A volta do Anjo da Masmorra

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Século XV

    De lábios inflexíveis e olhos arregalados, a reação do menino revelava certeiramente o início de seu mais novo pavor. A face do pequeno conde empalidecia conforme a aproximação das mulheres, foi quando sentiu uma serva bem perto de ambos, com ataduras limpas e preparados medicinais em uma bandeja que pôs sobre a cama. Vlad sabia que não estava preparado para aquilo quando viu a expressão de dor de Alper e os outros enquanto aquelas mulheres removiam os panos grudados em todas as suas feridas. Com certeza aquilo não se comparava a um joelho ralado. Seu medo foi maior quando sentiu o toque de uma mão or trás, e o solavanco foi impossível de se evitar.

– Calma Vlad, sou eu! – disse a autora do toque, igualmente assustada.

    Vlad se acalmou por um momento ao ouvir aquela voz, e então reconhece sua dona.

– Meu Deus! Clésia!

    A princípio não a havia sequer notado devido o susto e o fato dela estar trajada como as demais servas, coberta por simplórias túnicas e com hijabs escuros cobrindo os cabelos, mas assim que se deu conta que era ela de fato a dama, a sua companheira de cela, o abraço forte e demorado fora inevitável  cheio de emoções. Ambas as crianças sentiam muita falta uma da outra.

– Não entendo o que está acontecendo aqui, mas fiquei tocado. – no trio que vislumbrava tudo com interesse, Alper ataca em tom de zombor, chamando assim a atenção dos dois companheiros. – Quem é essa bela mocinha? – usava o dialeto de seu país, mas sem deixar seu humor habitual.

– Esta é minha amiga Eclésia. Dividíamos uma cela na masmorra do castelo.

– Ela é uma fofa – Ivailo sorria e acenava para a dama que o olhava confusa.

– Acho melhor não dizer coisas assim pra ela, ela parece constrangida – cochichou Kaan.

– Hum, é estranho não mencionar sobre ela antes, Vlad... – mesmo com suas feridas voltando a sangrar e a dor dos tecidos ao desatracarem, o jovem não perdia uma chance sequer para provocar, e o efeito desejado surtiu no conde imediatamente.

– Não comece, está bem?! – falou tanto irritado quanto envergonhado, embora estivesse lutando para esconder ambas as coisas.

– Vlad, não entendo o idioma que estão falando. É um pouco eslavo eclesiástico? – perguntou a dama confusa.

– Búlgaro – o conde respondeu, agora usando seu idioma natal.

– Eu "entender" um pouco de valáquio, só um pouco. E um pouco de turco também, porque não "ser" opção aprender "falar" turco aqui. – informa Alper, agora em esforço para não fazer feio no idioma do conde.

– Não é tão ruim para alguém tão modesto – falou a dama gentilmente.

– Com tantas qualidades, modéstia "faltar" – respondeu com simpatia, mas logo a serva que lhe cuidava remove uma nova fileira e o sorriso se esvai no primeiro puxão e a garotinha o olha com muita angústia.

    Dentre outras mulheres, Samia surge às pressas procurando a amiga, ao encontrar seu objetivo, chama-lhe a atenção por ter se afastado de seu campo de visão; Clésia por sua vez só sabia fazer caretas frente ao aborrecimento proporcionado.

Segredos de Vlad(PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora