capítulo 6

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(Narrado por Helly)

— Filha? Até que enfim. Achei que mamãe não tivesse deixado você vir.
— Desculpa a demora. Ela me fez jantar antes de vir. Sopa de frango.
— E por que você não trouxe para mim?
— Por que vai tempero artificial, e eu sei que isso é muito gorduroso para você. Mas eu te trouxe isso — Estendeu as mãos mostrando uma trufa de limão.
— Não me trouxe sopa mas me trouxe chocolate? Uau.
— Uma colherzinha de sopa só não ia te satisfazer. Um bombonzinho nunca matou ninguém. Mas se não quiser, eu mesma como... — Falou desviando seus olhos de mim. Extremamente cara de pau!
— Me dê!! — tomei rápido de suas mãos já desembalando e dando uma primeira e bela mordida.
— Uau. Vai com calma, ou vai ter queimações.
— Um bombonzinho nunca matou ninguém.
— Hahaha. — deu a língua — pronta para a sua noite de garota?
— Sim, senhorita. O que faremos primeiro?
— Começaremos pela pele. Limpe ela com esse soro fisiológico e um algodão.
— E por que eu não lavo com água e sabão?
— Por que isso da espinha, por que tá frio e você teria que levantar.
— Ok, ok. Fazendo movimentos circulares?
— Isso.
— E depois?
— Passe o tônico.
— Cadê?
— Ah, é! Esta na minha mochila.

Ah, é! Imito tirando sarro.

— Ô, espertinha, eu já ia pegar. Passe logo.
— E depois disso?
— Daí vem as máscaras faciais. Você quer de avocado ou Sakura? Avocado? Ótima escolha.
— Mas eu nem disse nada.
— Mas a de Sakura é minha. Antes de usarmos as máscaras, vou fazer as mesmas coisas que você, e já vou ligar o DVD..
— Estou esperando.

Observo minha filha fazendo tudo. Completamente boba e apaixonada por ela. Ela é tão linda. Dá vontade de sair mostrando ela pro mundo e dizer: “Fui eu quem fiz”.

— O que tanto olha? — Ela me pergunta.
— Você, não é óbvio?
— Sim. Mas por que?
— Por que você é linda.
— Tive a quem puxar.
— Onde está o controle da TV?
— Aqui.

Ela tenta ligar a TV, mas é falho.

— Sem pilhas? Sério? Mãe, bipa o papai agora.
— Ele deve estar ocupado, filha.
— Problema é dele. Quem concorda que eu posso assistir filme com minha mãe, mas não me fornece pilhas? Pode chamar ele agora.
— Está bem.

(Narrado por Jimmy)

— Então, o que a mocinha tem? — pergunto a pequena paciente de quatro anos sentada a minha frente.
— Doutor, ela tem tido muita febre, e tremedeiras constantes. Ela também anda produzindo muita saliva. — respondeu a mãe.
— Certo. Mocinha, você pode acompanhar essa luz com os seus olhos? — E assim ela faz — agora diga “A” — dou uma olhada em sua garganta que aparenta estar um pouco inflamada. — Agora o ouvidinho. Isso pode fazer cócegas e é geladinho. — A mesma se encolhe e dá uma risadinha assim que encosto o aparelho nela.
— Mãe, ela teve vômito? — Pergunto.
— Não, senhor.
— Bom, os sinais vitais estão estáveis. Você disse que ela fabricou muita saliva, certo? Ela comeu algo de diferente nos últimos três dias?
— Salada de maionese.
— Como eu imaginei. Está vendo essas manchinhas na pele? Ao que tudo indica, ela é alergica a proteína da clara do ovo. Vou passar um remédio que vai ajudá-la a vomitar, e você deixa. É importante para expulsar o que causou mal no corpo. Também vou pedir um examezinho de sangue. Ela é alérgica a algum medicamento?
— Não, senhor.
— Pois bem. Ela vai ficar bem enjoadinha por conta do remédio, por tanto eu recomendo que você a deixe descansar. Distraía ela com um desenho ou coisa assim. Evite dar coisas de diferente para ela comer e nada de bolinhos ou coisa assim. O remédio deve ser dado por três dias de doze em doze horas e pode ser misturado em papinha. Você vai fazer o exame de sangue hoje e depois que acabar o remédio, outro. Como eu ainda não sei a gravidade da alergia dela, você me trará os exames, e dependendo, lhe encaminharei para a nutricionista, pedindo uma dieta especial.
— Muito bem. Obrigada mesmo, doutor.
— No que precisar, estou aqui. Tchau, docinho. Toma um pirulito, você foi corajosa.
— Até mais.
— Até.

Finalizo a consulta e ouço meu pager bipar. É a Helly. Com certeza ela está bem. Aposto que Madson que quer algo.

Me apresso até a sala de minha atualmente meia esposa.

— Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu, sim, senhor! — Diz Madson
— E o que aconteceu?
— Acabaram as pilhas e essa TV não tem botão. Não dá pra assistir Sempre ao seu lado se eu nem ao menos consigo ligar a TV.

Olho para Helly que ri e da de ombros.

— Venha comigo, mocinha.
— Pois bem.

Vou com a minha filha até o almoxarifado. A mesma está de braços cruzados e tem uma expressão zangada.

— Ei, mocinha? Você está brava?
— Eu, não. Só estava encenando.
— Preciso te dizer algo.
— Pois diga.
— Enquanto você foi lá na sua vó, sua mãe sentiu um certo enjôo. Demos um medicamento junto com soro, e é capaz que ela sinta sono. Não fique zangada se ela dormir no meio do filme, está bem?
— Tudo bem, eu entendo.
— Você é a melhor. Aqui está o almoxarifado. Pegue as pilhas que precisa e depois volte pro quarto. Eu já vou indo, estou de plantão. Tenham uma boa noite, eu amo vocês.
— Nós também te amamos, pai.

Um ultimo desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora