Jantar

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Oi!
Boa leitura!


Camila

– Então, Scott, como foi a produção de feno este ano? – perguntou papai, tentando puxar conversa.

– Boa, eu acho.

Scott parecia inseguro até mesmo para dar essa resposta simples, provavelmente por estar na berlinda, sob a inspeção dos meus pais.

– Eu ficaria feliz em mostrar alguns dos controles de pragas sem química que nós usamos, se você tiver interessado...

– Pai – interrompi. – Você prometeu! Nada de sermões ambientais.

Por que meus pais tinham feito tanta questão de jantar com Scott, afinal? Eles viviam falando em espaço pessoal e autonomia de aprendizado – até que chegou a hora de eu sair com um cara. De repente viraram a própria família americana tradicional, insistindo para que o garoto jantasse com a gente, apesar de ele ter crescido ali do lado e entregar feno na nossa casa quase toda semana. Era uma pagação de mico. E o fato de Lauren estar de péssimo humor não ajudava em nada.

– Mais leite de soja? – ofereceu mamãe.

Scott levantou a mão, um pouco depressa demais.

– Não, obrigado!

– A gente acaba se acostumando com o gosto – falei, dando força.

– Acho que sou mais fã de leite comum. - Não podia culpa-lo.

– Que explora as vacas – acrescentou papai, apontando um garfo na direção de Scott. – Pobres animais, postos em fila, com as tetas presas no metal frio...

Tetas?

– Papai, por favor. Não fale essa palavra...

– O que é que tem? – Papai levantou as mãos, cheio de inocência. – Scott mora numa fazenda. Tenho certeza de que ele está familiarizado com as tetas das vacas.

Cada gota de sangue no meu corpo correu para o rosto. Era bem típico de o meu pai falar da anatomia das vacas durante meu primeiro jantar com Scott e depois acusa-lo de estar familiarizado com o equivalente bovino dos seios. Como se ele gostasse de dar uns pegas nos animais de criação ou algo parecido. Olhei para Lauren, esperando que ela desse um sorrisinho afetado, mas ela apenas remexia a salada, examinando um dos premiados tomate cereja de papai como se fosse uma forma de vida alienígena melequenta que inexplicavelmente tivesse ido parar na ponta de seu garfo.

– Alejandro – interveio mamãe. – Talvez a gente pudesse mudar de assunto.

Experimentei um breve instante de alívio, até que mamãe se virou para o garoto e comentou:

– Soube que vocês estão lendo Moby Dick na aula de literatura.

– Ah, sim.

– Adorei esse livro quando tinha a idade de vocês – disse mamãe. – A ideia da aventura no mar. E como provoca reflexões! O que pensar da baleia branca? O que ela simboliza? – Perguntou ela, ainda falando com Scott. – Deus, a natureza, o mal ou simplesmente o orgulho de Ahab?

Houve um momento de silêncio, enquanto o pobre garoto tentava pensar numa resposta àquela pergunta, o que, pela expressão dele, era quase tão palatável quanto o leite de soja.

– É... Todas essas coisas? – propôs ele finalmente.

– Estamos lendo a versão resumida – observei, feito idiota. Eu estava acostumada a morar com uma professora: sempre havia algum tipo de questionário durante o jantar. Mas será que mamãe precisava atormentar o coitado do menino? – Talvez tenham cortado algumas metáforas...

Como se livrar de uma vampira apaixonada (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora