Part I

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"Klaus Hargreeves, the haunted soul"


Tudo ao redor estava girando e era impossível para Klaus saber onde estava. Na verdade, sequer se lembrava onde estivera. Quando se está cheio de toxinas pela corrente sanguínea, tudo se torna confuso e a realidade era apenas um pesadelo dolorido e distante. Mas a sobriedade chegava cada vez mais rápido, uma dose nunca tinha o mesmo efeito e Klaus precisava de mais.

Ele abriu os olhos para o ambiente desfocado. Não sabia se estava em uma cama ou no chão, ergueu o corpo e não tinha senso de equilíbrio algum. Sentiu a cabeça dar uma reviravolta e em seguida uma pancada na testa. Uma certeza ele tinha: agora sim estava no chão.

Deixou um grunhido escapar e se sentou massageando a testa. Piscou os olhos várias vezes e finalmente conseguiu focar na figura que o encarava.

A silhueta à sua frente era tão familiar. Familiar, familia, familiares, as palavras dançaram pela sua mente o fazendo dar uma risada debochada. Nem a sua família o levava a sério. Ele ergueu os olhos vacilantes para o irmão à sua frente.

–Ben, eu preciso de mais... –Ele sussurrou com a voz rouca.

–Você precisa ficar sóbrio, Klaus! –O irmão tirou o capuz e o olhou. Era um olhar severo, mas também afetivo.

Ninguém o olhava assim, nem mesmo o pai deles. Aquilo fez o coração de Klaus doer, Ben acreditava nele.
Mas Klaus só sentia que era uma perda de tempo.

–As pessoas não me levam a sério. –Klaus murmurou tateando os bolsos da camisa em busca de um cigarro. Encontrou um e o colocou na boca. –Eu quero ficar chapado de novo.

–Acho que você não está mais acreditando em si mesmo, Klaus. –Ben murmurou encarando fixamente o cigarro como se desejasse socá–lo. Como se desejasse estar vivo.

Klaus sentia–se mal por ver o fantasma do irmão que não podia mais viver e desperdiçar a vida que tinha em frente ao morto.

–Para o inferno com suas palavras para estimular minha auto confiança, o que eu preciso é de um isqueiro. –Balbuciou procurando por um em seus bolsos, mas não encontrou.

–Você precisa estar sóbrio. –Repetiu Ben os olhos com traços asiáticos que eram tão diferentes dos seus lhe lançou novamente o mesmo olhar severo e carinhoso.

Klaus suspirou decidindo que ia tentar mais uma vez pelo irmão. Deixou que o cigarro caísse de sua boca.

–Você poderia ir pra qualquer lugar. Por que está aqui comigo? –Ele engatinhou pelo chão até ficar mais perto do irmão, agora ele sabia que estava em seu quarto na mansão. –Não acredito que escolheu ver eu me autodestruir por toda a eternidade.

–Você sempre me entendeu melhor do que os outros. –Ben murmurou se agachando e ficando de frente para o irmão. –Eu queria que soubesse que não está sozinho. Que tem alguém que te escuta.

–Merda, Ben. –Klaus resmungou piscando os olhos para afastar as lágrimas. –Você devia encontrar a luz ou algo assim.

–Não há luz para mim, Klaus. –Ele sussurrou e se sentou na cama voltando a colocar o capuz sobre a cabeça e encarou a janela do quarto como se estivesse enxergando algo ao longe. –Não mais.

Klaus observou o irmão, a imagem do morto o fez vasculhar pelas lembranças de Ben com vida. O pequeno Ben que dava vida aos monstros que deviam ficar debaixo da cama, o pequeno Ben que odiava o que podia fazer e que queria fugir e se esconder. O Ben que queria se sentir protegido e morreu porque ninguém pode protegê–lo.

–Ben... –Klaus sussurrou como se fosse começar a falar dos medos que ele só se permitia pensar nas madrugadas. –Por que nunca me pediu nada?

–O que quer dizer? –Ele perguntou se virando para Klaus, o rosto completamente escondido nas sombras do capuz como se seus lábios fossem a própria morte falando.

Klaus estremeceu.
–Os mortos sempre me contam segredos, me pedem para entregar mensagens e realizar seus últimos desejos. –Ele explicou e ajeitou as  levantando a cabeça para ler melhor as expressões mortas do irmão.

Ben não respondeu, mas passou o polegar sobre a palma da outra mão em silêncio. Como quando fazia quando era vivo e quando era criança, deixava de falar dos monstros que vinham de seu peito e guardava eles dentro de si.

–Se tem algo que eu possa fazer por você, pode me dizer. –Klaus disse sincero. –Você me ajuda sempre, se eu puder de alguma forma... Não vou hesitar.

–Eu sou o melhor irmão morto que você já teve. –Ele sorriu de forma obscura e sarcástica. Mas ainda era afetivo, como se o espectro de um Ben doce e carinhoso ainda estivesse ali.

–Estou falando sério. Eu devia parar com meus dramas por um instante e prestar atenção no que você tem a dizer sobre você. –Klaus acrescentou e observou enquanto Ben respirava devagar e pensativo.

–Eu pensei nisso antes, mas não daria certo. –Ele confessou por fim.

–Por quê?

–Porque a pessoa com quem eu quero falar, ela não pode encontrar com você ou nem sequer chegar perto dessa mansão ou de nenhum dos nossos irmãos. –Ben disse enfático e se levantando da cama para ir para o outro lado do quarto.

Klaus se levantou com esforço, a curiosidade o havia deixado um pouco mais sóbrio.

–Como assim, Ben? Me explica.
Ben colocou as mãos no bolso da jaqueta, um gesto tão humano e vivo que fazia Klaus esquecer que estava falando com um fantasma.

–Eu não quero que essa pessoa sofra mais como a gente sofreu por ser quem nós somos. –Ben murmurou mais para si, como se estivesse convencendo a si mesmo para não contar.

–Sofremos por termos crescidos com o nosso pai, por conta de nossos poderes... –Klaus comentou.

–Ela também sofre por causa dos poderes que tem. –Ben disse se virando de volta para o irmão. Suspirou como se estivesse desistindo de guardar aquele segredo.

–Ela... –Refletiu Klaus se sentando na cama. –Você teve uma namorada, Ben Hargreeves?

–Sim, e ela é uma nós... –Ben se sentou na cama ao lado do irmão.

Klaus se sentiu mais confuso com aquilo do que com efeito das drogas.
–Uma de nós? Uma de nossas irmãs?

–Inferno! Claro que não, Klaus! –Ben resmungou fazendo uma careta como se os pensamentos de Klaus fossem bizarros demais até para um Hargreeves. –Mas quer dizer, ela poderia ter sido... Se nosso pai tivesse descoberto ela.

Klaus arregalou os olhos e se levantou agitando os braços.
–Você quer dizer que é uma daquelas crianças que nasceu no mesmo dia que nós?

–Sim, exatamente igual. A mãe não demonstrava sinais de gravidez antes, ela nasceu com uma habilidade... peculiar. –Ben completou.

Klaus andou pelo quarto até encontrar os sapatos e os calçou desajeitadamente. Puxou o cobertor da cama e encontrou o casaco debaixo dele e começou a se vestir.

Ben o observou com um olhar inseguro.

–Preciso conhecer ela! Ela vai ficar feliz de receber uma mensagem sua do além, não acha?! –Klaus parou de frente para o espelho no guarda–roupa e limpou o lápis de olho que estava borrado demais.

–Pode ser perigoso se vocês dois se encontrarem. –Ben alertou se levantando da cama e coçou a nuca. De novo, ele não parecia tão morto assim.

–Por quê? –Klaus perguntou saindo pelo corredor da mansão.

–Se eu disser você vai desistir de encontrá–la? –Ben ergueu a voz enquanto Klaus descia as escadas correndo em um súbito momento de euforia.

Ele se virou para o fantasma do irmão com um sorriso quando disse:
–Claro que não.

E Ben escorregou pelo corrimão atrás de Klaus para encontrar a ex namorada no meio da madrugada. Esperava que ela aceitasse a visita de um espírito àquela hora.

✔ HAUNTED | Ben HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora