XVII - Para a Eternidade

128 16 16
                                    

A chuva lá fora transparece o que meu peito sente agora. A natureza expressa sua total tristeza enquanto observo pela janela do hospital. Minha cabeça está pesada, não consigo comer, muito menos relaxar. O silêncio me ronda de uma maneira que me sinto largada em suas mãos, sem pespectiva alguma de retornar.

Os dias se passaram rápidos demais, mas meu corpo continua parado. Estou a mercê de qualquer coisa. Ser uma pessoa ansiosa para algo é tenso demais, meu avô me dizia que eu morro antes de levar um tiro, não retiro a razão dele até hoje.

O médico, com sua voz abalada, me disse que Noah pode não voltar mais. Quando escutei estas palavras saindo da sua boca, foi automático, cai de joelhos no chão e comecei a chorar como nunca chorei antes. Acabei desmaiando por muita emoção.

Atualmente, entrar no quarto para visitá-lo está sendo muito doloroso. Noah está muito magro e recentemente, recebemos a notícia que infelizmente a doença acabou se espalhando para outras áreas do corpo. Está sendo muito difícil o tratamento, ele está fraco e sentindo muita dor, por isso, os médicos usam a morfina para aliviar o sofrimento.

Dos meus olhos não descem uma lágrima. Não consigo chorar faz meses, desde o esclarecimento que mudou minha vida. É como se meu coração estivesse cheio, mas não consegue liberar uma gota sequer, me sinto sufocada.

Agora, observo pelo vidro seu corpo deitado sobre a cama, enquanto uma enfermeira troca o soro. Para entrar no quarto, preciso passar por uma esterilização necessária, já que Noah não pode ter contato com nada que vem de fora, porque sua imunidade está bem baixa devido á quimioterapia.

Quando a moça saiu da sala, passei por todos os procedimentos e estou pronta para mais uma conversa, mesmo que ele não me ouça. Abro a porta do quarto lentamente e a fecho em seguida. Caminho em passos lentos até a beira da sua cama e acaricio sua mão que está gélida. Noah não é mais o mesmo, não consigo enxergar mais o brilho que ele carrega consigo em todo lugar que vai. Vejo uma pessoa vazia, como se sua alma estivesse apagada em todos os sentidos.

— Em que universo você está agora? Não abre os olhos, apenas respira serenamente. Queria que você estivesse aqui comigo, me dando o apoio e a felicidade como sempre foi. Está sendo muito difícil para mim, acordar sem ter sua presença, seu sorriso, bom humor, otimismo. Ás vezes, minha mente traz de volta momentos felizes que passamos juntos e só consigo sorrir. Você resgatou novamente em mim a vontade de viver, então, por que vai me deixar? — suspiro, passando a mão pelo seu rosto — Olhando o estado que está o mundo lá fora, as pessoas sem amor umas com as outras, desavenças, traumas... Quando você chegou, me fez acreditar que ainda existem anjos na Terra, se as pessoas fossem como você, o planeta em que vivemos será muito melhor. Em hipótese alguma me arrependo de nenhum segundo que estive ao seu lado, se pudesse, voltava o tempo para viver tudo novamente. Não consigo aceitar que o destino quer te levar de mim, parece que a sua missão aqui é me encontrar e depois, você irá partir, mas não quero acreditar nisso — acaricio suas bochechas.

Ouço batidas na porta, viro rapidamente quando vejo o médico aparecer por ela.

— Desculpe interromper seu momento, mas será que posso conversar com você? — percebo sua voz triste.

— Claro — olho para Noah novamente e jogo um beijo, saindo do quarto.

— Me acompanhe até a minha sala, lá poderemos ter privacidade — me guia até o final do corredor.

A porta foi aberta para que eu entre primeiro. Sentada na poltrona, está Rebeca, inconsolável. Ando em passos rápidos até onde está e a abraço forte, dando passe livre para que ela se console em mim. A energia do ambiente é pesada, aos quatro cantos o sentimento de tristeza dá as caras, qualquer um consegue sentir.

Eu Ainda Pinto Flores Para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora