Voyage à trois • {taeyoonseok}

02 | Aquele em que Taehyung quer fazer xixi

— Taehyung, quando eu disse que era só uma mala, não 'tava contando que você arranjaria uma que vale por três.

Yoongi e Hoseok estavam de volta à casa do mais novo. A bela e fresca manhã prometia um ótimo começo de viagem ao trisal, com nuvens pequenas espalhadas no céu como várias pipocas derrubadas pelos anjos. O pequeno relógio da cozinha de Taehyung, uma relíquia desnecessariamente feia herdada por sua mãe da avó dela — que consistia num quadro de uma cabana em frente a um lago, cheio de brilhos ofuscantes e detalhes que, ao invés de valorizarem a pintura, só contribuíam para sua esquisitice; tudo isso com dois ponteiros grudados no meio e somente os quatro números principais ao redor e ainda emoldurada por uma madeira velha que contrastava com o conteúdo em seu centro —, marcava nove horas e alguns minutos.

A esse horário, poderiam estar tomando café em algum posto de gasolina de beira de estrada, algo que Taehyung apreciaria muito, aliás. Poderiam estar sendo servidos por sua mãe na cozinha — isto é, se seu pai não tivesse acordado assim que os meninos chegaram —, encarando aquele mesmo relógio horroroso e comentando sobre ele até que sua mãezinha o defendesse — ela sempre o fazia. Poderiam já estar dentro do carro, ou fazendo qualquer outra coisa; contanto que Taehyung não estivesse tendo tanta dificuldade em passar sua mala pela porta da sala.

A mala em questão era um monstro cor de rosa que só vazia já devia pesar uns três quilos. Cheia como estava, então, talvez fosse mais pesada que Yoongi — o que na verdade, e Taehyung tinha de admitir, não era tão difícil. Ela tinha um metro de altura e quarenta centímetros de largura, e sua profundidade tinha pouco mais que o tamanho de uma régua.

— É, amor, e aquela história de que não ia exagerar? — Hoseok inclinou a cabeça, como se prestes a fazer uns cálculos para ver se aquilo ia caber no porta-malas da Abigail; mas Taehyung sabia que ele logo desistiria porque, bem, ele se dizia de humanas e sempre usava isso como desculpa por ter dificuldade em matemática. Logo, nem se dava ao trabalho de tentar.

— Eu preciso de todas essas roupas... e isso porque eu nem 'tô levando o Teobaldo, Gi, porque não coube na mala.

Teobaldo era um pinguim de pelúcia azul, o preferido de Taehyung e sua principal defesa contra os pesadelos noturnos que viviam lhe perturbando. Taehyung não conseguia dormir sozinho por causa dos sonhos ruins e o pequeno pinguim era mais que uma companhia: ele era seu cavaleiro corajoso, que o protegia e afastava todos os monstros da noite. Mas além de Teobaldo, havia outra companhia que afastava os pesadelos.

— Só porque não coube na mala? — O mais velho dos três ergueu as sobrancelhas. — Ou também porque...

— 'Tá bem... também não levo ele porque quando eu durmo com vocês, não tenho pesadelos.

Mas a batalha contra a gigante mala rosa continuava — e era tragicamente perdida por Taehyung, que tentava passar pela pobre porta da casa ao mesmo tempo que a mala. Quando Yoongi se cansou de observá-lo, foi até o namorado e pegou a mala de suas mãos, passando-a primeiro e abrindo espaço para que ele pudesse fazer o mesmo.

Assim que se viu liberto, Taehyung se despediu de seus pais na sala com um aceno, ignorando o olhar de ódio de seu pai sobre seus namorados. "Como se não bastasse ser só viado, ainda me aparece em casa namorando não um, mas dois outros viados. Você não tem nenhuma vergonha na cara, mesmo, Taehyung. E eu me envergonho de já ter te chamado de filho." Ele constantemente tentava se esquecer de tudo aquilo, mas só era tão difícil porque ninguém consegue simplesmente esquecer feridas abertas, apenas cicatrizes. E seu pai fazia questão de abrir a ferida novamente sempre que ameaçava cicatrizar.

Mas tudo bem! De verdade. Porque ele ainda tinha Hoseok e Yoongi, afinal, e os amava tanto, e nada poderia estragar isso. Fechou a porta de casa atrás de si e foi até seus amores, que no momento tentavam fazer a mala rosa caber no porta-malas diminuto da Del Rey junto com as próprias coisas.