O domingo amanhecera chuvoso. O Outono chegara, e a manhã tinha uma leve bruma, fazendo a todos esquecerem o verão que se fora. O que dava um colorido especial às folhas douradas e acobreadas, e dava à paisagem uma sensação de uma obra Renascentista ter ganhado vida.
Aneka e sua mãe caminhavam para a Igreja, levando Niels, que caminhava entre elas com as mãos dadas, sempre parando para pegar alguma folha que voava e achava a cor interessante. No caminho, viram várias famílias indo para o mesmo lugar, mas que, ao olhar para eles, se desviavam, apertando o passo para se distanciarem, ou atrasando para ficarem mais atrás. Ninguém queria ser visto caminhando junto com eles.
O olhar de Aneka estava justamente em todas aquelas pessoas, buscando. Não se importava com os olhares que lhe dirigiam, pois neste dia não era isso o que a incomodava, e sim aquela sensação de estar sendo seguida.
— Ele está por aqui —, cochichou para a mãe.
— Também estou com esta sensação. Mas não fará nada. Estamos indo para um lugar cheio de gente, e quando sairmos, estaremos perto de pessoas, ainda que a passos meio distantes. Ele não terá coragem de fazer alguma coisa na frente de todos.
Aneka concordou, embora estivesse apreensiva. Entraram pela porta lateral a que estavam acostumadas, e sentaram-se no banco de sempre, sabendo que ninguém se sentaria perto delas. Olhou em volta e não viu Päl em lugar algum. Viu a família do banqueiro sentar-se imponente, no centro da igreja. Viu também a família do Duque de Avernako, em seu lugar costumeiro de destaque na congregação. A família do pastor também tinha seu local de destaque. Viu várias famílias ali; alguns conhecia, pois dava aulas às crianças na escola, mas nunca nenhum deles a cumprimentou. Quando as mulheres a viam, viravam o rosto, e quando seus maridos olhavam para ela, elas lhe davam um puxão no braço e ralhavam com eles, com medo de perderem seus esposos para a "separada". Era como lhe chamavam.
Viu quando Bergitte subiu ao piano e começou uma música suave, chamando todos à oração. Então, o culto iniciou com sua liturgia programada.
***
Jorgen e Sonja chegaram à igreja, junto com as meninas, Danna e Vikka, e ficaram de pé, pois o hino já havia começado. Cantaram, acompanhando no livrinho de hinos de sua mãe, e Jorgen deixou que os pensamentos vagassem, fechando os olhos e concentrando-se na letra da música.
Falava de um Deus fiel, que cumpre suas promessas e cuida de seus filhos como um pastor cuida de suas ovelhas. Deixou que seus pensamentos o conduzissem a Karin, lembrando-se de todas as vezes que dedicou a ela seu carinho e atenção, e ela o dispensara, pois estava cansada e não tinha tempo. Lembrara-se de todas as vezes que preparara-lhe o jantar e água quente para seu banho, mas o jantar e a água se enregelavam antes que ela chegasse, sempre exausta depois de uma reunião de última hora, ou hora extra, ou qualquer desculpa que fosse, até que não houvesse mais desculpas e ele simplesmente parasse de preparar seu banho e seu jantar.
Pensou nos momentos bons que tiveram, e percebeu que haviam sido tão poucos se comparados aos momentos de desrespeito, discussões, humilhações e mágoas, que pareciam ervilhas num oceano.
O hino continuava, numa melodia constante, e o piano continha um arranjo suave dedilhado de forma encantadora, e pode sentir a presença de algo à sua volta, como se estivesse sozinho no meio de uma força invisível, e esta força o protegia. Sentiu vontade de chorar, mas a única coisa que fez foi orar em silêncio.
— Deus, não sei se podes me ouvir, mas preciso de tua ajuda!
Não houve resposta, mas a presença continuou à sua volta. Pensou em seu casamento e se perguntou se era culpado das atitudes de sua esposa. Lembrou-se de quando a vira a primeira vez e se apaixonara por ela, decidindo lhe fazer a corte, e a procurava sempre, mesmo que ela não demonstrasse estar interessada. Mas ela lhe aceitou e se casou com ele. Isso deveria significar interesse, não? Mas não foi o que aconteceu durante seu casamento, e começou a se questionar se fora um bom marido.
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Outono
Fiction HistoriqueUma tradição outonal em 2015 leva um garoto de 12 anos a conhecer um segredo por trás de Lilleo, uma bela propriedade produtora de maçãs numa ilha dinamarquesa pertencente à sua família por gerações. Uma história comovente, do nascimento de um amor...