- Antes de mais, eu quero pedir-te desculpa pela forma como falei e pela maneira como saí daqui, ontem à noite. Sei que fui demasiado bruto contigo, mas eu estava de cabeça perdida...- Engulo em seco ao notar a tensão e seriedade na sua voz e olhar.
- É normal... eu compreendo. Eu também errei quando te menti. Desculpa, André... eu não sabia como te contar o que se estava a passar, mas não queria, de maneira nenhuma, magoar-te ou fragilizar desta forma a nossa amizade.
- É verdade que eu fiquei desiludido contigo por não teres confiado em mim e não me teres contado nada... sempre falamos de tudo um com o outro e agora aparece o Rúben e tu mudas completamente a tua postura...
- Eu não mudei a minha postura, André. Eu apaixonei-me pelo Rúben e, como qualquer pessoa apaixonada, quis fazer tudo para poder tê-lo ao meu lado... tentei afastar-me dele por diversas vezes, mas não consegui.
- Não mudaste a tua postura? A Vitória que eu conhecia nunca seria capaz de alinhar numa traição. Põe-te no lugar da Mariana... e vê se percebes o quão egoístas vocês foram.
- Olha André, se vieste aqui para me atirares esse tipo de coisas à cara, é melhor ires embora. Desculpa, mas eu pensei que estavas disposto a resolver os nossos problemas e voltarmos a ser o que éramos. Eu sei que errei, mas não preciso que digas isso constantemente.
Sinto-me a desmoronar por dentro ver a frieza que, neste momento, caracteriza a minha relação com o André. Ele é das pessoas mais importantes da minha vida e agora estou prestes a perdê-lo.
- Fiquei desiludido contigo, sim. Mas, acima de tudo, fiquei completamente desnorteado quando percebi que te tinha perdido... e eu fui um estúpido por não ter percebido isso mais cedo.
- Mas tu não me perdeste, André! Eu continuo a ser a tua amiga de sempre... continuo a ser a irmã mais nova que dizias ter. E acredita que a minha maior alegria era ter o teu apoio...
- Tu não estás a perceber...- André solta um suspiro pesado e levanta-se do sofá, virando-me as costas por breves instantes. Levanto-me também e vou até ao jogador.
- André.- Profiro o seu nome, com a voz algo trémula e o jogador, segundos mais tarde, encara-me.
- Até seria capaz de ultrapassar o facto de me teres escondido a tua relação com o Rúben... não sou capaz é de suportar o facto a rapariga por quem eu estou apaixonado estar, neste momento, com outro gajo.
Ficamos em silêncio. Durante instantes que pareciam intermináveis. Tentava assimilar o que acabara de ouvir e dava por mim a duvidar se, realmente, estaria a perceber o que André dissera.
- Apaixonado? André... o que é que queres dizer com isso?
- Não é muito difícil de perceber. Eu gosto de ti, Vitória. Estou apaixonado por ti.
Não sou capaz de proferir uma única palavra. Como é que eu deixei que isto fosse acontecer? Como é que eu permiti que o André, que é um como um irmão, se apaixonasse por mim?
- Não pode ser André... nós somos amigos desde que éramos crianças. Tu és como um irmão mais velho para mim!
- Mas nós não somos irmãos! E gosto de ti, porra! Vitória, se bem te lembras, nós já nos envolvemos há uns anos atrás e a partir daí, passei a olhar para ti de outra forma... passei a olhar para ti como uma mulher e não como a menina que era minha amiga em criança. Há uns dias, quando saímos à noite, tu voltaste a deixar-me completamente atordoado... estavas a dançar praticamente colada a mim e foi por pouco que não nos beijamos. Esse beijo que eu já ando a desejar há tanto tempo...
- Chega, André! Tu não podes gostar de mim! Desculpa se te dei falsas esperanças, mas eu nunca pensei que isto fosse acontecer... André, tu és o meu melhor amigo... e eu preciso de ti na minha vida. Por favor, não me obrigues a afastar-me de ti... Além disso, tu e o Rúben são amigos e colegas de equipa... pensa nisso. Vocês têm uma amizade incrível que não merece acabar por causa de uma mera confusão de sentimentos.
- Eu não quero que a amizade entre mim e o Rúben acabe... mas também não vou deixar de lutar por aquilo em que acredito. E o que eu sinto por ti não é uma mera confusão de sentimentos.
André dá alguns passos até mim e, em poucos segundo, dou por nós a escassos milímetros de distância. O jogador acaricia o meu rosto e a ansiedade dentro de mim cresce cada vez mais.
- André, pára...- Peço, num sussurro.
- Diz-me que não tenho qualquer hipótese contigo e eu paro.- Almeida profere e quando estaria prestes a responder, ouço o som da chave a dar entrada na fechadura da porta de minha casa e, aí, lembro-me de que sugeri ao Rúben que levasse as minhas chaves para que não tivesse de tocar à campainha.
Rapidamente me afasto do André e segundos depois, Rúben entra em casa. Assim que o central da equipa encarnada chega à sala e se depara comigo e com o André, a sua expressão é de clara surpresa.
- André?- Dias profere e baixo o meu rosto, talvez devido à falta de coragem de encarar ambos.
- Vim apenas falar com a Vitória. Já estava de saída.- Almeida responde e sinto o seu olhar em mim.
- Nós também precisamos de falar, meu.- Dias fala, colocando as coisas que trouxe para o pequeno-almoço no chão.
- Eu também acho que vocês deviam falar. Vou para o quarto e deixo-vos sozinhos.- Sou rápida a sair da sala e dirijo-me para o meu quarto em passos apressados.
Assim que me encontro na divisão, sento-me na minha cama e deixo escapar um longo suspiro. Como é que eu não percebi que as coisas estavam a chegar a este ponto? O André está apaixonado por mim e eu estou completamente rendida ao Rúben.
Espero que tenham gostado!
As coisas não estão nada famosas para o lado da Vitória... 🙈
Até ao próximo capítulo!
Beijinhos!