Capítulo Nove

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— Cinco, seis, sete e oito! — Gritei e os saltos simultâneos começaram. — Ergue mais os braços, Sierra! — Mandei e ela assentiu me obedecendo.

Treinamos pesado a nova coreografia, eu empenhei todo meu ódio ali, senão era bem capaz de explodir a qualquer instante.

É muito fácil dizer que se alguém não quer mais ficar com você deixe ir. Porém é difícil quando depois que tudo acaba você se sente usada. Como uma tapa buracos sem a miníma importância. Como se depois de um tempo seu prazo de validade tivesse expirado, ou pior, sua funcionalidade tivesse sido ultrapassada. Em todas as vezes que pedi sinceridade, Robert sempre dizia que era louco por mim. Sempre deu a entender que tínhamos algo especial. E eu acreditei. Eu até mesmo abri mão de ter uma primeira vez romântica para ser praticamente abandonada em uma festa qualquer. Deixar ir não era tão simples assim, principalmente quando dá a entender que a pessoa nunca quis ficar. Era tudo mentira? Até que ponto algo era real? E a nossa química, onde foi parar?

Não era justo alguém aparecer e jogar uma pá em toda uma história. Não estou isentando Robert de sua irresponsabilidade afetiva, mas também não posso fechar os olhos para a realidade. Não é justo alguém chegar e eu ter que ir embora.

— Katie, vou dar uma festa hoje na casa dos meus tios, é tudo de última hora, mas gostaria que você fosse. — Nathalie, uma das meninas da equipe, me convidou. Glória e Belinda me olharam apreensivas como duas crianças ansiando por diversão.

— É claro que vamos. — Confirmei e as três comemoram.

— Que maravilha! Uma festa sem você não é uma festa! — A garota me bajulou e eu forcei um sorriso.

— Ah que ótimo! Estou mesmo querendo curtir um pouco. — Belinda comentou eufórica.

— Eu espero que tenha pizza! — Glória comentou e eu franzi a testa.

— Eu acho melhor você tomar cuidado seja com o que for que você esteja fazendo! — Aconselhei e ela sorriu amarelo, tirando a roupa.

Notei as costelas dela evidentes, estava cada vez mais magra e comendo cada vez mais porcaria. A conta não estava batendo.

— Não se preocupe, está tudo sob controle. — Afirmou confiante e eu continuei a encarando desconfiada.

— Glória, eu estou falando sério.

— Está tudo bem, Katie. Não se preocupe! — Rebateu ligando o chuveiro e tomou banho cantarolando uma música da Taylor Swift.

— Deixa! Enquanto ela não estourar de tão gorda ela não irá sossegar. — Belinda zombou em tom baixo.

Acabei mesmo deixando para lá, não estava com cabeça para nada. Terminei de me arrumar e saí do vestiário, precisava espairecer antes de ir para a festa.

***

De noite a casa dos tios de Nathalie estava lotada de corpos inquietos. E eu me tornei um deles. Dancei como nunca. Dancei música da Miley Cyrus, da Britney Spears, da Lady Gaga e do Ed Sheran. Dancei todas as músicas e todos os ritmos, até mesmo o reggaeton. Eu simplesmente me entreguei às batidas. Dancei com as meninas, dancei com o meu admirador nada secreto Adam Braier e até mesmo com o irmão de Molly que eu sequer sabia o nome. Se eu pudesse escolher uma noite para recordar para sempre com certeza seria essa. Era só eu e a música. De repente tocou a música da Demi Lovato e eu dancei mais ainda, cantando ao mesmo tempo.

Eu jamais iria me desculpar por ser quem eu era. Eu jamais iria abaixar meu tom. Quando eu era criança eu era invisível, não tinha ninguém. As crianças não falavam comigo e eu me escondia no horário do almoço para poder comer, pois desde cedo minha mãe controlava a minha alimentação. Ela não me deixava comer açúcar, frituras e nem coisas sólidas. Eu tinha oito anos e comia papinha de bebê porque era menos calórico segundo ela. Me sentia sempre fraca e letárgica. Ela sempre me batia quando eu não seguia a dieta. Dizia que eu era uma criança feia e era por isso que eu não tinha amigos. Tudo mudou quando comecei a estudar no colégio de Manhattan, lá as pessoas me consideravam bonitas. Lá eu consegui fazer com que as pessoas pudessem me enxergar e somente então eu me enxerguei também.

Um dia, no meu aniversário de quatorze anos, após passar muito mal de fome e quase cair das escadas, Corina resolveu traficar comida para mim. Nesse dia ela pegou na minha mão trêmula, secou minhas lágrimas e disse para eu me acalmar, pois o caminho de toda rainha era árduo. Eu lembro de questionar à ela por que eu não era uma princesa, e ela sorriu dizendo que a minha linhagem real começava em mim. Minha mãe jamais poderia ser uma rainha, já eu havia nascido para vencer. Desde esse dia todas as vezes que eu chorei ou fiquei de castigo por dias sem comer nada sólido, eu só pensava nas palavras de Corina. Tudo aquilo era apenas o meu caminho árduo até alcançar a minha coroa.

E era por tudo isso que eu não me desculpava. Eu não deixaria de ser eu para me tornar alguém invisível novamente. Eu jamais deixaria de lutar pelo o que eu queria.

Estava dançando animada quando vi Robert chegar acompanhado da Colins. Belinda me cutucou nada discreta e nós ficamos observando eles.

— Eu não sei como ele foi capaz de trocar você por ela. — Comentou ácida.

— Ele não me trocou. — Censurei enfurecida. — Uma troca acontece por coisas equivalentes e ela definitivamente não é equivalente à mim.

Belinda se calou e eu suspirei sorvendo um pouco da bebida que estava no meu copo.

Colins não se mexia, aparentemente desconfortável com a festa. Estava vestida com o casaco dele. Eu senti um mal estar no mesmo instante. Robert jamais me ofereceu o casaco dele.

Ele então me olhou fazendo meu coração bater mais forte. Eu odiava o efeito que ele ainda causava em mim.

Segui até os dois e ambos pareceram tensos. Uma música suave passava ao mesmo tempo que o caos se estabelecia naquela sala.

— Nós precisamos conversar. — Falei e Robert colocou as mãos no bolso da calça, parecia desconfortável.

— Eu já disse tudo que eu tinha para te dizer.

— Você não pode me tratar assim, me jogando para escanteio de repente. Eu mereço mais que isso, Robert. — Pedi estressada e Izabel Bolena me olhou com cara de poucos amigos e contraiu o maxilar aparentemente irritada. — Eu não vou aceitar isso.

— Não queremos confusão, Autman. — Ela falou entredentes se intrometendo na conversa e eu arqueei a sobrancelha.

— Como é?

— Eu conheço o seu tipo. Você é como todas as Barbies que são como você. — Alfinetou me deixando intrigada.

— Barbies? — Questionei e ela cruzou os braços, cheia de si.

— Sim. Garotas que se acham perfeitas e acham que tudo deve ser como querem. Mas spoiler, a vida não é assim. — Explicou e eu a encarei debochada. — Você é narcisista e egocêntrica como todas as outras.

— E você se julga melhor que eu só por se achar diferente de mim? — Questionei sarcástica e ela revirou os olhos.

— Eu não sou melhor que você.

— Que bom que você sabe, queridinha. — Repliquei sorrindo satisfeita e voltando para a pista improvisada de dança.

De longe eu podia sentir a fúria da nerd. Só me restou sorrir.

Bad girlOnde histórias criam vida. Descubra agora