Eu estou bêbada pela primeira vez.
Pela primeira vez na vida não sinto que todos estão prestando atenção em mim, esperando por uma fala inapropriada, um movimento estranho ou uma careta para eu virar motivo de piada. E isso é libertador.
O copo com o líquido de gosto horrível continua em minha mão direita, enquanto minha mão esquerda está pousada em cima da mão de Camile. Uau, Camile não está apenas conversando comigo, ela está fitando os meus olhos com os seus olhos amendoados e encantadores. E eu não consigo parar de mover o meu olhar para sua boca carnuda e levemente rosada. Mas eu não me sinto nem um pouco envergonhada e, se tratando de mim, isso é surpreendente.
-Parece que sua amiga está procurando por você - Camile fala e eu paro, por um minuto, de fitar sua boca, movendo minha cabeça para trás e me deparando com uma versão louca e confusa da minha melhor amiga, Flora.
-LÍVIA!! - Flora grita e se aproxima, o cabelo grudado em sua testa por causa do suor- Eu te procurei em todos os lugares possíveis e... -Ela para de falar quando percebe Camile ao meu lado e nossas mãos entrelaçadas.
Fito Camile, que está com uma expressão indecifrável e apática, e em seguida volto minha atenção para Flora, que permanece em pé, olhando para nossas mãos entrelaçadas. Por fim, distancio minha mão e finjo ajeitar meu cabelo atrás da orelha.
- Oi - é tudo o que eu consigo falar.
-Oi, prazer, meu nome é Camile -ela se levanta e oferece sua mão à Flora, a qual concorda com a cabeça em um aceno rápido, os olhos fixos em mim esperando por uma explicação.
Faço um sinal com os ombros, indicando que não sei o que está acontecendo. Também não sei mais aonde pousar meu olhar, então me concentro na bebida em minha mão e dou mais um gole. Horrível, porém suportável.
-Ahn... -Flora solta um som estranho e olha para os lados, como se procurasse um motivo plausível para sair dali- Depois eu falo com a Lívia...Até mais!
Minha melhor amiga acena de forma animada e sai do pequeno cômodo, deixando eu e Camile sozinhas novamente.
-Eu disse algo errado?
-Não -respondo e volto minha atenção para Camile, que está sentada de novo ao meu lado. Nossas pernas estão a milímetros de distância e em um movimento involuntário eu me aproximo um pouco mais, roçando levemente nossos joelhos.
O ato parece imperceptível para quem nos assiste, mas pode acreditar que para mim é um grande passo.
-Então... -Camile começa a dizer, alternando seu olhar entre meus olhos e minha boca, enquanto esboça um sorriso travesso- Foi muito bom te conhecer.
Ai.Meu.Deus.Eu.Acho.Que.Vou.Morrer.
-Também foi muito bom te conhecer -respondo e sorrio, sentindo minhas bochechas levemente coradas. Ok, eu ainda não estou tão bêbada ao ponto de ficar 100% desinibida.
E a verdade é que eu conheço Camile há um bom tempo. Desde que entrei na São Sebastião, minha atual escola, um ano atrás, eu já observava cada passo de Camile. Ok, isso parece algo meio psicótico e obsessivo, mas não é o quê você está pensando.
Um ano atrás ela estava no segundo ano do ensino médio, enquanto eu era uma aluna novata, deslocada e sem amigos do primeiro ano. Nossas salas ficavam no mesmo corredor, então constantemente eu via Camile passar por ele, rodeada de amigos e sempre cumprimentando alunos de outras salas. Eu sempre a achei bonita e me senti insuportavelmente atraída pelo seu charme único e irresistível, mesmo eu nunca tendo trocado sequer uma palavra com ela.
Bom, isso acaba de mudar. Camile está a poucos centímetros de mim, nossos joelhos estão se encostando e estamos a um passo de nos beijar. Belisco discretamente a minha perna e tenho certeza de que isso não é um sonho. Uau.
Agradeço mentalmente por Flora ter me convencido a ir nessa festa idiota. Não mais idiota, para ser sincera. Uma festa deixa de ser idiota quando Camile está do seu lado prestes a te beijar.
-Suas bochechas estão vermelhas -ela diz e coloca a mão em meu rosto, seu polegar roçando de forma suave a minha bochecha direita. Minha pele parece pegar fogo.
-Ah, é um bônus da timidez -respondo e fecho os olhos, aproveitando cada toque da sua mão em meu rosto.
Permanecemos assim por alguns segundos, com o barulho abafado da música alta que atravessa a fina parede que nos separa do resto dos convidados.
Com um movimento gracioso ela se aproxima de mim e sinto a sua respiração fazer cosquinhas em meu rosto. Abro os olhos no exato segundo em que Camile deposita um selinho sugestivo e demorado em minha boca. Fecho novamente os olhos, em um estado de epifania tão grande que pareço flutuar, saboreando o momento tão sonhado e repetido incontáveis vezes em minha imaginação. Seus lábios são macios e quentes, sua boca tem um leve gosto de cerveja e cigarro, sua mão em meu pescoço me faz arrepiar e eu sinto borboletas em meu estômago.
Passo meus dedos pelo seu cabelo curto e macio, arranhando levemente a sua nuca. Sua pele é quente como fogo. Os poucos centímetros que nos separavam agora são inexistentes. Ela passa suas mãos pelas minhas costas e levanta suavemente a minha blusa, apertando a minha cintura.
Repito:
Acho.Que.Vou.Morrer.Camile termina o beijo com uma leve mordida em meu lábio inferior e continua com a mão em minha cintura, enquanto nos olhamos por demorados segundos.
Não há nada melhor do que beijar uma garota, eu penso.
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De cabeça pra baixo ⚢ -EM REVISÃO-
Teen FictionLívia é uma adolescente comum que está vivenciando as novas e conturbadas emoções da adolescência ao lado da sua melhor amiga, Flora. Lívia nutre uma paixão platônica por Camile, uma garota da sua escola, há mais de um ano. Ao ser convencida por Fl...