti, não sabes? E ganhes ou não, para mim vais ser sempre vencedor.
Levanto o meu rosto e sorrio ao encarar Almeida que se encontra com os seus lábios curvados num sorriso carinhoso.
- Sabes... ontem à noite, enquanto dançavas comigo, lembrei-me do dia do teu aniversário há cerca de cinco anos... nós estávamos completamente loucos nesse dia.- Ambos gargalhamos, no entanto, não pude deixar de me sentir um pouco embaraçada devido à lembrança do André.
- Porque é que te lembraste disso ontem?- Questiono.
- Não sei... quer dizer... um homem não é de ferro e ver-te a dançar... agarrada a mim...
- Ok... lembra-me para nunca mais beber álcool sempre que estivermos juntos.- Digo, tentando não demonstrar o desconforto que tal conversa me causava.
Novamente, a campainha dá sinais da sua existência e agradeço mentalmente por isso. Esta conversa estava a tomar um rumo demasiado estranho.
- Quem será a esta hora?- Questiona e André encolhe os ombros.- Não estou à espera de ninguém.
- Eu vou lá.- O jogador da equipa encarnada profere e levanta-se do sofá, caminhando em passo apressado até à porta.
Segundos mais tarde, o meu coração praticamente pára ao ouvir André falar.
- Rúben?!
Fecho os olhos por breves instantes, ainda sem acreditar no que acabara de acontecer. Respiro fundo e tento arranjar a coragem que necessito para enfrentar o que está para vir. Eu já devia estar à espera deste momento.
- Que merda é esta? O que é que estás aqui a fazer?- A voz do André volta a soar como um autêntico murro no estômago. Saio da sala e encaminho-me, com as pernas a tremer, para a porta. Assim que me aproximo dos rapazes, ambos direcionam o seu olhar para mim.- Vitória, o que é que se passa aqui?
- André, deixa-nos explicar.- Rúben interfere e engulo em seco.- Eu e a Vitória...
- Tu e a Vitória o quê? Andam enrolados um com o outro, não é?- Tanto eu como Rúben permanecemos em silêncio.- O vosso silêncio diz tudo... Eu já devia ter percebido... vocês ficavam muito estranhos quando se encontravam... e a Mariana, Rúben? Tu traíste a miúda?- Dias baixa o rosto e André ri ironicamente.- E tu, Vitória? Como é que tu foste capaz de te envolveres com um rapaz comprometido?!
O olhar desiludido com que André nos encarava era de cortar a respiração.
- André, vamos conversar...- Peço, com a voz trémula.
- Conversar sobre o quê? Sobre o facto de terem feito de mim estúpido durante não sei quanto tempo?! Poupa-me, Vitória! Pensei que confiavas mais em mim... e tu, Rúben... foste um covarde! Com duas ao mesmo tempo? Gostas de iludir as miúdas, é?
- Não é nada disso! Eu gosto mesmo da Vitória! Estou apaixonado por ela!- Desta vez, a angústia deu lugar à ansiedade. Ouvir estas palavras da boca de Rúben foi um misto de emoções.
- Vai à merda, Rúben!- André atira de forma fria e rude e sem nos dar tempo de dizer o que quer que seja, sai de minha casa, batendo a porta com violência.
- Isto não podia ter acontecido...- Falo, com as lágrimas a invadirem os meus olhos.
Espero que tenham gostado!
Este capítulo foi intenso... e o próximo vai trazer uma revelação especial! 🙊
Até lá!
Beijinhos ❤
