Retratos de Uma Vida - Parte II

Capítulo CINCO

Victor precisou trabalhar naquele sábado, o que não era algo normal, mas aproveitei para visitar Luke. Colocamos nossas conversas em dia e ele começou me falando o quanto adorava morar com Bernardo.

Depois que me mudei, meu cunhado dormia quase diariamente com Luke até que, enfim, resolveram assumir que moravam juntos. Eu brincava dizendo que se um dia eu terminasse com Victor, eles teriam que deixar meu quarto reservado porque iriam me aturar para o resto de suas vidas.

Bom, é claro que era apenas uma brincadeira nossa, eu não me imaginava terminando com Victor. Ele era tudo o que eu poderia pedir. Na verdade, um pouco mais e, apesar dos seus defeitos, eu o amava. Mesmo porque eu também tinha lá os meus.

E como!

- Então, eu vou ter um aumento considerável e uma sala nova.

- Você o que? – Acordei de meus devaneios ao ouvir o anúncio de Luke.

Ele disse que tinha uma surpresa para me contar e por isso marcamos de almoçar neste restaurante. Não era nada muito elegante, era apenas um restaurante de beira de praia que costumávamos comer quando morávamos com a Tia Jô. Adorava o cardápio de frutos do mar de lá, mas o melhor ainda era a torta de limão que eles vendiam como sobremesa. Minha favorita.

- Eu fui promovido no trabalho, agora eu trato das relações públicas da empresa. É mais puxado que o cargo anterior, mas é um novo desafio para mim, tenho mais responsabilidades. Não vejo a hora de conhecer as pessoas que vou trabalhar. Minha mudança de andar será na próxima segunda-feira.

Mudança de andar? Nossa, isso nos filmes era um bom sinal. Ri com o pensamento bobo.

- Então precisamos comemorar. O que vai fazer hoje à noite?

- Estava pensando em fazer alguma coisa junto com Bernardo, Victor e você. - Ele disse enquanto segurava o canudo do refrigerante.

- Então falo com Victor e vamos pensar no que fazer esta noite! Fico feliz com essa novidade. Parabéns, você merece depois de todo o esforço que você fez, nunca faltou nem chegou atrasado. Quero ser você quando crescer.

Sorrimos um para o outro e de repente eu me senti tão bem por estar do lado do meu irmão que quase chorei.

- Mas isso não é tudo o que eu quero te dizer. - Luke

- Tem mais? – Estava realmente surpresa. Já era maravilhoso saber que o trabalho do meu irmão estava sendo valorizado. Sempre foi uma luta constante pelo fato de ser homossexual.

Mesmo ele não assumindo, sei que ele ficava chateado quando via o cara que não faz um trabalho tão bom sendo promovido e ele com seu serviço exemplar sempre ficava em segundo. Nunca o trataram mal diretamente, mas até mesmo esses pequenos detalhes lhe incomodavam. Eu podia sentir. Me incomodavam também, mas nunca falamos abertamente sobre isso.

- Eu queria te contar junto com Bernardo, mas eu não consigo me segurar. - Ele ficou em silêncio por uns instantes para fazer suspense e provavelmente para meus olhos estourarem do meu rosto - Bernardo e eu vamos nos casar.

Quase cai literalmente da cadeira.

- Vocês vão... - Gaguejei, sorri e tentei me arrumar na cadeira.

- Eu sou o irmão mais velho, pelo que vejo você e Victor... Eu não quero ficar para titio.

E apesar de ainda estar em estado de choque eu ri de sua piada.

- Meu Deus, Parabéns, apesar de não vivermos nos anos 20 e você precisar casar para me liberar. - Me levantei sorridente e dei a volta na mesa para abraçá-lo ainda espantada. – Já tem data?