Querida Darla Price,
Escrevo entre as pausas dos nossos inexplicáveis dias juntos.
A ideia sempre foi partir e seria rápido, querida. Não havia pendências. Você sabe como meus pais são uma mistura esquisita de dois bêbados. E então, você resolve aparecer no cenário.
Nem de longe imaginei que dizer adeus seria a parte mais difícil e dolorosa.
Achei que estava delirando, Darla.
Foi naquele parque, próximo à nossa antiga escola. Você usava um colete que roubou no meu armário, tinha botas de salto grosso e conversava com umas crianças que brincavam por ali. Alguns dos pequenos apontaram pra mim e você virou o rosto, magnificamente.
Lembra do que disse naquele dia?
"Eu engravidaria agora, só para ver um bebê meu correndo por aí."
E sabe no que eu pensei?
Apesar dos teus cabelos negros como a noite e olhos verdes. Imaginei uma pequena garotinha, fios em um tom loiro escuro como os meus e a íris banhada em um castanho esverdeado.
Uma filha minha. E sua também.
Então, percebi que não é delírio, querida.
É muito pior.
Eu estou apaixonado; desmanchando por você a cada novo encontro.
Somos a fantasia à dois que eu sempre me fez torcer o nariz.
Na semana passada, quando olhamos as estrelas em cima do telhado do meu vizinho, você disse que te apresentei a vida.
Mas, você me fez conhecer o amor.
Quando te ensinei a pilotar a minha Harley Davidson-Softail, foi estranhamente tentador acelerar e te levar embora comigo.
Eu sou carreira solo, querida.
E somente Darla Price foi capaz de me fazer repensar sobre isso.
Eu passei noites em claro ouvindo suas reclamações sobre a proibição de mulheres dentro de um júri. Eu disse que elas poderiam ser até mais importantes do que os homens. E você rebateu:
"Apenas iguais. Todos iguais."
E eu não consigo encontrar um só motivo para que eu não ame você.
Esse papel, com manchas de café, é pequeno demais para que eu possa destrinchar todos os nossos dias até aqui. Então, espero que não esqueça das vezes em que dançamos no meu quarto-porão, das invasões na piscina do antigo colégio, os longos beijos de despedida e minhas torradas queimadas.
E Darla, você precisa saber que eu te odeio por dificultar a minha ida. Mas, eu te amo por me dar um motivo pra voltar.
Até breve, querida.
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ROTA 66
Historia CortaQuão breve a vida pode ser? Charles Reed era um aventureiro nato. Colecionador de histórias. E Darla Price era uma contadora de todas elas. Ele queria ter uma morte lendária. E ela, uma vida memorável. Essa é uma história sobre como a rota, mais fa...