Livro guia

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Boa leitura!


Lauren

CARO TIO PETRU,

Talvez a lentilha seja o alimento mais versátil e indestrutível do mundo.

É impossível comer lentilhas sem adornos, casá-la com seu primo de primeiro grau, o rude bulgur, ou tentar afogá-la em vinagre para uma salada vegana. Mas, infelizmente, a lentilha sempre sobreviverá. De fato, no lar dos Cabello, a pequena e tenaz leguminosa ressuscitará à força, sempre livre de qualquer coisa que se assemelhe a sabor, e insinuará seu eu indomável, lenticular, em mais um prato de refeição esperando ser consumida. De novo e de novo e de novo.

E nem me fale de gelatina e de sanduíche de carne moída.

PELO AMOR DE DEUS, PETRU.

Por quanto tempo mais devo suportar tudo isso no interesse da paz entre os clãs? Devo me sacrificar como a primeira prisioneira em uma guerra que ainda nem começou?

Honestamente, Petru, não se trata apenas de comida (ou do que os Cabello e o Departamento de Educação da Pensilvânia insistem em chamar de comida).

As escolas de ensino médio dos Estados Unidos deveriam ser consideradas ilegais segundo as regras da Convenção de Genebra. As crueldades indescritíveis que suporto deixariam perplexo até o senhor, um especialista no assunto!

Como sabe, sempre fui curiosa a respeito de nossa imortalidade, sobre como será continuar a viver através dos anos (presumindo que evitemos a estaca, como pretendo fazer). Não preciso especular mais. Senti uma amostra da eternidade na aula de “estudos sociais” da Srta. Campbell, no quinto tempo de aula. Três dias sobre o conceito de “Destino Manifesto”, Petru. TRÊS DIAS. Minha vontade era me levantar, arrancar as anotações de suas mãos pálidas e gritar: “Sim, os Estados Unidos se expandiram para o oeste! Isso não é lógico, dado que os europeus se estabeleceram na margem leste? O que eles poderiam fazer? Avançar inutilmente mar adentro?”

Mas não devo reclamar. Não seria de bom tom perder a compostura. Devo perseverar, lutando contra a tentação de apenas ficar com cara de boba, como faz a maioria dos meus pares (em seus sonhos), que mergulham em um estado de torpor coletivo de vazio, parecido com um transe, e que dura o tempo de cada aula. (Se bem que às vezes invejo secretamente sua capacidade de esvaziar a mente por completo durante 50 minutos, reanimando-se apenas ao som de uma campainha, como cães de Pavlov. E então, saem latindo e seguindo pelos corredores até que as aulas recomecem...)

No entanto, sem dúvida, o senhor está mais intrigado com as notícias da corte do que com a minha educação. Assim sendo, passarei a falar de meu progresso com Anastácia.

Fico contente em informar que, às vezes, minha futura princesa demonstra sinais de possuir grande presença de espírito. Infelizmente, toda a considerável força de vontade de Anastácia, seu pique (para usar uma palavra daqui), se concentra em rejeitar a minha pessoa.

Verdade seja dita: ela demonstra uma dedicação implacável a essa missão.

Enquanto isso, tenho a sensação de que Anastácia sente uma atração por um carregador de feno (um camponês, ainda por cima) que tem a aparência e a postura tão pouco notáveis a ponto de, mesmo ocupando uma carteira perto da minha na aula de literatura inglesa (em grande medida assumi o papel de orientadora nessa matéria – talvez eu ganhe uma monitoria), eu nunca consegui me lembrar do seu nome. Bob? Colton? (infelizmente esses dois palpites são bons. Parece que temos um punhado de cada um deles aqui, na Woodrow Wilson).

O fato, é que pareço ter concorrência. Concorrência, Petru. Por parte de um camponês, cujas grosseiras estratégias para cortejá-la incluem aparecer na fazenda dos Cabello, desnecessariamente sem camisa, para contrair os músculos na frente dela! Exibindo-se como um faisão estufado. E se o senhor pudesse vê-la flertando com o palerma...

Como se livrar de uma vampira apaixonada (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora