o conjurador

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Posso parecer o jovem adulto mais estranho do mundo ao dizer isso, mas eu nunca fui o tipo de pessoa com dificuldade de acordar pelas manhãs. Mesmo que eu dormisse muito tarde ou estivesse mais cansado do que nunca, sempre que o relógio marcava cinco da manhã eu já estava em pé e pronto pra mais um dia. Eu não sei bem como que esse meu relógio biológico foi me tornar um dos jovens adultos que menos se identifica com tweets sobre acordar tarde, mas nunca fui de me preocupar muito, até porque ver o sorriso radiante do meu pai quando eu o acompanhava na pesca matinal fazia com que tudo valesse a pena.

Mesmo que nós dois soubéssemos que o mês de junho já tinha começado e que deveríamos ficar o mais longe possível do oceano que conseguíssemos, ambos fomos um tanto teimosos ao preparar as redes, caixas térmicas e todo o restante do barco naquele dia. Como ainda era o início no mês, fomos com cautela, mas também com certa tranquilidade, para o alto-mar, jogando as redes do mesmo jeito de sempre enquanto preparávamos mais iscas e ficávamos de olho em toda a água ao nosso redor.

Nós conversamos pouco, ambos estávamos focados demais nos nossos próprios pensamentos pra acabar comentando qualquer coisa um com o outro durante o trabalho, mas simplesmente a presença do mais velho ali já me deixava um tanto calmo mesmo que eu pensasse no que tinha acontecido no dia anterior.

Conhecer um tritão era a última coisa que eu esperava realizar em vida, sabe? E me lembrar de toda a fisionomia e a forma como Taehyung me olhava curioso acabava me trazendo arrepios que me subiam pela espinha com rapidez. Diferente do que os livros e filmes mostravam, o Kim era grande em seu comprimento, tendo a cauda tão longa quanto as pernas do maior jogador de basquete do mundo, e por mais que aquela sua parte do corpo se parecesse muito com a de um peixe, ele tinha nadadeiras e escamas que pareciam ter texturas e formas bem diferentes do que qualquer peixe por aí.

Por mais humano que ele fosse, o tritão tinha de tudo para não se parecer conosco, não só pelos traços belíssimos e totalmente proporcionais, quase como quem ganha em primeiro uma competição de homens mais lindos do planeta terra, mas também por detalhes aqui e ali que fariam com que qualquer pessoa pensasse "Esse garoto não é daqui". Seus olhos tinham as íris um tanto maiores que o comum, como se ele usasse aquelas lentes que ídolos coreanos costumam usar, e mesmo com a pele douradinha de sol ele tinha um brilho diferente na epiderme, como se fosse envolto de um brilho e magia que nenhum maquiador jamais poderia reproduzir com iluminador.

Ele era inteiro perfeito, desde a mínima escama até o sorriso quadradinho que me contagiava a sorrir junto, era como se ele fosse tudo o que eu imaginei para o homem perfeito, mas também acabasse contradizendo todos os meus pensamentos ao ser outro conceito de perfeição que é bem diferente do que eu estava acostumado. Lembrar de todos os traços de Taehyung e da sua maneira de gesticular e falar, acabou me fazendo chegar à conclusão de que eu jamais conseguiria chamar um homem de lindo de novo, porque nenhum humano sequer chegaria aos pés da beleza que aquele tritão possuía.

— Jimin?

— Hum? — me virei para olhar para o meu pai que estava sentado do lado contrário do barco, e logo me apressei em ir para perto dele para que pudéssemos puxar a rede que ele subia de pouco em pouco com a ajuda de um mecanismo que tínhamos instalado na embarcação.

— Acho melhor irmos embora, filho.

— O que? Por que? Só ficamos três horas aqui, ainda tem tempo de esperar um pouco mais os peixes.

— Eu sei, Ji, mas acho que hoje não vai dar certo. — ele suspirou decepcionado, vendo que a rede, mesmo que parecesse cheia, tinha apenas um terço do que costumávamos pegar. — Com o mar desse jeito e as correntes mudando, não vamos conseguir muito.

o conjurador de marés | vmin / pjm +kthOnde histórias criam vida. Descubra agora