[03] rain

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"Uau! Hoje foi um dia tão cheio assim?", Taehyung disse parado na porta vendo seu melhor amigo literalmente se jogando em seu sofá, assim que chegou a sua casa. Yoongi confirmou.

"Sim. Mas eu gostei.", respondeu com orgulho de seu esforço. Taehyung se sentou ao seu lado e apoiou a cabeça no ombro de seu hyung, logo sentindo Yoongi encostar sua cabeça à sua.

"Como sempre."

"Exatamente. Como sempre."

Eram exatamente 18h15 quando Yoongi chegou à casa de Taehyung, assim que saiu da escola onde dava suas aulas de piano, sua maior paixão.

Yoongi era formado em música, fez a faculdade sem arrependimento nenhum. Desde pequeno era um de seus maiores sonhos, o concluiu, mesmo sem o apoio de seu pai. O homem sugeriu que o filho fizesse engenharia ou medicina, sempre dizendo ao filho que isso não investiria em nada e que morreria de fome. Mas ele não ligava para isso.

Se você tem um sonho apenas depende de você para se tornar realidade. Corra atrás e o conquiste, não importa quanto tempo demore ou o quanto possa lhe custar.

Sempre repetia a fala de sua mãe, todos os dias. E foi apenas com o apoio da mulher que seguiu em frente e conquistou o que estava em primeiro lugar em suas metas que iriam ser conquistadas.

Hoje Yoongi dá aulas de piano para crianças a partir de cinco anos em uma escola de sua amiga, SunHee. A mesma sempre perguntava a ele o que tanto admirava em pessoas que mal começaram a vida, que ele defendia tanto, mas crianças nunca foi um problema a ele, era uma paixão.

Amava o jeito positivo delas de ver as coisas, de como conseguiam transformar o dia de uma pessoa com atitudes pequenas que para elas mesmas não é nada, apenas algo natural que todos fazem. E o que mais atraía Yoongi era a inocência delas, de verem tudo com outros olhos, de nunca verem maldade no mundo. Era mais um de seus maiores sonhos: uma criança.

Admirava muito as coisas mais clichês que existem. Uma família, um filho e alguém que o ame para sempre. Queria experimentar pelo menos um terço do que seria ter tudo isso, porque em suas tentativas apenas teve como resultado muitas decepções.

Não fazia muito tempo que havia saído de seu ultimo relacionamento, e ainda se via muito machucado. O único homem que permaneceu em sua vida por muito tempo e que fez Yoongi pensar que poderia dar certo fez o esverdeado mudar totalmente de ideia ao ver seu namorado beijando outro em uma festa. A festa em que jurou não fazer besteiras.

Seus amigos ficavam sempre admirados ao ouvir seus desabafos, Yoongi nunca sabia o porquê. Tinha uma personalidade forte, era fechado emocionalmente. Quase nunca demonstrava algo e quando raramente acontecia era com Taehyung, uma pessoa em que confiava de olhos fechados. Uma das poucas pessoas que poderia chamar de amigo desde o colegial.

Depois de muito tempo sentados no sofá, aproveitando do silêncio confortável e suas respirações, Tae se levantou e foi em direção à cozinha.

"Eu iria perguntar se você gostaria de um café, mas já sei qual vai ser sua resposta.", o moreno disse em um tom irônico e Yoongi riu, fechando seus olhos e recostando a cabeça no estofado.

"Se quiser pode perguntar."

"Hyung quer café?"

"Oh, claro que sim!", Yoongi respondeu alegremente, arrancando uma gargalhada serena de Tae, fazendo o mesmo rir junto.

Após alguns minutos Taehyung volta com duas canecas de café, sendo a de Yoongi uma caneca maior do que o normal com uma foto dos dois gravada e uma frase escrito 'Para o arrogante mais doce do mundo'. Foi o primeiro presente que deu para Yoongi, em seu aniversário de 20 anos. Resolveram deixar a caneca na casa de Tae, já que nas tentativas de levá-la para sua casa sempre acabavam usando e sempre era esquecida lá.

Passada algumas horas Yoongi lembrou que deveria voltar para casa, pois logo escureceria e ele teria de dormir na casa de seu amigo novamente.

"Você não pode dormir aqui?", Taehyung disse fazendo um biquinho manhoso enquanto pausava o filme que havia colocado.

"Pra você me acordar cedo de novo apenas para perguntar se eu gosto de geleia de morango ou de amora?"

"Já eram 11h40 da manhã, Yoongi. E eu me preocupo com o seu gosto, não queria que você comesse algo que não gostasse.", respondeu com uma careta triste e Yoongi colocou a mão em seu peito, num gesto de comoção. "O que eu não faria pelo meu animalzinho favorito, não é mesmo?"

"Só porque é veterinário agora acha que tem que fazer piadinhas com referências a animais o tempo todo?"

"Eu não sou veterinário. Não ainda. Apenas faço a faculdade e trabalho como auxiliar em uma clínica veterinária."

"Pra mim é um veterinário.", Yoongi deu de ombros.

"Verdade. Eu cuido muito de você.", disse rindo e o mais velho continuou sério.

"Tocante. Bom, estou indo embora. O seu animalzinho favorito precisa dormir.", disse indo em direção à saída e só deu tempo de ouvir a dispersa de Tae antes de bater a porta.

Para a sorte de Yoongi ainda estava um pouco cedo para ir até sua casa a pé. Não moravam tão longe um do outro, porém suficiente para precisar ir de ônibus, mas hoje decidiu não ir. Andar não era tão ruim assim e o mesmo adorava isso, pois sempre parava para apreciar a cidade.

Os parques, os prédios, as pessoas. Perguntava-se várias vezes por que as pessoas não veem a paisagem a frente como uma obra que precisa ser apreciada com muita atenção. Olhava em volta e só via pessoas falando com o celular em seus ouvidos ou com seus polegares inquietos na tela dos aparelhos, sempre digitando alguma coisa. Muitos pontos onde daria uma bela foto na qual ele usaria para emoldurar e colocar na parede da sua sala, e muitas pessoas desperdiçando ângulos tão belos que estavam abaixo de seus narizes.

Meneou levemente a cabeça saindo de seus devaneios ao ouvir um som alto vindo do céu indicando que logo cairia uma forte chuva. Logo voltou a seguir seu caminho até sua casa, que não estava muito longe dali.

Ao destrancar a porta, mal deu o tempo de entrar em casa e a chuva começou a cair em gotas grossas e brutas.

"Essa foi quase.", riu sozinho e fechou a porta atrás de si, retirando seus sapatos e colocando ao lado da porta.

Seu primeiro ponto foi a cozinha, apenas para orientar sua cafeteira para fazer o seu tipo de café favorito, vendo que iria demorar, voltou para a sala.

Aproximou-se da grande janela que tinha em sua sala e ficou um bom tempo observando as gotas de chuva bater contra o vidro, vendo-as escorrerem lado a lado uma da outra e imaginou uma corrida para ver qual é a gota que chegaria a base da janela mais rápido.

Sua imaginação foi interrompida pelo som de sua cafeteira avisando que já estava pronto. Seguiu até sua cozinha e voltou à sala novamente, agora com sua caneca em mãos. Parou em frente ao grande piano que tinha em frente à janela e sem ao menos perceber já estava sentado no banco, colocando sua caneca do seu lado e posicionando seus dedos nas teclas.

Nunca deixava de tocar ao menos uma música no piano que sua mãe lutou para lhe dar assim que havia se mudado. Era a melhor lembrança que tinha dela, e nunca iria esquecê-lo. Tocá-lo era um modo de matar a grande saudade que tinha da mulher que lhe estendeu o braço e o ajudou a subir os degraus para conquistar o que tem hoje.

A saudade que sentia dela era grande e dolorosa. Se lembrava perfeitamente do dia que ela o deixou sozinho, mas não queria. Tentava o máximo lembrar apenas das coisas boas, de seu sorriso e do modo como ela o fazia sorrir, mas era impossível. Junto com as lembranças boas, as ruins também vinham à tona.

Parou de tocar ao perceber que era totalmente inútil, pois o som da chuva era alto e mal se ouvia as notas que tocava. Tomou sua caneca em mãos e bebeu um bom gole, sentindo o líquido escuro descer quase queimando sua garganta, lhe trazendo uma grande satisfação.

E mais uma vez Yoongi ficou parado em frente à sua janela ouvindo o som satisfatório da chuva caindo do lado de fora, apenas pensando em seu futuro, em como seria se essa sua rotina se desviasse dos trilhos.

CLOSED EYES | sopeOnde histórias criam vida. Descubra agora