o conjurador de marés | vmin / pjm +kth

molhando os pés

O mar pareceu sorrir pra mim, trazendo as ondas mais calmas junto de uma brisa salgada como se soubesse que ele teria que ser calmo para que o meu coração aguentasse. Depois de ouvir aquela voz, tão próxima e em um lugar que jamais imaginaria a ouvir, todo o meu corpo pareceu congelar, totalmente despreparado para um momento como aquele e sem reação alguma por não conseguir sequer imaginar o que teria acontecido para que aquilo fosse possível. Eu tinha imaginado aquilo? Acabei dormindo no píer enquanto olhava para a caixinha que minha mãe deixou pra mim? Não era possível, era? Ele não poderia estar ali, a poucos metros de mim, a não ser que...

— Minhas pernas vão começar a doer por ficar parado em pé, Chimchim.

Então me virei, sentindo meu coração quase escapar pela minha boca pra correr para longe quando tive aquela visão que jamais imaginaria ter. A alguns metros de mim, muito bem equilibrado sobre as pernas longas, estava aquele que eu já tinha acostumado a ver com uma longa cauda e muitas escaminhas espalhadas pelo corpo. Taehyung tinha as mãos ao lado do quadril, como se precisasse muito delas ali para manter o equilíbrio, o que era adorável porque ele tinha os braços um tanto abertos e parecia um pinguinzinho; seu sorriso quadradinho só o deixava ainda mais fofo em toda aquela cena.

Diferente do que a dona Disney nos ensinou, o tritão não estava nu ou coberto de trapos, e sim muito bem vestido de um jeito bem humano e excêntrico, o que combinava bastante com ele. Ele usava uma calça social preta que era muito bem acompanhada de um sapato social envernizado de mesma cor, já na parte de cima eu conseguia ver que ele vestia uma camisa branca com bordados no colarinho que estava passada por dentro da calça, mas isso não importava muito, já que ele vestia um sobretudo bege que ia até metade de suas coxas e parecia o deixar muito bem aquecidinho contra o vento gelado que o oceano parecia soprar. Talvez o que eu mais gostasse naquele look fosse a boina francesa de mesma cor que o sobretudo e os óculos de armação fina, que era o que o deixava mais chique e me fazia parecer alguém com zero estilo porque eu continuava a usar as mesma roupas que molhei quando o encontrei mais cedo.

Até aquele momento eu tinha me mantido parado, abraçando a caixinha de madeira enquanto eu encarava o tritão como quem via algum tipo de miragem, mas bastou que ele inclinasse a cabeça em confusão e me sorrisse meio envergonhado para que eu acreditasse que era real e, bem... Corresse em direção a ele. Meio louco da minha parte correr para um abraço dessa forma meio desesperada, como quem precisa de uma certeza pra enfim conseguir respirar direito, mas não pude me conter quando me joguei entre os braços longos, ainda segurando a caixa com uma das mãos quando a outra se enlaçou ao redor da cintura fina.

— Chim...! — ele exclamou um tanto desesperado quando ambos perdemos o equilíbrio, e o baque dos nossos corpos caindo na madeira firme do píer pareceu doloroso. Ele caiu sentado, ambas as mãos no chão para manter o tronco erguido, enquanto eu caí em cima dele e agora estava em seu colo. — Enlouqueceu? Pelos oceanos, Chim, eu nem tenho equilíbrio direito!

Taehyung parecia assustado e um tanto desesperado por termos caído daquela forma porque fui tão impulsivo, mas eu, sinceramente, não estava ligando muito, até porque eu não conseguia parar de rir a plenos pulmões enquanto o olhava, o que acabou me fazendo manter um sorriso tão grande em lábios que logo percebi que ele correspondia de pouco em pouco.

Deixei a caixinha de madeira do nosso lado para que eu pudesse ter ambas as mãos livres, as quais não demorei em levar até o rosto do tritão, o tocando para sentir cada um dos seus traços tão únicos. Por ser um humano agora, ele não tinha mais as escaminhas claras por seu rosto e sim sardinhas de fato, o que ficava ainda mais adorável com o douradinho de sua pele que pareceu ter sido mantido e chamava minha atenção como sempre. Mesmo que não fosse mais um tritão, ele ainda mantinha aquela beleza incomparável e inalcançável, e me sentia o mais sortudo dos homens por ter sido o primeiro a vê-lo daquela forma.