12.

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Durante toda a noite, eu rolo na cama, sem conseguir dormir, olhando apenas as estrelas, ao longe, pela janela. Todo o meu corpo estremece com a ideia de eu poder não me lembrar da minha primeira vez, que era suposto ser especial, e neste momento não me é nada.

Sei que toda a gente dorme, porque apenas se ouve o que vai na rua, a casa está silenciosa. Olho para o relógio, que marca as 4h da manhã, e suspiro pesadamente, frustrada. Sinto uma vontade enorme de ligar para a minha mãe e fico ainda mais frustrada quando sei que ela não vai atender, porque estará provavelmente desmaiada num beco escuro. No entanto, a minha mão move-se de forma involuntária, marcando um número que eu não quero.

– Sim? – A sua voz ensonada faz-se ouvir, fazendo-me sorrir. Imagino a forma como as suas mãos puxam os caracóis para trás ou como apenas um dos seus olhos está fechado e salto com tal pensamento. Como é que eu sabia disto? Não é possível, a menos que… Eu me tenha lembrado de algo mais, desta vez relacionado com ele.

– Eu apenas precisava de conversar. – Explico-lhe, omitindo o facto de que eu acabei de me lembrar dele ou, melhor dizendo, de alguns pormenores. Oiço a sua cama ranger, do outro lado da linha, e sei que ele está ensonado.

Encosto as minhas costas à cabeceira da cama e praticamente enterro a cabeça nos joelhos. Sinto a minha cara ficar molhada e limpo-a rapidamente, tentando que Harry não note.

– Eu sei que estás a chorar, eu sei que estás a limpar as bochechas, eu apenas quero saber o porquê, Blair.

Ele parece conhecer-me como à palma da sua mão e, por alguma razão, eu sinto-me feliz com isso. Talvez porque significa que o meu verdadeiro EU não está perdido, ou porque, lá no fundo, eu ainda o ame.

– É a minha mãe… É o meu cérebro, é tudo e não é nada. – Eu deixo a minha voz fluir, esperando que ele me compreenda. Neste momento, ele é o único que o pode fazer. – Gostava de poder ligar à minha mãe, conversar com ela, mas ambos sabemos que isso não é possível…

Oiço os seus passos do outro lado da linha, oiço-o mexer em papéis, mas não falo. Quando ele parece terminar, senta-se na cama outra vez, e volta à linha.

– “É por ti que eu faço isto, é por ti que eu não desisto de tentar. Eu quero ser uma mãe para ti, uma verdadeira mãe. Poderás não me ver durante uns tempos, eles poderão não te deixar visitar-me, mas eu estarei sempre a pensar em ti. Suponho que uma das fases da reabilitação seja sentir a dor e eles estão a conseguir que eu a sinta. Apenas porque eles não me deixam ver-te ou ouvir a tua voz. Eu tenho direito a uma carta e eu pôr nela todo o meu amor e carinho.” – Harry lê, deixando-me boquiaberta e emocionada. Quando foi isto? – A tua mãe escreveu-te isto quando decidiu ir para a reabilitação, Blair. Ela fê-lo por ti, ela sabia que estava a perder-te. E, da última vez que falamos sobre ela, disseste-me que ela estava a ser bem-sucedida, ela estava muito melhor. E, quando a fomos visitar, ela parecia bem, muito bem. Mas as tragédias mudam as pessoas, certo?

Então ela voltou ao álcool, às drogas e às luxúrias por minha causa? Ela estava bem antes de eu levar um tiro? – O desespero tomou conta de mim, eu consigo sentir o ar a falhar, as lágrimas a molhar-me o rosto e a culpa a comer-me por dentro.

– Não, a culpa não foi tua, tu sabes que não foi, Blair. – Harry tenta sossegar-me e eu ouço-o correr de um lado para o outro, pegando em algumas coisas.

– Foi sim, Hazz, se eu tivesse ido um dia mais tarde como tu pediste, nada disto tinha acontecido! – Eu exclamo, parando depois muito repentinamente.

De onde raio veio isto tudo?!

– Blair? Tu lembras-te? De tudo?! – A sua voz magoada surge, deixando-me chocada. Eu quero dizer-lhe que me lembrei de tudo agora, eu quero gritar-lhe que eu não sabia, mas nada sai. Eu apenas me mantenho em silêncio, ainda não acreditando no que acabou de acontecer. – Eu não consigo acreditar! Tu sempre soubeste de tudo!

Oblivion || Harry Styles [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora