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Elena  estava  cercada  no  instante  em  que  pisou  no  estacionamento  da  escola.  Todos  estavam lá,  a  multidão  toda  que  ela  não  via  desde  o  fim  de  junho,  além  de  quatro  ou  cinco  parasitas que  esperavam  ganhar  popularidade  por  associação.  Ela  aceitou  um  por  um  os  abraços acolhedores  de  seu  próprio  grupo. Caroline  tinha  crescido  pelo  menos  dois  centímetros  e  estava  mais  magra  e  mais  do  que nunca  como  uma  modelo  da  Vogue.  Ela  cumprimentou  Elena  friamente  e  recuou novamente  com  seus  olhos  verdes  estreitados  como  os  de  um  gato. Bonnie  não  tinha  crescido  nada,  e  seu  cabelo  vermelho  encaracolado  veio  até  o  queixo  de Elena  enquanto  ela  lançava  seus  braços  ao  redor  de  Elena.  Espere  um  minuto  –  cachos? pensou  Elena.  Ela  empurrou  a  garota  menor  para  trás. ―Bonnie!  O  que  você  fez  com  o  seu  cabelo?‖ ―Você  gostou?  Eu  acho  que  me  faz  parecer  mais  alta.‖  Bonnie  amaciou  a  já  macia  franja  e sorriu,  seus  olhos  castanhos  brilhando  com  excitação,  seu  rosto  rosto  em  formato  de coração  iluminado.   Elena  prosseguiu.  ―Meredith.  Você  não  mudou  nada.‖ Esse  abraço  era  igualmente  quentes  em  ambos  os  lados.  Ela  tinha  sentido  mais  falta  de Meredith  do  que  de  qualquer  outro,  Elena  pensou,  olhando  para  a  garota  alta.  Meredith nunca  usava  maquiagem;  mas  também,  com  uma  pele  azeitonada  perfeita  e  grossos  cílios negros,  ela  não  precisava.  Nesse  momento  ela  estava  com  uma  elegante  sobrancelha levantada  enquanto  estudava  Elena. ―Bem,  seu  cabelo  está  dois  tons  mais  claros  por  causa  do  Sol...  Mas  aonde  está  o  seu bronzeado?  Eu  achei  que  você  estivesse  aproveitando  a  Riviera  Francesa.‖ ―Você  sabe  que  eu  nunca  me  bronzeio.‖  Elena  ergueu  suas  mãos  para  sua  própria  inspeção. A pele  estava  impecável,  como  porcelana,  mas  quase  tão  branca  e  translúcida  quanto  a  de Bonnie. ―Só  um  minuto;  isso  me  lembra,‖  Bonnie  interrompeu,  pegando  uma  das  mãos  de  Elena. ―Adivinha  o  que  eu  aprendi  com  a  minha  prima  esse  verão?‖  Antes  que  qualquer  um pudesse  falar,  ela  os  informou  triunfantemente:  ―Leitura  das  mãos!‖ Houve  lamentações,  e  algumas  risadas. ―Riam  enquanto  podem,‖  disse  Bonnie,  nem  um  pouco  perturbada.  ―Minha  prima  me  disse que  eu  sou  vidente.  Agora,  deixe-me  ver...‖  Ela  olhou  na  palma  de  Elena. ―Apresse-se  ou  vamos  chegar  atrasados,‖  disse  Elena  um  tantinho  impaciente. ―Certo,  certo.  Agora,  essa  é  a  sua  linha  da  vida  –  ou  é  a  sua  linha  do  coração?‖  Na multidão,  alguém  abafou  o  riso.  ―Quieto;  Eu  estou  alcançando  o  vácuo.  Eu  vejo...  Eu vejo…‖  De uma  só  vez,  o  rosto  de  Bonnie  ficou  vazio,  como  se  ela  estivesse  alarmada. Seus  olhos  castanhos  arregalaram-se,  mas  ela  já  não  mais  parecia  estar  encarando  a  mão  de Elena.  Era  como  se  ela  estivesse  olhando  através  dela  –  para  algo  assustador. ―Você  conhecerá  um  estranho  alto  e  moreno,‖  Meredith  murmurou  atrás  dela.  Houve  um alvoroço  de  risadinhas. ―Moreno,  sim,  e  um  estranho...  mas  não  alto.‖  A  voz  de  Bonnie  estava  abafada  e  distante. ―Apesar,‖  ela  continuou  depois  de  um  momento,  parecendo  confusa,  ―de  que  ele  foi  alto, uma  vez.‖  Seus  amplos  olhos  castanhos  se  levantaram  para  Elena  com  perplexividade.―Mas  isso  é  impossível...  não  é?‖  Ela  largou  a  mão  de  Elena,  quase  arremessando-a  para longe.  ―Eu  não  quero  ver  mais.‖ ―Está  bem,  o  show  acabou.  Vamos,‖  Elena  disse  aos  outros,  vagamente  irritada.  Ela  sempre achara  que  truques  psíquicos  eram  justamente  aquilo  –  truques.  Então  por  que  ela  estava aborrecida?  Só  porque  naquela  manhã  ela  tinha  quase  ficado  fora  de  si... As  garotas  começaram  a  andar  em  direção  ao  prédio  da  escola,  mas  o  ruído  de  um  motor primorosamente  ajustado  parou  todas  em  suas  trajetórias. ―Ora,  ora,‖  Caroline  disse,  encarando.  ―Mas  que  carro.‖ ―Mas  que  Porsche,‖  Meredith  corrigiu  secamente. O reluzente  Turbo  911  preto  ronronou  pelo  estacionamento,  procurando  por  um  espaço, movendo-se  tão  preguiçosamente  quanto  uma  pantera  perseguindo  uma  presa. Quando  o  carro  parou,  a  porta  abriu,  e  elas  vislumbraram  o  motorista. ―Oh,  meu  Deus,‖  Caroline  sussurrou. ―Você  pode  dizer  isso  novamente,‖  exalou  Bonnie. De  onde  ela  estava,  Elena  pode  ver  que  ele  tinha  um  corpo  magro  e  músculos  lisos.  Jeans desbotados  que  ele  provavelmente  teve  que  remover  à  noite,  camiseta  apertada,  e  uma jaqueta  de  couro  com  um  corte  incomum.  Seu  cabelo  era  ondulado  –  e  escuro. Ele  não  era  alto,  porém.  Somente  uma  estatura  mediana. Elena  deixou  seu  fôlego  escapar. ―Quem  é  aquele  homem  mascarado?‖  disse  Meredith.  E  a  observação  era  apropriada  – óculos  de  sol  escuros  cobriam  completamente  os  olhs  do  garoto,  escondendo  seu  rosto como  uma  máscara. ―Aquele  estranho  mascarado,‖  alguém  disse,  e  um  múrmurio  de  vozes  elevou-se. ―Você  está  vendo  a  jaqueta?  É  italiana,  tipo  de  Roma.‖ ―Como  você  saberia?  Você  nunca  foi  mais  longe  do  que  Roma,  Nova  York,  na  sua  vida!‖ ―Oh-ou.  Elena  está  com  aquele  olhar  novamente.  O  olhar  de  caça.‖ ―É  melhor  que  o  Baixo-Moreno-e-Lindo  tenha  cuidado.‖ ―Ele  não  é  baixo;  ele  é  perfeito!‖ Através  da  tagarelice,  a  voz  de  Caroline  repentinamente  soou  bem  alto.  ―Oh,  vamos  lá, Elena.  Você  já  tem  o  Matt.  O  que  mais  você  quer?  O  que  você  pode  fazer  com  dois  que  não pode  com  um?‖ ―A  mesma  coisa  –  só  que  por  mais  tempo,‖  Meredith  falou  lentamente,  e  o  grupo  se dissolveu  em  risadas. O garoto  havia  trancado  seu  carro  e  estava  andando  em  direção  à  escola.  Casualmente, Elena  seguiu  atrás  dele,  as  outras  garotas  logo  atrás  dela  em  um  grupo  intimamente  ligado. Por  um  instante,  aborrecimento  borbulhou  dentro  dela.  Ela  não  podia  ir  à  lugar  algum  sem um desfile  em  seu  calcanhar?  Mas  Meredith  percebeu  seu  olhar,  e  ela  sorriu  apesar  de  si mesma. ―Obrigações  da  nobreza,‖  Meredith  disse  suavemente. ―O  quê?‖ ―Se  você  vai  ser  a  rainha  da  escola,  você  tem  que  aturar  as  conseqüências.‖ Elena  franziu  por  causa  disso  enquanto  elas  entravam  no  prédio.  Um  longo  corredor  se esticava  em  frente  à  elas,  e  uma  figura  em  calça  jeans  e  jaquete  de  couro  estava desaparecendo  pela  porta  do  escritório  em  frente.  Elena  diminuiu  seu  ritmo  a  medida  que passava  pelo  escritório,  finalmente  parando  para  olhar  ponderadamente  para  as  mensagens no  quadro  de  avisos  de  cortiça  perto  da  porta.  Havia  uma  ampla  janela  aqui,  através  da  qual o  escritório  inteiro  ficava  visível. As  outras  garotas  estavam  espiando  abertamente  através  da  janela,  e  dando  risadinhas. ―Bela  visão  traseira.‖  ―Aquela  é  definitivamente  uma  jaqueta  Armani.‖  ―Você  acha  que  ele é  de  fora  dos  Estados  Unidos?‖ Elena  estava  esticando  suas  orelhas  pelo  nome  do  garoto.  Parecia  haver  algum  tipo  de problema  lá:  A  Sra.  Clarke,  a  secretária  de  admissão,  estava  olhando  para  uma  lista  e balançando  sua  cabeça.  O  garoto  disse  alguma  coisa,  e  a  Sra.  Clarke  levantou  suas  mãos  em um gesto  que  dizia  ―O  que  eu  posso  fazer?‖  Ela  correu  um  dedo  pela  lista  e  balançou  sua cabeça  novamente,  conclusivamente.  O  garoto  começou  a  se  afastar,  então  se  virou.  E quando  a  Sra.  Clarke  olhou  para  ele,  sua  expressão  mudou. O óculos  de  sol  do  garoto  estava  agora  na  mão  dele.  A  Sra.  Clarke  pareceu  assustada  com algo,  Elena  pôde  vê-la  piscar  diversas  vezes.  Seus  lábios  abriram  e  fecharam  como  se  ela estivesse  tentando  falar. Elena  desejou  poder  ver  mais  do  qua  a  parte  detrás  da  cabeça  do  garoto.  A  Sra  Clarke estava  remexendo  em  pilhas  de  papéis  agora,  parecendo  estupefata.  Enfim  ela  achou  um formulário  de  algum  tipo  e  escreveu  nele,  então  virou-se  e  o  empurrou  em  direção  ao garoto. O garoto  escreveu  brevemente  no  formulário  –  assinando-o,  provavelmente  –  e  o  devolveu. A Sra.  Clarke  encarou-o  por  um  segundo,  então  remexou  em  uma  nova  pilha  de  papéis, finalmente  entregando  o  que  parecia  com  um  horário  de  aulas  para  ele.  Seus  olhos  nunca deixaram  o  garoto  enquanto  ele  pegava  isso,  inclinava  sua  cabeça  em  agradecimento,  e virava-se  para  a  porta. Elena  estava  louca  de  curiosidade  agora.  O  que  havia  acabado  de  acontecer  ali?  E  como  o rosto  do  estranho  era?  Mas  a  medida  que  ele  emergia  do  escritório,  ele  colocava  seu  óculos de  sol  no  lugar  novamente. Desapontamento  fluiu  através  dela. Ainda  assim,  ela  pôde  ver  o  resto  de  seu  rosto  enquanto  ele  parava  na  entrada.  O  escuro cabelo  encaracolado  enquadrava  traços  de  rosto  tão  belos  que  eles  poderiam  ter  sido  tirados de  uma  velha  moeda  ou  medalha  Romana.  Maças  do  rosto  altas,  clássico  nariz  reto...  e  uma boca  para  mantê-la  acordada  à  noite,  Elena  pensou.  O  lábio  superior  foi  belamente esculpido,  um  pouco  delicado,  bastante  sensual.  A  tagarelice  das  garotas  no  corredor  havia parado  como  se  alguém  tivesse  mexido  no  interruptor. A maioria  delas  estava  se  virando  para  longe  do  garoto  agora,  olhando  para  qualquer  lugar menos  para  ele.  Elena  ficou  em  seu  lugar  perto  da  janela  e  fez  um  meneio  de  cabeça, puxando  a  fita  do  cabelo  para  que  ele  caísse  ao  redor  de  seus  ombros. Sem  olhar  para  nenhum  lado,  o  garoto  continuou  andando  pelo  corredor.  Um  coro  de suspiros  e  sussurros  irromperam  no  momento  que  ele  estava  fora  do  alcance  de  voz. Elena  não  ouviu  nada  disso. Ele  tinha  passado  diretamente  por  ela,  ela  pensou,  estupefata.  Diretamente  por  ela  sem olhar. Vagamente,  ela  percebeu  que  o  sinal  estava  tocando.  Meredith  estava  puxando  seu  braço. ―O  quê?‖ ―Eu  disse  aqui  está  seu  horário.  Nós  temos  trigonometria  no  segundo  andar  agora.  Vamos!‖ Elena  permitiu  que  Meredith  a  propelisse  pelo  corredor,  por  uma  escadaria,  e  para  dentro  da sala  de  aula.  Ela  escorreu  em  um  assento  vazio  automaticamente  e  fixou  seus  olhos  na professora  à  frente  sem  realmente  estar  vendo-a.  O  choque  ainda  não  tinha  passado. Ele  tinha  passado  diretamente  por  ela.  Sem  um  olhar.  Ela  não  conseguia  lembrar  de  quanto tempo  fazia  desde  que  um  garoto  havia  feito  isso.  Todos  eles  olhavam,  ao  menos.  Alguns assobiavam.  Alguns  paravam  para  conversar.  Alguns  simplesmente  encaravam. E isso  nunca  foi  um  problema  para  Elena. Afinal  de  contas,  o  que  é  mais  importante  que  garotos?  Eles  eram  a  marca  do  quão  popular você  é,  do  quão  bonita  você  é.  E  eles  podiam  ser  úteis  para  todo  o  tipo  de  coisas.  Às  vezes eles  eram  excitantes,  mas  geralmente  isso  não  durava  muito.  Às  vezes  eles  eram repugnantes  desde  o  começo. A maioria  dos  garotos,  Elena  refletiu,  era  exatamente  como  filhotinhos.  Adoráveis  nos  seus lugares,  mas  dispensáveis.  Uns  pouquíssimos  podiam  ser  mais  do  que  isso,  podiam  se tornar  amigos  de  verdade.  Como  Matt. Oh,  Matt.  Ano  passado  ela  tivera  esperanças  de  que  ele  era  aquele  por  quem  ela  estivera procurando,  o  garoto  que  faria  ela  sentir...  bem,  algo  mais.  Mais  do  que  um  ataque  de triunfo  por  ter  feito  uma  conquista,  o  orgulho  em  mostrar  sua  nova  aquisição  para  as  outras garotas.  E  ela  tinha  sentido  uma  forte  afeição  por  Matt.  Mas  conforme  o  verão  passava,  e ela  tivera  tempo  para  pensar,  ela  tinha  percebido  que  era  a  afeição  de  uma  prima  ou  irmã. A Srta.  Halpern  estava  passando  os  livros  de  trigonometria.  Elena  pegou  o  seu mecanicamente  e  escreveu  seu  nome  dentro,  ainda  envolta  em  pensamentos. Ela  gostava  de  Matt  mais  do  que  qualquer  outro  garoto  que  conhecera.  E  era  por  isso  que ela  teria  que  contar  à  ela  que  estava  acabado. Ela  não  sabia  como  contar  à  ele  por  carta.  Ela  não  sabia  como  contar  à  ele  agora.  Não  era por  ela  ter  medo  de  ele  dar  um  escândalo;  ele  simplesmente  não  iria  entender.  Ela  mesma não  entendia  muito. Era  como  se  ela  estivesse  sempre  querendo  alcançar...  alguma  coisa.  Só  que,  quando  ela achou  que  havia  conseguido,  não  estava  lá.  Não  com  Matt,  não  com  qualquer  dos  outros garotos  com  quem  esteve. E então  ela  teve  que  começar  tudo  de  novo.  Felizmente,  havia  sempre  material  novo. Nenhum  garoto  havia  tido  sucesso  em  resistir  à  ela,  e  nenhum  garoto  a  havia  ignorado.  Até agora. Até  agora.  Lembrando-se  daquele  momento  no  corredor,  Elena  descobriu  que  seus  dedos estavam  apertados  ao  redor  da  caneta  que  ela  segurava.  Ela  ainda  não  podia  acreditar  que ele  havia  passado  por  ela  daquela  maneira. O sinal  tocou  e  todo  mundo  saiu  da  sala  de  aula,  mas  Elena  parou  na  entrada.  Ela  mordeu seu  lábio,  fazendo  uma  varredura  pelo  mar  de  estudantes  que  fluía  no  corredor.  Então  ela avistou  uma  das  parasitas  que  estavam  no  estacionamento. ―Frances!  Venha  aqui.‖  Frances  veio  avidamente,  seu  rosto  comum  iluminando-se. ―Escute,  Frances,  lembra-se  do  garoto  dessa  manhã?‖ ―Com  o Porsche  e as  –  er  –  posses?  Como  eu  poderia  esquecer?‖ ―Bem,  eu  quero  o  horário  de  aula  dele.  Pegue-o  do  escritório  se  puder,  ou  copie  do  dele  se tiver  que  fazê-lo.  Mas  faça-o!‖ Frances  pareceu  surpresa  por  um  momento,  então  forçou  um  sorriso  e  concordou.  ―Está bem,  Elena.  Eu  vou  tentar.  Eu  te  encontrarei  no  almoço  se  eu  conseguir  pegá-lo.‖ ―Obrigada.‖  Elena  observou  a  garota  ir  embora. ―Sabe,  você  realmente  é  maluca,‖  a  voz  de  Meredith  disse  em  seu  ouvido. ―Qual  é  a  vantagem  de  ser  a  rainha  da  escola  se  você  não  pode  abusar  da  sua  posição  às vezes?‖  Elena  retornou  calmamente.  ―Para  onde  eu  vou  agora?‖   ―Negócios  Gerais.  Aqui,  pegue-o  você  mesma.‖  Meredith  empurrou  uma  tabela  de  horário para  ela.  ―Eu  tenho  que  correr  para  a  aula  de  química.  Até  depois!‖ Negócios  Gerais  e  o  resto  da  manhã  passou  como  um  borrão.  Elena  tivera  esperança  de  ver outra  vez  de  relance  o  novo  estudante,  mas  ele  não  estava  em  nenhum  de  suas  aulas.  Matt estava  em  uma,  e  ela  sentiu  uma  pontada  de  dor  quando  os  olhos  azuis  dele  encontraram-na com  um  sorriso. Com o sinal  do  almoço,  ela  fez  cumprimentos  com  a  cabeça  a  torto  e  a  direito  a  medida  em que  entrava  na  lanchonete.  Caroline  estava  do  lado  de  fora,  repousada  casualmente  contra uma  parede  com  o  queixo  levantado,  os  ombros  para  trás,  o  quadril  para  frente.  Os  dois garotos  com  quem  ela  estivera  falando  ficaram  em  silêncio  e  cutucaram  um  ao  outro quando  Elena  se  aproximou. ―Oi,‖  Elena  disse  brevemente  aos  garotos;    e  para  Caroline:  ―Pronta  para  entrar  e  comer?‖ Os  olhos  verdes  de  Caroline  mal  pestanejaram  na  direçaão  de  Elena,  e  ela  empurrou  seu brilhoso  cabelo  castanho  para  longe  do  rosto. ―O  que,  na  mesa  da  realeza?‖  ela  disse. Elena  foi  pega  de  surpresa.  Ela  e  Caroline  eram  amigas  desde  o  jardim-de-infância,  e  elas sempre  competiram  uma  contra  a  outra  de  maneira  afável.  Mas  ultimamente  alguma  coisa havia  acontecido  com  a  Caroline.  Ela  tinha  começado  a  levar  a  rivalidade  cada  vez  mais  a sério.  E  agora  Elena  estava  surpreendida  pela  amargura  na  voz  da  outra  garota. ―Bem,  não  é  como  se  você  fosse  uma  plebéia,‖  ela  disse  levianamente. ―Ah,  você  está  tão  certa  sobre  isso,‖  disse  Caroline,  virando-se  para  encarar  Elena plenamente.  Aqueles  olhos  verdes  de  gata  estavam  abertos  por  uma  pequena  brecha  e fumegantes,  e  Elena  ficou  chocada  pela  hostilidade  que  viu  ali.  Os  dois  garotos  sorriram desconfortavelmente  e  foram  para  longe. Caroline  não  pareceu  notar.  ―Um  monte  de  coisas  mudou  enquanto  você  estava  fora  esse verão,  Elena,‖  ela  continuou.  ―E  talvez  seu  tempo  no  trono  esteja  acabando.‖ Elena  corou;  ela  podia  sentir  isso.  Ela  lutou  para  manter  sua  voz  firme.  ―Talvez,‖  ela  disse. ―Mas  eu  não  compraria  um  cetro  tão  cedo  se  fosse  você,  Caroline.‖  Ela  se  virou  e  foi  para  a lanchonete. Foi  um  alívio  ver  Meredith  e  Bonnie,  e  Frances  atrás  delas.  Elena  sentiu  suas  bochechas  se esfriarem  a  medida  que  selecionava  seu  almoço  e  ia  se  juntar  à  elas.  Ela  não  deixaria Caroline  chateá-la;  ela  não  pensaria  em  Caroline  de  modo  algum. ―Eu  consegui,‖  disse  Frances,  agitando  um  pedaço  de  papel  enquanto  Elena  se  sentava. ―E  eu  tenho  coisas  boas  a  contar,‖  disse  Bonnie  de  modo  importante.  ―Elena,  escute  isso. Ele  está  na  minha  aula  de  biologia,  e  eu  sento  bem  em  frente  a  ele.  E  seu  nome  é  Stefan, Stefan  Salvatore,  e  ele  é  da  Itália,  e  ele  está  hospedado  com  a  velha  Sra.  Flowers  na margem  da  cidade."  Ela  suspirou.   ―Ele  é  tão  romântico.  Caroline  derrubou  seus  livros,  e  ele  os  pegou  para  ela.‖ Elena  fez  uma  cara  de  repulsa.  ―Que  desastrada  a  Caroline  é.  O  que  mais  aconteceu?‖ ―Bem,  foi  isso.  Ele  não  falou  com  ela  na  verdade.  Ele  é  mui-i-ito  misterioso,  veja  só.  A  Sra. Endicott,  minha  professora  de  biologia,  tentou  fazer  com  que  ele  tirasse  seus  óculos,  mas ele  não  tirou.  Ele  tem  um  problema  médico.‖ ―Que  tipo  de  problema  médico?‖ ―Eu  não  sei.  Talvez  seja  terminal  e  seus  dias  estejam  contados.  Isso  não  seria  romântico?‖ ―Oh,  muito,‖  disse  Meredith. Elena  estava  olhando  por  sobre  a  folha  de  papel  de  Frances,  mordendo  seu  lábio.  ―Ele  está na  minha  sétima  aula,  História  da  Europa.  ―Alguém  mais  tem  essa  aula?‖ ―Eu  tenho,‖  disse  Bonnie.  ―E  eu  acho  que  Caroline  também  tem.  Oh,  e  talvez  Matt;  ele disse  uma  coisa  ontem  sobre  como  ele  tinha  sorte,  ficando  com  o  Sr.  Tanner.‖ Maravilha,  Elena  pensou,  pegando  um  garfo  e  apunhalando  seu  purê  de  batata.  Parecia  que a  sétima  aula  iria  ser  extremamente  interessante. Stefan  estava  feliz  que  o  dia  na  escola  estava  quase  acabando.  Ele  queria  sair  dessas  salas  e corredores  lotados,  só  por  alguns  minutos.   Tantas  mentes.  A  pressão  de  tantas  padrões  de  pensamentos,  tantas  vozes  mentais cercando-o,  estavam-no  deixando  tonto.  Faziam  anos  desde  que  ele  estivera  no  meio  de uma  multidão  de  pessoas  desse  jeito. Uma  mente  em  particular  se  destacou  dos  outros.  Ela  estivera  entre  aqueles  que  o  estiveram observando  no  corredor  principal  do  prédio  da  escola.  Ele  não  sabia  como  era  sua aparência,  mas  sua  personalidade  era  poderosa. Ele  tinha  certeza  de  que  a  reconheceria  novamente. Até  agora,  pelo  menos,  ele  havia  sobrevivido  ao  primeiro  dia  da  farsa.  Ele  havia  usado  os Poderes  somente  duas  vezes,  e  depois  moderadamente.  Mas  ele  estava  cansado,  ele  admitiu com  melancolia,  com  fome.  O  coelho  não  fora  o  suficiente. Preocupe-se  com  isso  depois.  Ele  achou  sua  última  sala  de  aula  e  se  sentou.  E imediatamente  sentiu  a  presença  daquela  mente  de  novo. Ela  incandescia  na  margem  da  consciência  dele,  uma  luz  dourada,  suave  e  ainda  assim vibrante.  E,  pela  primeira  vez,  ele  pôde  localizar  a  garota  da  qual  ela  vinha.  Ela  estava sentada  bem  na  frente  dele. No  momento  em  que  ele  pensava  isso,  ela  se  virou  e  ele  viu  seu  rosto.  Tudo  que  ele  pôde fazer  foi  não  arfar  com  choque. Katherine!  Mas  é  claro  que  não  poderia  ser.  Katherine  estava  morta;  ninguém  sabia  disso melhor  do  que  ele. Ainda  assim,  a  semelhança  era  excepcional.  O  pálido  cabelo  dourado,  tão  belo  que  parecia quase  brilhar.  Aquela  pele  cremosa,  que  sempre  o  havia  feito  pensar  em  cisnes,  ou alabastro,  ruborizando  um  leve  rosa  nas  bochechas.  E  os  olhos...  os  olhos  de  Katherine eram  de  uma  cor  que  ele  nunca  tinha  visto  antes;  mais  escuros  do  que  o  azul  do  céu,  tão ricos  quanto  a  pedra  celestial  em  sua  tiara  cravada  de  pedras  preciosas.  Essa  garotaa  tinha os  mesmos  olhos. E eles  estavam  fixados  diretamente  nos  dele  a  medida  que  ela  sorria. Ele  desviou  o  olhar  de  seu  sorriso  rapidamente.  De  todas  as  coisas,  ele  não  queria  pensar em  Katherine.  Ele  não  queria  olhar  para  essa  garota  que  o  lembrava  dela,  e  ele  não  queria mais  sentir  sua  presença.  Ele  manteve  seus  olhos  na  mesa,  bloqueando  sua  mente  tão fortemente  quanto  pôde.  E  por  fim,  lentamente,  ela  se  virou  novamente. Ela  ficou  magoada.  Até  mesmo  através  dos  bloqueios,  ele  pôde  sentir  isso.  Ele  não  ligava. De  fato,  ele  estava  feliz  por  isso,  e  ele  esperava  que  isso  a  mantivesse  afastada  dele.  Fora isso,  ele  não  tinha  sentimentos  algum  por  ela. Ele  continuou  dizendo  isso  a  si  mesmo  enquanto  se  sentava,  a  voz  monótona  do  professor fluindo  por  ele  sem  ser  ouvida.    Mas  ele  podia  sentir  um  indício  sutil  de  algum  perfume  – violetas,  ele  pensou.  E  seu  esguio  pescoço  branco  estava  curvado  sobre  seu  livro,  o  belo cabelo  caindo  dos  dois  lado  dele. Com raiva  e  frustração  ele  reconheceu  o  sedutor  sentimento  em  seus  dentes  –  mais  como cócegas  ou  formigamento  do  que  uma  dor.  Era  fome,  uma  fome  específica.  E  não  uma  que ele  estava  prestes  a  ceder. O professor  estava  marchando  na  sala  como  um  furrão,  fazendo  perguntas,  e  Stefan deliberadamente  fixou  sua  atenção  no  homem.  A  princípio  ele  ficou  intrigado,  pois  embora nenhum  dos  estudantes  soubesse  as  respostas,  as  perguntas  continuavam.  Então  ele percebeu  que  esse  era  o  propósito  do  homem.  Envergonhar  os  estudantes  com  o  que  eles não  sabiam. Nesse  instante  ele  havia  achado  outra  vítima,  uma  garota  pequena  com  uma  penca  de cachos  vermelhos  e  um  rosto  em  formato  de  coração.  Stefan  observou  à  distância  enquanto o  professor  a  atazanava  com  perguntas.  Ela  parecia  miserável  a  medida  em  que  ele  se afastava  dela  para  se  dirigir  à  turma  toda. ―Estão  vendo  o  que  quero  dizer?  Vocês  acham  que  são  os  maiorais;  vocês  são  veteranos agora,  prontos  para  se  formarem.  Bem,  deixem-me  dizer  isso,  alguns  de  vocês  não  estão prontos  para  se  formarem  no  jardim-de-infância.  Como  essa!‖  Ele  gesticulou  em  direção  à garota  de  cabelo  vermelho.  ―Não  faz  idéia  sobre  a  Revolução  Francesa.  Acha  que  Maria Antonieta  era  uma  estrela  de  filme  mudo.‖ Os  estudantes  ao  redor  de  Stefan  se  mexeram  de  maneira  desconfortável.  Ele  pôde  sentir  o ressentimento  nas  mentes  deles,  e  a  humilhação.  E  o  medo.  Estavam  todos  com  medo  desse pequeno  homem  magro  com  olhos  como  o  de uma  doninha,  até  mesmo  os  garotos  atléticos que  eram  mais  alto  do  que  ele. ―Tudo  bem,  vamos tentar  outra  era.‖  O  professor  virou-se  de  volta  para  a  mesma  garota  que havia  questionado.  ―Durante  a  Renascença  –‖  ele  parou  abruptamente.  ―Você  sabe  o  que  é a  Renascença,  não  sabe?  O  período  entre  os  séculos  treze  e  dezessete,  no  qual  a  Europa redescobriu  as  grandes  idéias  da  Grécia  e  da  Roma  antiga?  O  período  que  produziu  muitos dos  maiores  artistas  e  pensadores  da  Europa?‖  Quando  a  garota  concordou  de  modo confuso,  ele  continuou.―Durante  a  Renascença,  o  que  os  estudantes  da  sua  idade  estariam fazendo  na  escola?  Bem?  Alguma  idéia?  Algum  palpite?‖   A garota  engoliu  em  seco.  Com  um  fraco  sorriso  ela  disse,  ―Jogando  futebol?‖ Com a  subseqüente  risada,  o  rosto  do  professor  se  endureceu.  ―Dificilmente!‖  ele repreendeu,  e  a  sala  de  aula  aquietou-se.―Você  acha  que  isso  é  uma  piada?  Bem,  naqueles dias,  os  estudantes  da  sua  idade  já  seriam  proficientes  em  várias  línguas.  Eles  também dominariam  lógica,  matemática,  astronomia,  filosofia,  e  gramática.  Eles  também  já estariam  prontos  para  ir  à  uma  universidade,  na  qual  todos  os  cursos  eram  ensinados  em latim.  Futebol  seria  absolutamente  a  última  coisa  na  –‖   ―Com licença.‖ A voz  silenciosa  parou  o  professor  no  meio  de  seu  longo  discurso.  Todos  se  viraram  para encarar  Stefan. ―O  quê?  O  que  você  disse?‖ ―Eu  disse,  com  licença,‖  Stefan  repetiu,  removendo  seus  óculos  de  sol  e  se  levantando. ―Mas  você  está  errado.  Estudantes  da  Renascença  eram  encorajados  a  participar  de  jogos. Eles  eram  ensinados  que  um  corpo  saudável  combina  com  uma  mente  saudável.  E  eles certamente  jogavam  esportes  de  time,  como  críquete,  tênis  -  e  até  mesmo  futebol."  Ele  se virou  para  a  garota  de  cabelo  vermelho  e  sorriu,  e  ela  sorriu  de  volta  com  gratidão.  Para  o professor,  ele  acrescentou,  ―Mas  as  coisas  mais  importantes  que  eles  aprendiam  eram  boas maneiras  e  cortesia.  Estou  certo  de  que  seu  livro  lhe  dirá  isso.‖ Os  estudantes  estavam  dando  risada.  O  rosto  do  professor  estava  vermelho  de  sangue,  e  ele estava  emitindo  faíscas.  Mas  Stefan  continuou  a  segurar  o  olhar,  e  depois  de  mais  um minuto  foi  o  professor  que  desviou  o  olhar. O sinal  tocou. Stefan  colocou  seus  óculos  rapidamente  e  juntou  seus  livros.  Ele  já  tinha  atraído  mais atenção  para  si  mesmo  do  que  deveria,  e  ele  não  queria  ter  que  olhar  para  a  garota  loira novamente.  Além  do  mais,  ele  precisava  sair  de  lá  rapidamente;  havia  uma  familiar sensação  de  queimadura  em  suas  veias. A medida  que  ele  alcançava  a  porta,  alguém  gritou,  ―Ei!  Eles  realmente  jogavam  futebol naquele  tempo?‖ Ele  não  pôde  evitar  dar  um  sorriso  por  sobre  o  ombro.  ―Oh,  sim.  Algumas  vezes  com  as cabeças  decepadas  dos  prisioneiros  de  guerra.‖ Elena  observou-o  enquanto  ele  saía.  Ele  havia  deliberadamente  virado  as  costas  para  ela. Ele  a  tinha  desprezado  de  propósito,  e  na  frente  de  Caroline,  que  estivera  observando  como um falcão.  Lágrimas  queimaram  em  seus  olhos,  mas  naquele  momento  somente  um pensamento  queimou  em  sua  mente. Ela  o  teria,  mesmo  que  isso  a  matasse.  Se  isso  matasse  a  ambos,  ela  o  teria.

O Despertar (tvd)-1Onde histórias criam vida. Descubra agora