[37] deserve

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Jiyoon queria chorar. Mesmo sem ter acontecido nada de fato, a vontade súbita de chorar lhe atingiu sem mesmo ter feito nada.

Na noite anterior sonho que estava com seu pai assistindo desenhos em sua casa e acordou esperando que estivesse em sua cama. Que Hope viesse lhe dar bom dia lambendo sua mão, que Yoon se esfregasse em seu rosto antes de deitar ao seu lado. E que Hoseok viesse conferir se ainda dormia, sempre lhe dando um beijinho na testa antes de sair do quarto.

Não sabia qual era a pior parte daquele sonho, ele ter um fim ou não ser real.

Acreditou que talvez depois de alguns dias se acostumasse, mas não queria se acostumar. Não queria ficar ali, era mais difícil do que parecia.

Demorou alguns segundos até que percebesse que dormiu no sofá enquanto assistia. Não se lembrava de ter pegado um cobertor antes de dormir, mas curiosamente estava coberta agora. Olhou em volta e estava tudo um pouco escuro, provavelmente no fim da tarde. Se levantou e olhou pelo vidro fechado da sacada da sala e viu que o sol já estava se pondo.

Ouviu um barulho na cozinha e foi ver se a sua mãe estava lá, para perguntar se foi ela quem lhe cobriu enquanto dormia. Mas era Dongsun, de costas para si enquanto preparava alguma coisa na bancada próxima a pia. A menor não queria falar com ele, não queria ao menos olhar para sua cara, mas antes que desse as costas e saísse, ele lhe chamou.

"Não esperava que acordasse agora.", se virou com uma maçã na mão e sorriu sem mostrar os dentes para a pequena, que não retribuiu. "Está tudo bem?"

"Cadê a omma?", perguntou olhando pela cozinha para ver se ela estava ali com ele.

"Foi no mercado. Está com fome?", perguntou e a menor negou. "Ótimo. Se sentir, deve ter alguma coisa por aí para você comer. Só não mexa com facas."

Jiyoon continuou o encarando, sem expressar nenhuma reação e também sem dizer nada. Não gostava dele e sabia que ele não gostava de si, não se sentia bem sabendo que estava sozinha com ele. Queria ir embora.

"O que quer?", o mais velho perguntou. "Quer água?"

"Não. Quero minha casa.", disse baixo.

Dongsun sorriu.

"Mas você está em casa, princesa."

"Aqui não é minha casa. E só meu appa me chama de princesa.", falava baixo, ainda com medo de o desrespeitar com um tom que fosse mal-educado. "Eu queria falar com ele."

"Mas não vai.", respondeu rápido e a menor respirou fundo tentando não chorar. "Você não vai mais ver ele por um bom tempo. Deve se acostumar com isso. Amanhã sua mãe vai buscar os seus documentos e você vai estudar aqui."

"Mas eu não quero..."

"Você não tem que querer nada, Jiwon."

"Meu nome é Jiyoon.", respondeu tentando usar um tom firme, mas seus olhos queimavam para querer liberar as lágrimas. "Eu não quero ficar aqui. Você não gosta de mim e é... Malvado comigo. Eu quero meu appa."

Dongsun riu e negou, fraco com a cabeça. Se virou minimamente para jogar o miolo da maçã no lixo e lavou as mãos. Se virou novamente e pegou um pano para seca-las, desviando o olhar para a menina.

"Isso não é problema meu."

"Mas você é meu avô..."

"Não, eu não sou.", disse e se aproximou da menor para se abaixar na sua frente. Jiyoon deu um passinho para trás. "Já ouviu falar naquele ditado de 'pai e mãe é quem cuida'? Bem, isso serve para todos da família. E eu não sou seu avô. Para você, sou apenas o pai da sua mãe, entendeu?"

CLOSED EYES | sopeOnde histórias criam vida. Descubra agora