Um pequeno susto

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Oi! Boa leitura!



Camila

Estava escuro quando cheguei em casa, montando Bela. Havíamos seguido um caminho alternativo, atravessando milharais vazios e evitando as estradas ao máximo, quase como se eu estivesse com medo de ser seguida. Não quis pegar carona com nenhuma das pessoas que tinham oferecido, como Kate ou os líderes do Clube da Juventude. Principalmente eles, cujas perguntas eu já tinha respondido pelo menos umas 50 vezes. Eles pegariam no meu pé e perguntariam por que nenhum dos hospitais da região parecia saber nada sobre uma garota ferida por um cavalo. E depois iam querer falar com os meus pais e então entrariam na nossa casa e descobririam Lauren Jauregui quase morta – ou morta de fato – no nosso sofá, com meu pai tentando ressuscitá-la usando ervas medicinais e chá.

Cutuquei Bela mais um pouco ao pensar nisso.

Será que Lauren podia mesmo estar morta? Como eu me sentiria nesse caso? Será que lamentaria? Sofreria? A culpa me mordia. Será que eu me sentiria aliviada de algum modo?

E eu estava mais preocupada com Lauren ou com o papel dos meus pais nesse desastre?

Todas as perguntas se reviravam na minha mente enquanto eu ia para casa, presa num passo de égua quando precisava de um jato. Nossa cavalgada parecia ridiculamente vagarosa. Einstein havia explicado essa sensação, não é? Relatividade. Nossa percepção do tempo depende da velocidade com que queremos que ele passe.

Tempo. Relatividade. Ciência.

Tentei me concentrar nesses conceitos em vez de me voltar para preocupações inúteis, mas a imagem do sangue na blusa de Lauren teimava em reaparecer. O sangue que jorrava de sua boca. O sangue vermelho, vermelho.

Quando cheguei ao final da nossa estradinha, Bela estava num galope imprudente e larguei as rédeas, deslizando da sela ao ver a Kombi dos meus pais parada na frente da casa. Havia outro carro, um sedã desconhecido, mas ainda igualmente decrépito. A casa estava toda às escuras, com exceção de algumas luzes fracas lá dentro.

Abandonei a pobre Bela, apesar de saber que deveria coloca-la em sua baia, subi correndo os degraus e entrei.

– Mamãe! – Berrei a plenos pulmões, batendo a porta atrás de mim.

Minha mãe surgiu, vindo da sala de jantar, pedindo silêncio com os dedos nos lábios.

– Cami, por favor. Fale baixo.

– O que aconteceu? Como ela está?

Fui em direção à sala de jantar, mas mamãe segurou meu braço.

– Não Camila. Agora não.

Examinei o rosto dela.

– Mãe?

– É grave, mas temos motivos para acreditar que ela vai se recuperar. Está recebendo bons cuidados. Os melhores que podemos dar, com segurança – acrescentou enigmática.

– Como assim com segurança?- indaguei. Cuidados com segurança eram dados nos hospitais. – E de quem é aquele carro lá fora?

– Nós chamamos o Dr. Zoldo...

– Não, mamãe!

Não o Dr. Zoldo. O charlatão húngaro maluco que havia perdido a licença médica por usar controversos remédios tradicionais de seu país, nos EUA, onde as pessoas tinham o bom senso de acreditar na medicina de verdade. Eu deveria ter reconhecido o carro. Muito depois de o restante do condado ter boicotado o velho Zoldo, ele e meus pais continuaram amigos, juntando-se ao redor da mesa da cozinha e conversando até altas horas da noite sobre os idiotas que não confiavam em terapias alternativas.

Como se livrar de uma vampira apaixonada (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora