Prólogo

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Maldryr riu com gosto, exibindo seus dentes enormes, amarelados e pontiagudos, como lanças mortais. O som de seu riso era profundo e assustador — divertido, também, na opinião da criança.

— Mas que racinha hipócrita, essa sua! — exclamou ele com uma voz potente de trovão. — Abandonar os filhotes que nascem desprovidos de algo? Isso é ridículo... Se um pai ou mãe sabe que a cria não vingará, é menos ruim matá-la e evitar seu sofrimento. Largá-la no meio do nada é um crime ainda pior.

— Meu pai disse que eu consigo me virar sozinha — retrucou inocentemente a menina, abraçada aos próprios joelhos. Descobrira gostar de ficar sentada daquele jeito. Fazia com que se sentisse mais segura.

— Bem, ele mentiu — sibilou o poderoso drakar. Seu tom de voz foi quase melódico.

Maldryr abaixou a cabeça escamosa, querendo encará-la de perto. Girou o longo pescoço, de forma a fazer com que um imenso olho amarelo, flamejante, cortado ao meio pela pupila vertical, ficasse de frente com ela. Achou muito intrigante a suposta coragem que a criança mostrava possuir ao não tentar se afastar dele.

— Você parece ser bem inteirinha, filhote de homem. O que te falta, afinal? — quis saber. — É força? Agilidade? Atitude? Um juízo saudável?

A menina meneou a cabeça em negação.

— Eu não enxergo — respondeu.

O largo sorriso de Maldryr desapareceu imediatamente.

Vermelho: Histórias de Ërda (Universo Världen) | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora