19.

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Saio do meu quarto e dirijo-me até à sala, onde encontro Rúben (ainda) a dormir profundamente. Sinceramente, pela quantidade de álcool que ele deve ter ingerido, não deve acordar tão cedo. Sento-me no sofá e dou por mim a observar cada detalhe seu.  Estou tão apaixonada por ele que chega a magoar. Amar alguém pode doer. E muito.

- O que é que se passou connosco?- Pergunto, num sussurro, mesmo sabendo que não irei obter qualquer resposta. Durante esta noite, fiz-me esta pergunta a mim mesma por diversas vezes. Quando decidimos dar uma oportunidade àquilo que sentíamos um pelo outro, eis que a vida nos volta a colocar mais um obstáculo a separar-nos. Começo a acreditar que não fomos feitos para estarmos juntos. O presente insiste em mostrar-nos que não existe qualquer futuro para mim e para o Rúben.

O som do meu telemóvel faz-se ouvir e desperta-me dos meus pensamentos. Estranhei ao ver o número da clínica onde estou a estagiar, mas fui rápida a atender a chamada.

- Bom dia, Vitória. É o Nuno, o teu orientador de estágio.

- Bom dia Nuno. Está tudo bem? Passa-se alguma coisa?

- Bom... desculpa estar a ligar a esta hora, ainda para mais a um domingo, mas é importante.

- Não faz mal. Mas o que é que se passa? Fiz algo de errado no estágio?

- Não... muito pelo contrário. A nossa clínica tem um protocolo com uma clínica de fisioterapia em Inglaterra. E essa clínica inglesa está a recrutar jovens fisioterapeutas para um estágio e uma especialização em medicina desportiva. Esse estágio irá ocorrer num clube de futebol da liga inglesa. Tudo isto para te dizer que tu foste a pessoa escolhida para participar neste estágio.

- Inglaterra?- A minha mente encontrava-se com sérias dificuldades em assimilar o que me havia sido dito. Eu devia estar feliz e orgulhosa por ter sido a pessoa indicada para participar numa experiência tão enriquecedora como esta. No entanto, sinto-me incapaz de ter qualquer reação. Olho para Rúben, deitado ao meu lado, e tento encontrar alguma certeza neste monte de dúvidas em que me encontro.- Eu não sei, Nuno... é uma mudança muito grande...

- Eu compreendo, mas é uma oportunidade única... pensa bem, Vitória. És apaixonada pela fisioterapia e este estágio é, sem dúvida, a tua cara.

- Eu sei... mas é complicado. Até quando é que tenho de dar uma resposta?

- Eles querem uma resposta uma mais rápido possível... portanto, o mais tardar, até amanhã.

- Sendo assim, amanhã ligo-lhe e dou-lhe a minha resposta, combinado?

- Combinado. Amanhã conversamos. Mas não te esqueças, Vitória... é uma oportunidade imperdível e tu ainda és jovem... tens tudo para arriscar e viver esta nova experiência.

- Eu sei... Obrigada pela oportunidade.

Termino a chamada e respiro fundo. Sinto-me completamente perdida. Se por um lado, tenho a consciência de que não posso perder esta oportunidade por nada, por outro lado estou cheia se medos e inseguranças. Vou para Inglaterra e deixo tudo para trás... incluindo o Rúben. É isso que mais me custa, mesmo que lá no fundo eu saiba que o nós já não existe. Que aquilo que nos separa é muito mais forte do que aquilo que nos une. Sempre foi.
No entanto, não o consigo admitir. E ir para Inglaterra é deixar o Rúben ir embora. É desistir dele. Desistir de nós.

O corpo do jogador começa a mexer-se e observo cada movimento de Dias. O moreno esfrega os olhos, numa tentativa de se habituar à luz natural que adentra a divisão.

- Foda-se... que dor de cabeça.- Ele resmunga, ainda a tentar conseguir manter os olhos abertos.

- É normal... apanhaste uma bebedeira daquelas...- Assim que ouve a minha voz, o jogador da equipa campeã nacional olha em seu redor e deixa escapar um suspiro.

- Dormi aqui?- Ele questiona e assinto, abanando a cabeça em sinal de afirmação.- Desculpa... como deve ter dado para reparar, eu não estava nas melhores condições.

- Não faz mal.- Afirmo e levanto-me do sofá. Encaro Rúben que repete o meu gesto. Tinha a sensação que estávamos a agir como dois estranhos. Não sabíamos o que dizer nem como agir perante o outro.

Rúben veste o seu casaco e guarda a sua carteira e o telemóvel que estavam colocados em cima de uma pequena mesa junto ao sofá, guardando os seus pertences nos bolsos do mesmo.

- Vou embora.- Ele profere e engulo em seco.- Mais uma vez, desculpa qualquer coisa.

- Rúben, espera.- Peço, agarrando no seu pulso.- Vamos falar. Estamos a agir como dois desconhecidos e isso não faz sentido nenhum...

- Vitória, o que não faz sentido é insistir em algo que só nos traz desilusões... eu amo-te, a sério que amo... mas a verdade é que a cada dia que passa nos magoamos mais um bocadinho. Eu sei que fiz muita porcaria em relação à minha situação com a Mariana, mas nós éramos muito mais felizes quando éramos apenas nós. Quando ninguém entrava no nosso mundo. E isso é impossível de negar. Assim que decidimos assumir algo, tudo começou a correr mal. Perdi um dos meus melhores amigos, e descobri que esse meu amigo é apaixonado por ti. E, sinceramente, sinto que te estou a perder cada dia mais.

O meu coração está mais apertado do que nunca. Tenho uma angústia enorme dentro de mim. No entanto, Rúben dissera a verdade. E a verdade, por mais cruel que seja, tem de ser dita. Infelizmente, não podíamos viver para sempre naquele mundo que nos protegia das confusões que nos esperavam. Estávamos a destruir-nos um ao outro e insistimos em não querer ver isso. Os medos, as inseguranças e a falta de confiança tornaram a nossa relação uma angústia. O amor não é, definitivamente, o suficiente.

- Tens razão.- Profiro, com a voz trémula.- É doloroso saber que não te fiz feliz, Rúben... mas acredita que tentei. Tentei lutar por ti e lutar por nós... mas... pelos vistos, não consegui.

- Nenhum de nós conseguiu.- Ele afirma. O brilho anormal nos seus olhos fez-me perder o total controlo sobre as minhas emoções.- Vitória, tudo o que eu mais quero é que sejas feliz. Tu mereces mais do que ninguém. E, por favor, nunca aceites menos do que aquilo que mereces. És uma miúda incrível e tens de ter alguém que te dê muito mais do que uma relação cheia de problemas e discussões.

Seguiram-se longos e dolorosos momentos de silêncio. Ambos sabíamos qual a decisão a tomar. Ambos sabíamos. Mas nenhum de nós a queria dizer.

- É o fim?- A minha pergunta saiu num sussurro e já algumas lágrimas insistiam em cair. Não queria ouvir a resposta. Já sabia qual era.

- É o fim.- Dias repete as minhas palavras.- Os meus pais sempre me disseram que o amor não se mede pelo tempo, mas pela intensidade. E nós somos a prova disso.

Beeem... inspiração noturna dá nestas coisas 😶 Ainda assim, espero que tenham gostado!

Faltam apenas dois capítulos para o final desta obra... preparadas para as emoções finais? (Digo-vos já que eu não estou!!!)

Até ao próximo capítulo!
Beijinhos

(P.S.: Tenho uma nova história com o Samaris. Chama-se 'Luz' e, se ainda não leram o primeiro capítulo, vão lá dar uma espreitadela ❤)

HOJE ||Rúben Dias|| ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora