Capítulo 3

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Mais uma semana se inicia e Aneka estava pronta para recomeçar. Não podia deixar passar a chamada de atenção que levara da diretora, por isso, se preparara para chegar cedo à escola, e sua mãe ficou responsável por seu filho mais uma vez. Ela não gostava muito de cuidar do garoto, principalmente porque ele acordava muito cedo e ficava perguntando pela mãe.

Chegou bem antes do horário, e foi para a sala de aula se preparar. Quando passou pelo pátio, foi vista por um funcionário, e foi seguida até lá.

— Professora?

— Olá, Lauritz, como está?

— Muito bem, professora. A diretora pediu que assim que chegasse fosse vê-la em sua sala.

— Nossa, ela já chegou tão cedo?

— Pois é, professora, quando eu cheguei, ela já estava lá.

— Bem, de qualquer forma, obrigada pelo aviso.

— Por nada.

Lauritz se retirou e Aneka ficou apreensiva, sem saber o que esperar dessa conversa inesperada. Na semana anterior, tivera que ouvir algumas palavras duras, e não esperava que fosse ser chamada novamente tão cedo. Nem mesmo tivera tempo de provar que poderia mudar!

Adiantou tudo o que podia e correu para a diretoria. Bateu na porta e aguardou. Por segundos que pareciam infinitos, ouviu o som dos saltos dos pesados sapatos da alemã antes que a porta se abrisse e ela a convidasse a entrar. A sala estava fria como a sensação que mantinha até ali.

"Como é horrível viver nessa ansiedade!" pensou Aneka ao sentar-se diante da grande mesa de madeira escura que se alojava no centro da sala. Olhou novamente para as estantes repletas de livros e lembrou-se da vez anterior que esteve ali, recordando as sensações que revivia agora.

— Aneka, eu a chamei aqui para orientá-la numa tarefa muito importante, que pretendo implantar na escola neste final de ano, e preciso que você me ajude, guiando as outras professoras em tudo o que eu lhe orientar.

Aneka ficou estupefata, mas escondeu seu choque com um rosto impassível de confiança, como aprendera em sua vida. Mesmo que esteja com medo, não deveria demonstrar, ou perderia sua credibilidade. Uma aparência fria que escondia emoções fortes a salvaria de muitos problemas. E era o que estava acontecendo ali naquele momento.

— Claro, Sra. Stadden. Estou à disposição.

— Pois bem. — A diretora passou as diretrizes de tudo o que precisava para seu audacioso projeto escolar, e Aneka cada vez mais se perguntava por que ela estaria confiando nela daquela forma. Talvez fosse uma nova chance que Deus estava lhe dando. Finalmente, sentia que não estava sozinha no mundo e que Deus talvez a estivesse ouvindo, afinal.


***


Bergitte se perguntou por que isso acontecera. Trabalhava há anos naquele lugar e nunca recebera um voto de confiança como aquele. Era filha de um duque, pelo amor de Deus! E a tratavam como uma reles professora! Sentiu saudades do tempo em que nunca vivera, onde os nobres simplesmente viviam por seus títulos, usufruindo da herança que recebiam, e um casamento promissor a estaria esperando para aumentar ainda mais a fortuna à qual tinha direito. Pensara no tempo em que o Ducado de Avernako era quase um reino próprio, e a família do duque sempre teria serviçais tratando-os como monarcas. Ser filha de um nobre falido era mesmo uma grande injustiça.

Agora, teria que receber orientações de Aneka, a mulher rejeitada pela sociedade. Gostaria muito de saber o que houve com a diretora para tomar essa decisão. Não entendeu nada, mas manteve seu semblante indefectível, com o ar da realeza que lhe era apropriado, quando recebera a notícia. A sala das professoras estava repleta, todas elas estavam ali, e a presença da Sra. Stadden não deixava dúvidas de que deveriam todos atender seu pedido e, fosse qual fosse, seu desejo era que obedecessem às orientações de Aneka.

OutonoWhere stories live. Discover now