NEW YORK, 14 DE MAIO DE 1988

228 26 7
                                    

Valerik, digo, Lauren revirou os olhos ao encontrar mais um erro no relatório que um dos assistentes de Howard havia feito. Em um primeiro momento ela havia ficado um tanto irritada pelo homem lhe colocar logo naquela tarefa, mas entendeu o motivo já nas primeiras páginas lidas: eram erros tão bobos e discretos de cálculos e suposições que talvez um olhar menos atento que o seu deixasse passar batido, acreditando estar tudo certo. Howard já conhecia e confiava em seu perfeccionismo, mas isso não tornava aquela tarefa mais prazerosa. E ela percebeu que ficaria mais impossível ainda terminar seu trabalho quando notou o filho do chefe entrando no andar, seu sorriso convencido no rosto idiota ao cumprimentar alguns conhecidos enquanto seguia reto. Um desavisado poderia esperar que ele rumasse para a sala do pai – e ele até concordaria com aquilo, caso fosse questionado –, mas Valerik sabia qual era seu real destino.

- Te atrapalho? – murmurou ele contra seu ouvido, depois de dar a volta em sua bancada, apoiando as mãos na madeira polida. Valerik fingiu ter se assustado com a aproximação "repentina" do garoto, apenas para ele poder soltar sua risada satisfeita de uma vez.

O pirralho Stark não era a melhor fonte de informações que poderia ter ali, mas vai que de repente um dia fosse precisar de seu auxílio? Sem contar que, embora sempre dissesse que não queria o filho perto de sua estagiária, atrapalhando-a em suas funções, Howard tinha um pouco de esperança de que ela acabasse lhe servindo de bom exemplo, já que a idade de ambos era próxima – bom, pelo menos era nisso que ele acreditava, já que os documentos de Lauren Smith diziam que ela tinha vinte anos, não seus quase trinta. Talvez fosse o soro em suas veias, o fato era que seu envelhecimento era bem mais lento que o considerado normal, e ela se aproveitaria disso enquanto pudesse.

- Tony, eu posso até estar desocupada que você sempre me atrapalha – resmungou ela irritada, afastando o garoto com um movimento de ombros, fingindo voltar para sua leitura.

- Amável, como sempre – comentou Tony cínico, afastando alguns papeis da beirada da mesa para se sentar, sob o olhar nada animado da mulher.

- O que você está fazendo aqui? Não deveria estar em aula ou algo do tipo?

- Já estou de férias – contou ele, tentando dar uma espiada no que ela trabalhava enquanto tomava um gole do que quer que tinha na caneca na mesa, fazendo uma careta em seguida. Primeiro que não era nada alcóolico, segundo que estava mais frio do que o coração da garota ao seu lado. Se aquilo fosse mesmo o que ele julgava ser café, deveria estar quente como a pele macia dela – Não é como se faculdade fosse um desafio para mim.

- Não é como se você fosse para lá para realmente estudar, não é? – alfinetou Valerik, quase sorrindo ao ouvir a risada surpresa de Tony. Quase.

- Está me monitorando, Srtª Smith?

- Tenho que ouvir seu pai reclamando do filho festeiro, coração – lembrou ela, quase se arrependendo por erguer os olhos para ele. Tony ainda tinha muitos traços infantis e o rosto fofinho de quem ainda não tinha cortado as relações com a puberdade, e até chegava a ser bonito, embora não fosse exatamente isso que a atraia nele: era o potencial. O mais jovem dos Stark tinha uma mente genial, muito parecida com a do pai, embora não tão bem aproveitada. Talvez com o incentivo e direcionamento certo, ele seria capaz de coisas grandiosas.

Valerik só não sabia dizer se a história classificaria isso como algo bom ou ruim.

- Talvez você devesse me acompanhar em uma dessas festas... – sugeriu Tony, descendo da mesa e se apoiando contra ela, o tronco curvado para frente para ficar mais próximo da garota, segurando seu queixo com cara de quem não quer nada – Ou talvez nós devêssemos fazer a nossa própria.

- Tentador – Valerik se flagrou rindo, entrando no jogo do Stark. Seus colegas estavam ocupados demais em suas tarefas para prestarem atenção do que acontecia mais ao fundo, embora tivessem ciência que o filho do chefe estava mais uma vez dando mais atenção à novata do que ela merecia. A atenção de todos só foi atraída quando um chamado bastante comum foi feito.

- Lauren?! – os berros de Howard passaram pelas pesadas portas de sua sala fechada, praticamente não alterando a intensidade de sua voz.

- Já vou, Sr. Stark – avisou ela, suspirando cansada depois de soltar o botão que permitia a comunicação com o chefe. Ela já estava com os relatórios no braço e de pé quando Tony a puxou pelo braço, a impedindo de continuar seu caminho.

- Te espero quando seu horário acabar – avisou ele, brincando com alguns fios longos de sua franja que escaparam de seu penteado baixo, os colocando atrás da orelha.

- Eu não tenho horário para acabar – lembrou Valerik, tentando se afastar novamente, apenas para ser puxada ainda mais para perto pelo rapaz. Mentalmente ela estava rindo: nem em seus sonhos mais ousados o Stark teria forças para a puxar daquele jeito sem que ela permitisse, mas tudo bem. Tony apenas sorriu, sussurrando contra seus lábios:

- Vou estar esperando de qualquer forma.

The Real Side - LongingOnde histórias criam vida. Descubra agora