Capítulo 4

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Copenhagen, Dinamarca.

Karin chegou em casa exausta. Aquele havia sido um dia difícil, a loja cheia de clientes exigentes, buscando o melhor corte de tecido, a melhor modelagem para as festas de inverno. Apesar do tempo estar esfriando, as vendas já começaram a esquentar. Em pouco tempo o inverno chegaria, e com ele as luzes das festas de fim de ano.

Mas sua exaustão não dizia respeito ao trabalho o dia inteiro usando aqueles sapatos de salto, aquele penteado, aquelas roupas sofisticadas. Eram seus pensamentos que a deixaram cansada, quase que fisicamente. Jorgen fora embora, e agora ela estava sozinha. Sua mãe já lhe havia dito que, por causa dela, ela perdera um ótimo casamento e, por isso, não poderia contar com sua ajuda.

Suas amigas de trabalho a convidaram para sair. Era a primeira segunda-feira do mês, e era o dia das amigas saírem juntas. Mas também era o primeiro dia sem o apoio de Jorgen, e Karin faltaria àquela tradição pela primeira vez: precisava ficar com as filhas. Chegou para buscá-las na casa de uma das vizinhas que se dispusera a ajudá-la por um tempo. Olhou para elas. A mais velha, Danna, já chegava aos nove anos, era uma menina esperta e muito dócil, e carregava o sorriso do pai. A mais nova chegara aos cinco, e apesar de ter o rosto da mãe, tinha a calma e a paciência do pai.

Abriu a porta e as duas correram para suas atividades de todos os dias. Danna foi para seu quarto, onde mantinha um sem número de desenhos, e Karin, seguindo-a, admirou o talento de sua filha. Já Vikka foi para seus brinquedos favoritos, que incluía uma pequena boneca de pano de cabelos dourados como os seus. Parada, no meio da sala, Karin percebeu que não conhecia suas próprias filhas.

Abanando a cabeça, colocou os pensamentos de lado e foi para a cozinha preparar o jantar. Abriu os armários, procurando os utensílios necessários, e percebeu que nem ao menos sabia onde estes se encontravam. Era Jorgen quem preparava as refeições, e quando ela chegava em casa, estava tudo pronto; ela sequer lavava a louça, pois o marido a recolhia e lavava, não importava a hora que ela chegasse.

— Não há mais Jorgen... — disse em voz alta, como para se convencer da verdade. Mas não sentiu nada, seu coração estava vazio.


***


O trem chegou à estação pontualmente às dezessete horas, e Axel desceu com sua pequena bagagem. Passaria na cidade apenas uma noite, e levara somente o essencial. Dirigiu-se ao exterior da estação, onde um carro já o estava esperando. Ao se aproximar, viu o garoto que sempre ficava por ali a fim de conseguir algum dinheiro em troca de pequenos serviços. O menino reconheceu-o e veio ao seu encontro. Axel sorriu.

— Olá, garoto, ainda por aqui?

— Sim... algum serviço para mim hoje?

— Sempre! — disse Axel com jovialidade. Retirou um envelope lacrado do bolso. — Para o mesmo endereço. — Colocou na mão do garoto um maço de notas, junto com o envelope. — O máximo sigilo, como sempre.

— Claro, senhor.

E o garoto sumiu na multidão. Axel entrou no carro e partiu em seguida. Olhando para a paisagem urbana de Copenhagen num crescente preguiçoso ao seu redor, pensou na reunião que teria e em como terminaria aquela noite, e sorriu.


***


As coisas não poderiam ter ficado piores. Karin olhou as meninas dormirem. O garoto de recados da estação acabara de sair de sua porta. Havia entregado um envelope, cujo timbre reconhecera de imediato. Era o timbre do banco Hansdatter. Estava muito encrencada. Sem ninguém para cuidar das meninas, ela não poderia comparecer ao chamado do filho do banqueiro, e poderia perder todas as regalias com as quais vivia durante os últimos dois anos.

OutonoWhere stories live. Discover now