Alicerce do Amor ♥ (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo 2

 

Nelly

Fui para a cozinha, que era um dos meus refúgios. Sempre amei cozinhar. Mas sentia uma pontada no peito, como se as batidas do coração me faltassem ao chegar aqui. Porque, muito do que cozinhei, foi ela quem me ensinou. E, mesmo lembrando-me de muita coisa com pesar, ela ainda parece tão presente em minha vida, porque eu via em seus olhos o orgulho que sentia em passar suas técnicas, suas receitas de família, pois era algo que ela realmente amava. Tratava um simples café da manhã — como esse bolinho de chuva que vou preparar para a minha pequena luz —, como se fosse algo que um dos mais renomados chefs do mundo estivesse cozinhando.

Estou me lembrando de Sara, a minha mãe. Um nome doce, tão lindo, mas que me abalou profundamente. Ela destruiu meus alicerces. Minha fé na vida e no amor. Ah, o amor...

Ver o amor de Gabi e Nate, e o fruto tão perfeito que foi concebido deste amor, me levou a questionar se um dia terei um pouquinho disto. E se sou merecedora. Será que existe o que tantas pessoas falavam e que também eram mostrados nas histórias que Sara me contava ainda pequena sobre os contos de fadas? Queria para mim também um felizes para sempre.

Devaneando, senti uma lágrima solitária rolar por meu rosto. Recolhi rápido, pois ouvi passos e um dos sons mais lindos do mundo, porque irradiava felicidade.

Com os ingredientes já na bancada, me virei e vi Nathan com Luísa em um braço enquanto com o outro envolvia a cintura de Gabriela.

Deus foi generoso com minha irmã. Nathan era um homem lindo. Alto, loiro, forte, olhos de um azul tão profundo, herança genética que passou lindamente para Luísa. E sem contar que ele foi o meu abrigo seguro quando mais precisei. Nathan me estendeu a mão. E já se passaram oito anos quando conheci o rapaz bonito que se tornaria meu melhor amigo, meu cunhado e pai da minha pequena luz, Luísa, minha sobrinha e afilhada.

Foi o meu novo vizinho da frente que me socorreu no momento mais difícil de minha vida. Nathan foi de uma generosidade grandiosa com alguém que nunca tinha visto. Caráter este que foi moldado com muito carinho pelos seus pais, que amo como se fossem meus tios, e é assim que os chamo: tio Davi e tia Ester.

Tio Davi era um excelente médico hematologista, que, ao chegar em nossa cidade, Rio Doce, no interior do Espírito Santo, montou um laboratório de análises clínicas e se dedicou com afinco nesse negócio, nunca deixando de clinicar. Já tia Ester era uma designer de interiores, mas se afastou da profissão para se dedicar aos filhos: Lucas e Nathan.

Lucas, o caçula, estava com 28 anos; e Nathan, o filho mais velho, com 30. Lucas era formado em administração de empresas e também administrava o Laboratório Central Rio Doce, que pertencia ao tio Davi. Tio Davi apostou todas as suas fichas em Luísa para seguir seus passos e se tornar uma grande médica, mas sempre deixou explícito seu orgulho pelos filhos. Nate era um excelente bioquímico. Tinha um amor tão louco e grande por sua profissão que era impressionante como contagiava todos ao seu redor.

Saí de meus pensamentos e voltei para a cozinha quando fui erguida do chão por um Nate muito feliz, o que me levou também a sorrir, pois sei o quanto ele lutou por este dia. Nós, as mulheres Silva, éramos complicadas em relação ao amor. E, por quase seis longos anos, Nathan esperou por um sim de Gabriela. Ficou arrasado quando fez inúmeras tentativas, mas Gabi sempre conseguia enrolar o coitado. Até mesmo quando descobriram a gravidez. Ou melhor, ele descobriu, pois ele próprio fez o exame. Nunca vi um homem tão feliz ao ver um positivo num teste de gravidez. Naquele dia, o orgulho estava estampado na face de Nate; e ele deu um susto enorme em Gabi, porque ela tinha medo da reação de papai quando ele descobrisse. Porém, papai nos surpreendeu quando derramou lágrimas de alegria e, como se quisesse demonstrar o seu amor incondicional às filhas, num forte abraço, ele disse: "Eu estarei sempre com vocês, contem sempre comigo para tudo".