prólogo

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Angústia. Era isso que Jimmy Tompson sentia, andando de um lado pro outro vendo sua paciente, e ex-esposa de apenas 32 anos de idade internada após um acidente comprometedor, aonde um caminhão desgovernado bateu no seu carro durante um semáforo fechado. A, agora fragilizada e abatida mulher, havia despertado de um coma de dois longos anos após seu acidente que aconteceu no dia de uma briga feia do casal. A filha de 13, quase 14 anos deles, nem se quer falava com Jimmy, afirmando ser culpa dele o estado em que sua mãe se encontrava. E agora, ela finalmente estava acordando, aos poucos.

Jimmy sempre fez a total questão de estar presente com ela, e ela respondia as suas conversas com sinais, como por exemplo melhoras notáveis em seus sinais vitais toda vez que a voz de Jimmy era proferida, e parecia confiar nele e cada fase ruim pela qual ela passava, já que seu corpo reagia bem aos seus estímulos, como por exemplo, massagens para ajudar na circulação de seu sangue. Agora ela finalmente estava acordando, e Jimmy não teve coragem de desperta-la, com medo de que ela recuperasse as suas memórias do dia do acontecimento tudo de uma vez, a briga, a batida, a saída de casa do Jimmy, e se revoltasse contra o mesmo. Ele não precisava de mais esta agora.

Uma hora e meia após Helen ter acordado, Jimmy resolveu ser corajoso e ir vê-la. Aos poucos se aproximou e encontrou sua, ainda tão amada, ex-esposa deitada calmamente.

— Hey, Helly? Esta acordada?
— O que faz aqui?
— Bom, eu ainda sou médico
— Esqueci desse detalhe – A mais nova disse gargalhando gostoso – desculpe, ainda estou fora de mim. Você sabe, muitos medicamentos. Estão me deixando pirada.
— Como você se sente?
— Viva, novamente.
— Não quer saber do que aconteceu nesse tempo?
— Atualize-me, super Jimmy. Comece por Katherine.
— Ela não está falando comigo. Ela me culpa pelo acidente, e talvez ela não esteja tão errada. Ela ficou com sua mãe, nesses dois anos. E eu preferi não contestar.
— Uau. Mas a culpa não foi nem sua, nem minha. Foi daquele motorista desgovernado. Por algum acaso você desejou feliz aniversário para ela? Nesses aniversários que eu estive “longe”?
— Eu liguei todas as vezes, mas sua mãe nunca conseguiu a convencer a falar comigo.
— Teimosa, igualzinha ao pai.
— Mesmo dois anos depois, você continua linda, Helly. A mesma pela branca como a lua, os cabelos negros como a própria abóbada celeste noturna. As suas sardinhas semelhantes a constelações. Você entrou em coma ou esteve congelada?
— Jimmy.... Passaram-se dois anos. Você ainda não encontrou ninguém?
— Eu esperei por você! Mesmo sendo arriscado que você nunca mais quisesse me ver, eu não tenho olhos para mais ninguém a não ser você, minha esposa e mãe de minha filha.
— Achei que tivéssemos nos separado.
— Judicialmente, ainda somos casados, já que você não teve como assinar o divórcio.
— Eu estava meio indisposta — Brincou divertida.
— Você me perdoa por tudo?
— Jimmy, eu até te perdoo, mas isso não significa que estamos reatando. Você foi um babaca, destruiu nossa família por seu emprego. Nós precisamos de você enquanto tudo o que você fazia era trabalhar desesperadamente. A Kat estava crescendo com um pai cada vez mais ausente. Não foi pra isso que eu casei, Jimmy.
— Eu sei que eu errei. E não peço que me aceite de volta — ela me olhava sugestiva — apenas, me deixe ser seu amigo e continuar cuidando de você, como médico.
— Tudo bem, por mim. Eu quero ver Katherine.
— Ela já chegou, na verdade. Mas eu disse que você estava dormindo, precisava conversar com você primeiro.
— Chame ela, por favor.
— Tudo bem.

O encontro das duas foi bem cheio de lágrimas nos primeiros cinco minutos, tempo que fiquei escorado na porta, vendo as mulheres da minha vida matarem sua saudade. Depois eu saí, para dar mais privacidade a elas.

Fui tomar um café e tombei com Jack, meu amigo e oncologista chefe do hospital em que eu trabalhava.

— Hey, Jimmy! — Me cumprimentou com um abraço de lado e dois soquinhos em minhas costas.
— Olá, Jack.
— Fiquei sabendo que a Hellen acordou.
— Sim. Você sabe se já fizeram todos os exames nela?
— Na verdade, eu estou indo buscar o resultado da tomografia dela agora, quer ir comigo?

Sem hesitar, eu disse: — Lógico.

— Então vamos. — Ele disse pegando seu café expresso e eu o meu americano.

Chegando na sala de resultados ele recolheu e foi até seu consultório, analisar sob sua luz azul favorável ao plástico do tipo de raio-x.

— Cara, as minhas notícias não são as melhores. — Jack se pronunciou com uma cara nada agradável.
— O que está acontecendo?
— Ao que tudo indica, e indica mesmo, Helly tem um tumor no esôfago. E pelo seu tamanho, ele não é benigno.
— Como assim cara? E por que só descobriram isso agora?
— Ela passou dois anos totalmente fora do ar, Jimmy. Você, como neurocirurgião deveria saber que essa doença é silenciosa.
— Mas ela estava tão bem. Sinais vitais estáveis, respondia a todos os estímulos. Ela praticamente só dormiu.
— Hey, cara, não perca as esperanças. Ainda pode dar tudo certo. Posso submeter ela a uma cirurgia e ver o que conseguimos remover manualmente.
— E como eu vou contar a ela? Ela estava tão bem, disse se sentir cheia de vida em tempos.
— Eu até contaria, isso é minha função. Doutor câncer, sabe. Mas você é legalmente o marido dela e também o pai de sua filha. Não acha melhor que você conte? Que ela tenha alguém pra se apoiar?
— Tudo bem. Mas eu não vou conseguir fazer isso agora. Preciso de um tempo.
— Vá a sala de descanso, eu marcarei a cirurgia assim que você contar e ela escolher se tratar.
— Está dizendo que ela pode se opor ao tratamento?
— Cara, você é médico a quanto tempo, mesmo? Já deveria saber do lado judicial dos procedimentos.
— Tudo bem, desculpe.
— Vá descansar. Algo me diz que você vai ser muito usado como apoio nos próximos meses. Precisa de energia para isso
— Ok. — me retirei de sua sala, ainda extremamente abatido.
— Jack! — O chamei sugestivo.
— Sim?
— Quer sair pra beber hoje? Como nós tempos da faculdade?
— Vou pensar no seu caso, garanhão.
Saí da sala dando uma risada nervosa.

Chegando a sala de descanso tentei deitar-me para tirar um cochilo. Mas não deu certo. Assim que encostei a cabeça no travesseiro fui bipado, era Helly. Levantei e coloquei o Crocs às pressas indo até sua sala.

Um ultimo desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora