Elena estava cercada no instante em que pisou no estacionamento da escola. Todos estavam lá, a multidão toda que ela não via desde o fim de junho, além de quatro ou cinco parasitas que esperavam ganhar popularidade por associação. Ela aceitou um por um os abraços acolhedores de seu próprio grupo. Caroline tinha crescido pelo menos dois centímetros e estava mais magra e mais do que nunca como uma modelo da Vogue. Ela cumprimentou Elena friamente e recuou novamente com seus olhos verdes estreitados como os de um gato. Bonnie não tinha crescido nada, e seu cabelo vermelho encaracolado veio até o queixo de Elena enquanto ela lançava seus braços ao redor de Elena. Espere um minuto – cachos? pensou Elena. Ela empurrou a garota menor para trás. ―Bonnie! O que você fez com o seu cabelo?‖ ―Você gostou? Eu acho que me faz parecer mais alta.‖ Bonnie amaciou a já macia franja e sorriu, seus olhos castanhos brilhando com excitação, seu rosto rosto em formato de coração iluminado. Elena prosseguiu. ―Meredith. Você não mudou nada.‖ Esse abraço era igualmente quentes em ambos os lados. Ela tinha sentido mais falta de Meredith do que de qualquer outro, Elena pensou, olhando para a garota alta. Meredith nunca usava maquiagem; mas também, com uma pele azeitonada perfeita e grossos cílios negros, ela não precisava. Nesse momento ela estava com uma elegante sobrancelha levantada enquanto estudava Elena. ―Bem, seu cabelo está dois tons mais claros por causa do Sol... Mas aonde está o seu bronzeado? Eu achei que você estivesse aproveitando a Riviera Francesa.‖ ―Você sabe que eu nunca me bronzeio.‖ Elena ergueu suas mãos para sua própria inspeção. A pele estava impecável, como porcelana, mas quase tão branca e translúcida quanto a de Bonnie. ―Só um minuto; isso me lembra,‖ Bonnie interrompeu, pegando uma das mãos de Elena. ―Adivinha o que eu aprendi com a minha prima esse verão?‖ Antes que qualquer um pudesse falar, ela os informou triunfantemente: ―Leitura das mãos!‖ Houve lamentações, e algumas risadas. ―Riam enquanto podem,‖ disse Bonnie, nem um pouco perturbada. ―Minha prima me disse que eu sou vidente. Agora, deixe-me ver...‖ Ela olhou na palma de Elena. ―Apresse-se ou vamos chegar atrasados,‖ disse Elena um tantinho impaciente. ―Certo, certo. Agora, essa é a sua linha da vida – ou é a sua linha do coração?‖ Na multidão, alguém abafou o riso. ―Quieto; Eu estou alcançando o vácuo. Eu vejo... Eu vejo…‖ De uma só vez, o rosto de Bonnie ficou vazio, como se ela estivesse alarmada. Seus olhos castanhos arregalaram-se, mas ela já não mais parecia estar encarando a mão de Elena. Era como se ela estivesse olhando através dela – para algo assustador. ―Você conhecerá um estranho alto e moreno,‖ Meredith murmurou atrás dela. Houve um alvoroço de risadinhas. ―Moreno, sim, e um estranho... mas não alto.‖ A voz de Bonnie estava abafada e distante. ―Apesar,‖ ela continuou depois de um momento, parecendo confusa, ―de que ele foi alto, uma vez.‖ Seus amplos olhos castanhos se levantaram para Elena com perplexividade.―Mas isso é impossível... não é?‖ Ela largou a mão de Elena, quase arremessando-a para longe. ―Eu não quero ver mais.‖ ―Está bem, o show acabou. Vamos,‖ Elena disse aos outros, vagamente irritada. Ela sempre achara que truques psíquicos eram justamente aquilo – truques. Então por que ela estava aborrecida? Só porque naquela manhã ela tinha quase ficado fora de si... As garotas começaram a andar em direção ao prédio da escola, mas o ruído de um motor primorosamente ajustado parou todas em suas trajetórias. ―Ora, ora,‖ Caroline disse, encarando. ―Mas que carro.‖ ―Mas que Porsche,‖ Meredith corrigiu secamente. O reluzente Turbo 911 preto ronronou pelo estacionamento, procurando por um espaço, movendo-se tão preguiçosamente quanto uma pantera perseguindo uma presa. Quando o carro parou, a porta abriu, e elas vislumbraram o motorista. ―Oh, meu Deus,‖ Caroline sussurrou. ―Você pode dizer isso novamente,‖ exalou Bonnie. De onde ela estava, Elena pode ver que ele tinha um corpo magro e músculos lisos. Jeans desbotados que ele provavelmente teve que remover à noite, camiseta apertada, e uma jaqueta de couro com um corte incomum. Seu cabelo era ondulado – e escuro. Ele não era alto, porém. Somente uma estatura mediana. Elena deixou seu fôlego escapar. ―Quem é aquele homem mascarado?‖ disse Meredith. E a observação era apropriada – óculos de sol escuros cobriam completamente os olhs do garoto, escondendo seu rosto como uma máscara. ―Aquele estranho mascarado,‖ alguém disse, e um múrmurio de vozes elevou-se. ―Você está vendo a jaqueta? É italiana, tipo de Roma.‖ ―Como você saberia? Você nunca foi mais longe do que Roma, Nova York, na sua vida!‖ ―Oh-ou. Elena está com aquele olhar novamente. O olhar de caça.‖ ―É melhor que o Baixo-Moreno-e-Lindo tenha cuidado.‖ ―Ele não é baixo; ele é perfeito!‖ Através da tagarelice, a voz de Caroline repentinamente soou bem alto. ―Oh, vamos lá, Elena. Você já tem o Matt. O que mais você quer? O que você pode fazer com dois que não pode com um?‖ ―A mesma coisa – só que por mais tempo,‖ Meredith falou lentamente, e o grupo se dissolveu em risadas. O garoto havia trancado seu carro e estava andando em direção à escola. Casualmente, Elena seguiu atrás dele, as outras garotas logo atrás dela em um grupo intimamente ligado. Por um instante, aborrecimento borbulhou dentro dela. Ela não podia ir à lugar algum sem um desfile em seu calcanhar? Mas Meredith percebeu seu olhar, e ela sorriu apesar de si mesma. ―Obrigações da nobreza,‖ Meredith disse suavemente. ―O quê?‖ ―Se você vai ser a rainha da escola, você tem que aturar as conseqüências.‖ Elena franziu por causa disso enquanto elas entravam no prédio. Um longo corredor se esticava em frente à elas, e uma figura em calça jeans e jaquete de couro estava desaparecendo pela porta do escritório em frente. Elena diminuiu seu ritmo a medida que passava pelo escritório, finalmente parando para olhar ponderadamente para as mensagens no quadro de avisos de cortiça perto da porta. Havia uma ampla janela aqui, através da qual o escritório inteiro ficava visível. As outras garotas estavam espiando abertamente através da janela, e dando risadinhas. ―Bela visão traseira.‖ ―Aquela é definitivamente uma jaqueta Armani.‖ ―Você acha que ele é de fora dos Estados Unidos?‖ Elena estava esticando suas orelhas pelo nome do garoto. Parecia haver algum tipo de problema lá: A Sra. Clarke, a secretária de admissão, estava olhando para uma lista e balançando sua cabeça. O garoto disse alguma coisa, e a Sra. Clarke levantou suas mãos em um gesto que dizia ―O que eu posso fazer?‖ Ela correu um dedo pela lista e balançou sua cabeça novamente, conclusivamente. O garoto começou a se afastar, então se virou. E quando a Sra. Clarke olhou para ele, sua expressão mudou. O óculos de sol do garoto estava agora na mão dele. A Sra. Clarke pareceu assustada com algo, Elena pôde vê-la piscar diversas vezes. Seus lábios abriram e fecharam como se ela estivesse tentando falar. Elena desejou poder ver mais do qua a parte detrás da cabeça do garoto. A Sra Clarke estava remexendo em pilhas de papéis agora, parecendo estupefata. Enfim ela achou um formulário de algum tipo e escreveu nele, então virou-se e o empurrou em direção ao garoto. O garoto escreveu brevemente no formulário – assinando-o, provavelmente – e o devolveu. A Sra. Clarke encarou-o por um segundo, então remexou em uma nova pilha de papéis, finalmente entregando o que parecia com um horário de aulas para ele. Seus olhos nunca deixaram o garoto enquanto ele pegava isso, inclinava sua cabeça em agradecimento, e virava-se para a porta. Elena estava louca de curiosidade agora. O que havia acabado de acontecer ali? E como o rosto do estranho era? Mas a medida que ele emergia do escritório, ele colocava seu óculos de sol no lugar novamente. Desapontamento fluiu através dela. Ainda assim, ela pôde ver o resto de seu rosto enquanto ele parava na entrada. O escuro cabelo encaracolado enquadrava traços de rosto tão belos que eles poderiam ter sido tirados de uma velha moeda ou medalha Romana. Maças do rosto altas, clássico nariz reto... e uma boca para mantê-la acordada à noite, Elena pensou. O lábio superior foi belamente esculpido, um pouco delicado, bastante sensual. A tagarelice das garotas no corredor havia parado como se alguém tivesse mexido no interruptor. A maioria delas estava se virando para longe do garoto agora, olhando para qualquer lugar menos para ele. Elena ficou em seu lugar perto da janela e fez um meneio de cabeça, puxando a fita do cabelo para que ele caísse ao redor de seus ombros. Sem olhar para nenhum lado, o garoto continuou andando pelo corredor. Um coro de suspiros e sussurros irromperam no momento que ele estava fora do alcance de voz. Elena não ouviu nada disso. Ele tinha passado diretamente por ela, ela pensou, estupefata. Diretamente por ela sem olhar. Vagamente, ela percebeu que o sinal estava tocando. Meredith estava puxando seu braço. ―O quê?‖ ―Eu disse aqui está seu horário. Nós temos trigonometria no segundo andar agora. Vamos!‖ Elena permitiu que Meredith a propelisse pelo corredor, por uma escadaria, e para dentro da sala de aula. Ela escorreu em um assento vazio automaticamente e fixou seus olhos na professora à frente sem realmente estar vendo-a. O choque ainda não tinha passado. Ele tinha passado diretamente por ela. Sem um olhar. Ela não conseguia lembrar de quanto tempo fazia desde que um garoto havia feito isso. Todos eles olhavam, ao menos. Alguns assobiavam. Alguns paravam para conversar. Alguns simplesmente encaravam. E isso nunca foi um problema para Elena. Afinal de contas, o que é mais importante que garotos? Eles eram a marca do quão popular você é, do quão bonita você é. E eles podiam ser úteis para todo o tipo de coisas. Às vezes eles eram excitantes, mas geralmente isso não durava muito. Às vezes eles eram repugnantes desde o começo. A maioria dos garotos, Elena refletiu, era exatamente como filhotinhos. Adoráveis nos seus lugares, mas dispensáveis. Uns pouquíssimos podiam ser mais do que isso, podiam se tornar amigos de verdade. Como Matt. Oh, Matt. Ano passado ela tivera esperanças de que ele era aquele por quem ela estivera procurando, o garoto que faria ela sentir... bem, algo mais. Mais do que um ataque de triunfo por ter feito uma conquista, o orgulho em mostrar sua nova aquisição para as outras garotas. E ela tinha sentido uma forte afeição por Matt. Mas conforme o verão passava, e ela tivera tempo para pensar, ela tinha percebido que era a afeição de uma prima ou irmã. A Srta. Halpern estava passando os livros de trigonometria. Elena pegou o seu mecanicamente e escreveu seu nome dentro, ainda envolta em pensamentos. Ela gostava de Matt mais do que qualquer outro garoto que conhecera. E era por isso que ela teria que contar à ela que estava acabado. Ela não sabia como contar à ele por carta. Ela não sabia como contar à ele agora. Não era por ela ter medo de ele dar um escândalo; ele simplesmente não iria entender. Ela mesma não entendia muito. Era como se ela estivesse sempre querendo alcançar... alguma coisa. Só que, quando ela achou que havia conseguido, não estava lá. Não com Matt, não com qualquer dos outros garotos com quem esteve. E então ela teve que começar tudo de novo. Felizmente, havia sempre material novo. Nenhum garoto havia tido sucesso em resistir à ela, e nenhum garoto a havia ignorado. Até agora. Até agora. Lembrando-se daquele momento no corredor, Elena descobriu que seus dedos estavam apertados ao redor da caneta que ela segurava. Ela ainda não podia acreditar que ele havia passado por ela daquela maneira. O sinal tocou e todo mundo saiu da sala de aula, mas Elena parou na entrada. Ela mordeu seu lábio, fazendo uma varredura pelo mar de estudantes que fluía no corredor. Então ela avistou uma das parasitas que estavam no estacionamento. ―Frances! Venha aqui.‖ Frances veio avidamente, seu rosto comum iluminando-se. ―Escute, Frances, lembra-se do garoto dessa manhã?‖ ―Com o Porsche e as – er – posses? Como eu poderia esquecer?‖ ―Bem, eu quero o horário de aula dele. Pegue-o do escritório se puder, ou copie do dele se tiver que fazê-lo. Mas faça-o!‖ Frances pareceu surpresa por um momento, então forçou um sorriso e concordou. ―Está bem, Elena. Eu vou tentar. Eu te encontrarei no almoço se eu conseguir pegá-lo.‖ ―Obrigada.‖ Elena observou a garota ir embora. ―Sabe, você realmente é maluca,‖ a voz de Meredith disse em seu ouvido. ―Qual é a vantagem de ser a rainha da escola se você não pode abusar da sua posição às vezes?‖ Elena retornou calmamente. ―Para onde eu vou agora?‖ ―Negócios Gerais. Aqui, pegue-o você mesma.‖ Meredith empurrou uma tabela de horário para ela. ―Eu tenho que correr para a aula de química. Até depois!‖ Negócios Gerais e o resto da manhã passou como um borrão. Elena tivera esperança de ver outra vez de relance o novo estudante, mas ele não estava em nenhum de suas aulas. Matt estava em uma, e ela sentiu uma pontada de dor quando os olhos azuis dele encontraram-na com um sorriso. Com o sinal do almoço, ela fez cumprimentos com a cabeça a torto e a direito a medida em que entrava na lanchonete. Caroline estava do lado de fora, repousada casualmente contra uma parede com o queixo levantado, os ombros para trás, o quadril para frente. Os dois garotos com quem ela estivera falando ficaram em silêncio e cutucaram um ao outro quando Elena se aproximou. ―Oi,‖ Elena disse brevemente aos garotos; e para Caroline: ―Pronta para entrar e comer?‖ Os olhos verdes de Caroline mal pestanejaram na direçaão de Elena, e ela empurrou seu brilhoso cabelo castanho para longe do rosto. ―O que, na mesa da realeza?‖ ela disse. Elena foi pega de surpresa. Ela e Caroline eram amigas desde o jardim-de-infância, e elas sempre competiram uma contra a outra de maneira afável. Mas ultimamente alguma coisa havia acontecido com a Caroline. Ela tinha começado a levar a rivalidade cada vez mais a sério. E agora Elena estava surpreendida pela amargura na voz da outra garota. ―Bem, não é como se você fosse uma plebéia,‖ ela disse levianamente. ―Ah, você está tão certa sobre isso,‖ disse Caroline, virando-se para encarar Elena plenamente. Aqueles olhos verdes de gata estavam abertos por uma pequena brecha e fumegantes, e Elena ficou chocada pela hostilidade que viu ali. Os dois garotos sorriram desconfortavelmente e foram para longe. Caroline não pareceu notar. ―Um monte de coisas mudou enquanto você estava fora esse verão, Elena,‖ ela continuou. ―E talvez seu tempo no trono esteja acabando.‖ Elena corou; ela podia sentir isso. Ela lutou para manter sua voz firme. ―Talvez,‖ ela disse. ―Mas eu não compraria um cetro tão cedo se fosse você, Caroline.‖ Ela se virou e foi para a lanchonete. Foi um alívio ver Meredith e Bonnie, e Frances atrás delas. Elena sentiu suas bochechas se esfriarem a medida que selecionava seu almoço e ia se juntar à elas. Ela não deixaria Caroline chateá-la; ela não pensaria em Caroline de modo algum. ―Eu consegui,‖ disse Frances, agitando um pedaço de papel enquanto Elena se sentava. ―E eu tenho coisas boas a contar,‖ disse Bonnie de modo importante. ―Elena, escute isso. Ele está na minha aula de biologia, e eu sento bem em frente a ele. E seu nome é Stefan, Stefan Salvatore, e ele é da Itália, e ele está hospedado com a velha Sra. Flowers na margem da cidade." Ela suspirou. ―Ele é tão romântico. Caroline derrubou seus livros, e ele os pegou para ela.‖ Elena fez uma cara de repulsa. ―Que desastrada a Caroline é. O que mais aconteceu?‖ ―Bem, foi isso. Ele não falou com ela na verdade. Ele é mui-i-ito misterioso, veja só. A Sra. Endicott, minha professora de biologia, tentou fazer com que ele tirasse seus óculos, mas ele não tirou. Ele tem um problema médico.‖ ―Que tipo de problema médico?‖ ―Eu não sei. Talvez seja terminal e seus dias estejam contados. Isso não seria romântico?‖ ―Oh, muito,‖ disse Meredith. Elena estava olhando por sobre a folha de papel de Frances, mordendo seu lábio. ―Ele está na minha sétima aula, História da Europa. ―Alguém mais tem essa aula?‖ ―Eu tenho,‖ disse Bonnie. ―E eu acho que Caroline também tem. Oh, e talvez Matt; ele disse uma coisa ontem sobre como ele tinha sorte, ficando com o Sr. Tanner.‖ Maravilha, Elena pensou, pegando um garfo e apunhalando seu purê de batata. Parecia que a sétima aula iria ser extremamente interessante. Stefan estava feliz que o dia na escola estava quase acabando. Ele queria sair dessas salas e corredores lotados, só por alguns minutos. Tantas mentes. A pressão de tantas padrões de pensamentos, tantas vozes mentais cercando-o, estavam-no deixando tonto. Faziam anos desde que ele estivera no meio de uma multidão de pessoas desse jeito. Uma mente em particular se destacou dos outros. Ela estivera entre aqueles que o estiveram observando no corredor principal do prédio da escola. Ele não sabia como era sua aparência, mas sua personalidade era poderosa. Ele tinha certeza de que a reconheceria novamente. Até agora, pelo menos, ele havia sobrevivido ao primeiro dia da farsa. Ele havia usado os Poderes somente duas vezes, e depois moderadamente. Mas ele estava cansado, ele admitiu com melancolia, com fome. O coelho não fora o suficiente. Preocupe-se com isso depois. Ele achou sua última sala de aula e se sentou. E imediatamente sentiu a presença daquela mente de novo. Ela incandescia na margem da consciência dele, uma luz dourada, suave e ainda assim vibrante. E, pela primeira vez, ele pôde localizar a garota da qual ela vinha. Ela estava sentada bem na frente dele. No momento em que ele pensava isso, ela se virou e ele viu seu rosto. Tudo que ele pôde fazer foi não arfar com choque. Katherine! Mas é claro que não poderia ser. Katherine estava morta; ninguém sabia disso melhor do que ele. Ainda assim, a semelhança era excepcional. O pálido cabelo dourado, tão belo que parecia quase brilhar. Aquela pele cremosa, que sempre o havia feito pensar em cisnes, ou alabastro, ruborizando um leve rosa nas bochechas. E os olhos... os olhos de Katherine eram de uma cor que ele nunca tinha visto antes; mais escuros do que o azul do céu, tão ricos quanto a pedra celestial em sua tiara cravada de pedras preciosas. Essa garotaa tinha os mesmos olhos. E eles estavam fixados diretamente nos dele a medida que ela sorria. Ele desviou o olhar de seu sorriso rapidamente. De todas as coisas, ele não queria pensar em Katherine. Ele não queria olhar para essa garota que o lembrava dela, e ele não queria mais sentir sua presença. Ele manteve seus olhos na mesa, bloqueando sua mente tão fortemente quanto pôde. E por fim, lentamente, ela se virou novamente. Ela ficou magoada. Até mesmo através dos bloqueios, ele pôde sentir isso. Ele não ligava. De fato, ele estava feliz por isso, e ele esperava que isso a mantivesse afastada dele. Fora isso, ele não tinha sentimentos algum por ela. Ele continuou dizendo isso a si mesmo enquanto se sentava, a voz monótona do professor fluindo por ele sem ser ouvida. Mas ele podia sentir um indício sutil de algum perfume – violetas, ele pensou. E seu esguio pescoço branco estava curvado sobre seu livro, o belo cabelo caindo dos dois lado dele. Com raiva e frustração ele reconheceu o sedutor sentimento em seus dentes – mais como cócegas ou formigamento do que uma dor. Era fome, uma fome específica. E não uma que ele estava prestes a ceder. O professor estava marchando na sala como um furrão, fazendo perguntas, e Stefan deliberadamente fixou sua atenção no homem. A princípio ele ficou intrigado, pois embora nenhum dos estudantes soubesse as respostas, as perguntas continuavam. Então ele percebeu que esse era o propósito do homem. Envergonhar os estudantes com o que eles não sabiam. Nesse instante ele havia achado outra vítima, uma garota pequena com uma penca de cachos vermelhos e um rosto em formato de coração. Stefan observou à distância enquanto o professor a atazanava com perguntas. Ela parecia miserável a medida em que ele se afastava dela para se dirigir à turma toda. ―Estão vendo o que quero dizer? Vocês acham que são os maiorais; vocês são veteranos agora, prontos para se formarem. Bem, deixem-me dizer isso, alguns de vocês não estão prontos para se formarem no jardim-de-infância. Como essa!‖ Ele gesticulou em direção à garota de cabelo vermelho. ―Não faz idéia sobre a Revolução Francesa. Acha que Maria Antonieta era uma estrela de filme mudo.‖ Os estudantes ao redor de Stefan se mexeram de maneira desconfortável. Ele pôde sentir o ressentimento nas mentes deles, e a humilhação. E o medo. Estavam todos com medo desse pequeno homem magro com olhos como o de uma doninha, até mesmo os garotos atléticos que eram mais alto do que ele. ―Tudo bem, vamos tentar outra era.‖ O professor virou-se de volta para a mesma garota que havia questionado. ―Durante a Renascença –‖ ele parou abruptamente. ―Você sabe o que é a Renascença, não sabe? O período entre os séculos treze e dezessete, no qual a Europa redescobriu as grandes idéias da Grécia e da Roma antiga? O período que produziu muitos dos maiores artistas e pensadores da Europa?‖ Quando a garota concordou de modo confuso, ele continuou.―Durante a Renascença, o que os estudantes da sua idade estariam fazendo na escola? Bem? Alguma idéia? Algum palpite?‖ A garota engoliu em seco. Com um fraco sorriso ela disse, ―Jogando futebol?‖ Com a subseqüente risada, o rosto do professor se endureceu. ―Dificilmente!‖ ele repreendeu, e a sala de aula aquietou-se.―Você acha que isso é uma piada? Bem, naqueles dias, os estudantes da sua idade já seriam proficientes em várias línguas. Eles também dominariam lógica, matemática, astronomia, filosofia, e gramática. Eles também já estariam prontos para ir à uma universidade, na qual todos os cursos eram ensinados em latim. Futebol seria absolutamente a última coisa na –‖ ―Com licença.‖ A voz silenciosa parou o professor no meio de seu longo discurso. Todos se viraram para encarar Stefan. ―O quê? O que você disse?‖ ―Eu disse, com licença,‖ Stefan repetiu, removendo seus óculos de sol e se levantando. ―Mas você está errado. Estudantes da Renascença eram encorajados a participar de jogos. Eles eram ensinados que um corpo saudável combina com uma mente saudável. E eles certamente jogavam esportes de time, como críquete, tênis - e até mesmo futebol." Ele se virou para a garota de cabelo vermelho e sorriu, e ela sorriu de volta com gratidão. Para o professor, ele acrescentou, ―Mas as coisas mais importantes que eles aprendiam eram boas maneiras e cortesia. Estou certo de que seu livro lhe dirá isso.‖ Os estudantes estavam dando risada. O rosto do professor estava vermelho de sangue, e ele estava emitindo faíscas. Mas Stefan continuou a segurar o olhar, e depois de mais um minuto foi o professor que desviou o olhar. O sinal tocou. Stefan colocou seus óculos rapidamente e juntou seus livros. Ele já tinha atraído mais atenção para si mesmo do que deveria, e ele não queria ter que olhar para a garota loira novamente. Além do mais, ele precisava sair de lá rapidamente; havia uma familiar sensação de queimadura em suas veias. A medida que ele alcançava a porta, alguém gritou, ―Ei! Eles realmente jogavam futebol naquele tempo?‖ Ele não pôde evitar dar um sorriso por sobre o ombro. ―Oh, sim. Algumas vezes com as cabeças decepadas dos prisioneiros de guerra.‖ Elena observou-o enquanto ele saía. Ele havia deliberadamente virado as costas para ela. Ele a tinha desprezado de propósito, e na frente de Caroline, que estivera observando como um falcão. Lágrimas queimaram em seus olhos, mas naquele momento somente um pensamento queimou em sua mente. Ela o teria, mesmo que isso a matasse. Se isso matasse a ambos, ela o teria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Despertar (tvd)-1
Vampiresérie The vampire diaries de L.J.SMITH ―Você está se divertindo?‖ Elena perguntou. Agora eu estou. Stefan não disse, mas Elena sabia que era isso que ele estava pensando. Ela podia ver no jeito como ele a encarava. Ela...