Três Luas - Academia de Bruxaria

A primeira tarefa

O dia amanheceu invadindo os corações das jovens bruxas de incertezas. Debaixo da porta de cada um dos quartos das competidoras estava um pequeno cristal fino e retangular, de um vermelho forte que contrastava com o piso, tornando impossível não vê-lo. Hotaru foi a primeira a levantar de sua cama e rapidamente avistou o objeto. Ewa dormia profundamente, abraçando seu travesseiro com força. Charlotte estava voltada para cima, encarando o teto do quarto com uma expressão séria. A humana foi a primeira do grupo a acordar, mas manteve-se imóvel enquanto tentava carregar seu corpo com pensamentos positivos, o que parecia mais difícil do que em qualquer outro dia de sua vida. Com um frio na barriga, a kitsune foi até a porta e abaixou delicadamente, pegando o cristal. Era apenas uma simples carta visual, muito comum entre as bruxas. Seus olhos emitiram um brilho rosado, assim como a ágata em seu pescoço, e a raposa transferiu o éter da pedra para a mão que segurava a carta, ativando-a.

Uma luz branca percorreu o cristal retangular, até que ele perdesse completamente sua cor. Do seu centro, uma pequena projeção avermelhada surgiu, com a silhueta do Oraculum, com seu largo sorriso e seus olhos estáticos. O brilho chamou a atenção de Charlotte, que sentou-se na cama e olhou para a pequena projeção nas mãos da raposa. Poucos segundos depois, a figura começou a falar, com a voz do artefato, aquele grupo característico de ondas sonoras que agora fazia um calafrio percorrer a espinha das participantes da Walpurgisnatch. Ewa acordou imediatamente, muito assustada e focou sua atenção totalmente na mensagem gravada.

– Bom dia, bruxinhas! Venho por meio desta mensagem lhes informar que a primeira competição ocorrerá depois do horário das aulas de Três Luas, para que todas as alunas possam assistir! Sintam-se honradas por poderem demonstrar suas incríveis habilidades para suas colegas! Quero todas vocês na Arena de Walpurgis, localizada atrás de nossa maravilhosa escola uma hora após o término da última aula. Tenham um ótimo dia!

A silhueta cintilante do Oraculum desapareceu e o cristal recuperou sua cor. Hotaru tentou manter uma postura firme, mas todas estavam abaladas pela presença do artefato. Ela colocou o cristal delicadamente sobre sua estante de madeira, mas hesitou e o pegou novamente. Confiante, ela andou até a janela, a abriu e arremessou o pequeno cristal que desapareceu rapidamente de sua vista. Feliz por se ver livre daquilo, a raposa se voltou para suas companheiras.

– Desculpe se queriam guardar a carta, mas... Eu simplesmente não suporto mais aquele bichinho.

– Fez muito bem, Hotaru. - disse Charlotte. - Eu estava pronta pra quebrar em pedacinhos!

Ewa pegou o travesseiro que jogou no chão e começou a arrumar sua cama. Sua expressão era triste. O clima ficou bem pesado no quarto, mesmo com a tentativa falha de tirar um pouco de humor da situação. Percebendo sua derrota, as duas veteranas seguiram o exemplo da caloura e começaram a se aprontar para o dia.

O silêncio reinou no quarto durante toda a manhã. Sem aulas e tendo usado o dia anterior para se prepararem para a competição, não restava muito o que fazer. Ewa ficou estudando antigos fundamentos da bruxaria. Charlotte poliu seu colar de pirita, admirou a paisagem da janela e se imergiu no tédio. Hotaru folheou algumas revistas e escreveu uma carta para sua família. Seu meio tradicional com papel e tinta chamou a atenção da humana, que rapidamente se aproximou dela sem o menor respeito por sua privacidade.

– Mas gente! Você gosta de coisas mais antigas?

Hotaru se assustou e quase rasgou o papel.

– Menina... Por favor, não faça mais isso! Quase me matou do coração!

– Ah... Desculpinha.

– Acho que esqueci de mencionar antes, mas... Minha família não é nobre. Nunca nos afastamos do misticismo e tudo mais, só que faz algumas gerações desde a última vez que estivemos em Três Luas. Então eu meio que sou a diferentona dentre as minhas irmãs.