4

59 4 0
                                    

Na  hora  que  Elena  alcançou  seu  armário,  o  entorpecimento  estava  passando  e  o  caroço  em sua  garganta  estava  tentando  se  dissolver  em  lágrimas.  Mas  ela  não  choraria  na  escola,  ela disse  à  si  mesma,  ela  não  iria.  Depois  de  fechar  seu  armário,  ela  foi  em  direção  a  saída principal. Pelo  segundo  dia  consecutivo,  ela  estava  voltando  para  casa  logo  depois  do  último  sinal,  e sozinha.  Tia  Judith  não  iria  conseguir  lidar  com  isso.  Mas  quando  Elena  chegou  em  casa,  o carro  de  tia  Judith  não  estava  na  garagem;  ela  e  Margaret  devem  ter  ido  ao  supermercado. A casa  ainda  estava  quieta  e  pacífica  enquanto  Elena  entrava. Ela  estava  grata  por  essa  quietude;  ela  queria  ficar  sozinha  agora.  Mas,  por  outro  alado,  ela não  sabia  exatamente  o  que  fazer  consigo  mesma. Agora  que  ela  finalmente  podia  chorar,  ela  descobriu  que  as  lágrimas  não  vinham.  Ela deixou  sua  mochila  afundar  no  chão  do  corredor  da  frente  e  andou  lentamente  na  sala  de estar. Era  uma  bonita  e  impressionante  sala,  a  única  parte  da  casa  fora  o  quarto  de  Elena  que pertencia  à  estrutura  original.  Aquela  primeira  casa  fora  construída  antes  de  1861,  e  fora quase  queimada  completamente  na  Guerra  Civil.  E  tudo  que  pôde  ser  salvo  foi  essa  sala, com  sua  elaborada  lareira  emoldurada  por  curvas,  e  o  grande  quarto  acima.  O  bisavô  do  pai de  Elena  tinha  construído  uma  casa  nova,  e  os  Gilberts  moraram  lá  desde  então. Elena  se  virou  para  olhar  por  uma  das  janelas  que  iam  do  teto  até  o  chão.  O  vidro  era  tão velho  que  estava  grosso  e  oscilante,  e  tudo  do  lado  de  fora  estava  distorcido,  parecendo levemente  embriagado.  Ela  se  lembrou  da  primeira  vez  em  que  seu  pai  a  mostrou  aquele velho  vidro  oscilante,  quando  ela  era  mais  nova  do  que  Margaret  era  agora. A sensação  de  algo  em  sua  garganta  estava  de  volta,  mas  ainda  assim  as  lágrimas  não vinham.  Tudo  dentro  dela  era  contraditório.  Ela  não  queria  companhia,  e  ainda  assim  ela estava  dolorosamente  solitária.  Ela  queria  pensar,  mas  agora  que  ela  estava  tentando,  seus pensamentos  a  evitavam  como  um  rato  correndo  de  uma  coruja  branca. Coruja  branca...  ave  de  caça…  comedora  de  carne…  corvo,  ela  pensou.  ―O  maior  corvo  que eu  já  vi,‖  Matt  tinha  dito. Seus  olhos  doeram  novamente.  Pobre  Matt.  Ela  o  tinha  machucado,  mas  ele  fora  tão bonzinho  quanto  a  isso.  Ele  tinha  sido  bonzinho  até  com  o  Stefan. Stefan.  Seu  coração  fez  um  baque,  forte,  espremendo  duas  lágrimas  quentes  em  seus  olhos. Pronto,  finalmente  ela  estava  chorando.  Ela  estava  chorando  de  raiva  e  humilhação  e frustração  –  e  o  que  mais? O que  ela  tinha  realmente  perdido  hoje?  O  que  ela  realmente  sentia  por  esse  estranho,  esse Stefan  Salvatore?  Ele  era  um  desafio,  sim,  e  isso  o  deixava  diferente,  interessante.  Stefan era  exótico…  excitante. Engraçado,  isso  era  o  que  algumas  vezes  os  caras  tinham  dito  à  Elena  que  ela  era.  E  mais tarde  ela  ouvia  deles,  ou  de  seus  amigos  ou  irmãs,  o  quão  nervosos  eles  estavam  antes  de sair  com  ela,  como  suas  palmas  ficaram  suadas  e  seus  estômagos  estavam  cheios  de borboletas.  Elena  sempre  achou  tais  histórias  divertidas.  Nenhum  garoto  que  ela  conhecera já  a  fez  ficar  nervosa. Mas  quando  ela  falara  com  Stefan  hoje,  seu  pulso  estivera  acelerado,  seus  joelhos  bambos. Suas  palmas  estiveram  molhadas.  E  não  havia  tido  borboletas  em  seu  estômago  –  havia  tido morcegos. Ela  estava  interessada  no  cara  porque  ele  a  deixava  nervosa?  Não  é  uma  razão  muito  boa, Elena,  ela  disse  à  si  mesma.  De  fato,  uma  razão  muito  ruim. Mas  também  tinha  aquela  boca.  Aquela  boca  esculpida  que  fez  seus  joelhos  ficarem bambos  com  algo  totalmente  diferente  do  que  nervosismo.  E  aquele  cabelo  escuro  como  a noite  –  seus  dedos  coçavam  para  se  entrelaçar  naquela  suavidez.  Aquele  corpo  flexível  e  de músculos  lisos,  aquelas  pernas  longas...  e  aquela  voz.  Fora  a  voz  dele  que  a  fizera  se  decidir ontem,  deixando-a  absolutamente  determinada  a  tê-lo.  Sua  voz  era  frio  e  desdenhosa quando  estivera  falando  com  o  Sr.  Tanner,  mas  estranhamente  convincente  para  tudo aquilo.  Ela  se  perguntou  se  poderia  ficar  escura  como  a  noite  também,  e  como  soaria dizendo  seu  nome,  sussurrando  seu  nome... "Elena!" Elena  pulou,  seu  devaneio  destruído.  Mas  não  era  Stefan  Salvatore  chamando-a,  era  a  tia Judith  tagarelando  na  porta  da  frente  aberta. "Elena?"  Elena!"  E  essa  era  Margaret,  sua  voz  estridente  e  sibilante.  ―Você  está  em  casa?‖ Sofrimento  fluíu  por  Elena  novamente,  e  ela  deu  uma  olhada  na  cozinha.  Ela  não  podia encarar  as  perguntas  preocupadas  de  sua  tia  ou  a  inocente  animação  de  Margaret  agora. Não  com  seus  cílios  molhados  e  novas  lágrimas  ameaçando  a  qualquer  minuto.  Ela  tomou uma  decisão  rápida  e  silenciosamente  deslizou  pela  porta  de  trás  enquanto  a  porta  da  frente batia  ao  fechar. Logo  que  estava  fora  da  varanda  de  trás  e  entrou  no  quintal,  ela  hesitou.  Ela  não  queria encontrar  ninguém  que  ela  conhecia. Mas  aonde  ela  podia  ir  para  ficar  sozinha? A resposta  veio  quase  instantaneamente.  É  claro.  Ela  iria  ver  sua  mãe  e  seu  pai. Era  uma  caminhada  razoavelmente  longa,  quase  na  beira  da  cidade,  mas  nos  últimos  três anos  se  tornara  familiar  para  Elena.  Ela  cruzou  a  Ponte  Wickery  e  subiu  a  colina,  para  além da  Igreja  arruinada,  então  desceu  para  o  pequeno  vale  adiante. Essa  parte  do  cemitério  era  bem-cuidada;  era  a  parte  antiga  que  permitiam  ficar  levemente selvagem.   Aqui,  a  grama  estava  primorosamente  aparada,  e  buquês  de  flores  salpicavam  cores brilhantes.  Elena  sentou-se  na  grande  lápide  de  mármore  com  ―Gilbert‖  entalhado  na  frente. ―Oi,  mãe.  Oi,  pai,‖  ela  sussurrou.  Ela  se  inclinou  para  colocar  flores  não-me-toque  roxas que  ela  havia  pego  à  caminho  em  frente  ao  mercado.  Então  ela  enroscou  sua  pernas  debaixo de  si  e  simplesmente  sentou. Ela  vinha  aqui  regularmente  após  o  acidente.  Margaret  tinha  somente  um  ano  quando  o acidente  de  carro  aconteceu;  ela  não  lembrava  bem  deles.  Mas  Elena  lembrava.  Agora  ela deixava  sua  mente  folhear  pelas  memórias,  e  o  caroço  em  sua  garganta  inchou,  e  as lágrimas  vieram  mais  facilmente.  Ela  sentia  tanto  a  falta  deles,  ainda.  Mamãe,  tão  jovem  e bonito,  e  papai,  com  um  sorriso  que  enrugava  seus  olhos. Ela  tinha  sorte  de  ter  tia  Judith,  é  claro.  Não  era  toda  tia  que  se  despediria  do  trabalho  e  se mudaria  para  uma  cidadezinha  para  tomar  conta  de  duas  sobrinhas  orfãs.  E  Robert,  o  noivo de  tia  Judith,  era  mais  como  um  padrasto  para  Margareth  do  que  um  futuro  tio-porcasamento. Mas  Elena  se  lembrava  de  seus  pais.  As  vezes,  logo  depois  do  funeral,  ela  tinha  vindo  aqui para  brigar  com  eles,  com  raiva  deles  por  terem  sido  tão  estúpidos  a  ponto  de  morrerem. Isso  foi  quando  ela  não  conhecia  muito  bem  a  tia  Judith,  e  tinha  sentido  que  não  havia  mais lugar  na  Terra  aonde  ela  pertencesse. Aonde  ela  pertencia  agora?  ela  se  perguntou.  A  resposta  fácil  era,  aqui,  em  Fell‘s  Church, aonde  ela  havia  vivido  sua  vida  toda.  Mas  ultimamente  a  resposta  fácil  parecia  errada. Ultimamente  ela  sentia  que  devia  ter  alguma  outra  coisa  lá  fora  para  ela,  algum  lugar  que ela  reconheceria  de  primeira  e  chamaria  de  lar. Uma  sombra  caiu  sobre  ela,  e  ela  olhou  para  cima,  assustada.  Por  um  instante,  as  duas figuras  paradas  sobre  ela  eram  alienígenas,  estranhas,  vagamente  ameaçadoras.  Ela encarou,  congelada. ―Elena,‖  disse  a  menor  figura  agitadamente,  as  mãos  nos  quadris,  ―às  vezes  eu  me  preocupe com  você,  realmente  me  preocupo.‖ Elena  piscou  e  então  riu  brevemente.  Eram  Bonnie  e  Meredith.  ―O  que  uma  pessoa  tem  que fazer  para  conseguir  um  pouco  de  privacidade  por  aqui?‖  ela  disse  enquanto  elas  sentavam. ―Diga-nos  para  ir  embora,‖  sugeriu  Meredith,  mas  Elena  só  deu  de  ombros.  Meredith  e Bonnie  tinham  vindo  aqui  muitas  vezes  para  encontrá-la  nos  meses  depois  do  acidente.  De repente,  ela  se  sentiu  feliz  por  isso,  e  grata  à  ambas.  Se  a  nenhum  outro  lugar,  ela  pertencia às  amigas  que  ligavam  para  ela.  Ela  não  se  importava  se  elas  soubessem  que  ela  estivera chorando,  e  ela  aceitou  os  lencinhos  amassados  que  Bonnie  ofereceu  e  limpou  seus  olhos.   As  três  sentaram  juntas  em  silêncio  por  um  tempo,  observando  o  vento  agitar  o  grupo  de árvores  de  carvalho  na  beira  do  cemitério. ―Eu  sinto  muito  sobre  o  que  aconteceu,‖  Bonnie  disse  por  fim,  com  uma  voz  suave. ―Aquilo  foi  realmente  terrível.‖ ―E  o  seu  nome  do  meio  é ‗Tato,‘‖  disse  Meredith.  ―Não  poderia  ter  sido  tão  ruim,  Elena.‖ ―Você  não  estava  lá.‖  Elena  se  sentiu  ficando  quente  novamente  com  a  memória.  ―Foi terrível.  Mas  eu  não  ligo  mais,‖  ela  acrescentou  categoricamente,  com  despeito.  ―Eu  estou farta  dele.  Eu  não  o  quero  mais.‖ "Elena!" ―Eu  não  quero,  Bonnie.  Ele  obviamente  se  acha  bom  demais  para  –  para  americanos.  Então ele  pode  simplesmente  pegar  aqueles  óculos  de  sol  de  designer  e..." Houve  bufos  de  risada  das  outras  garotas.  Elena  assou  seu  nariz  e  balançou  sua  cabeça. ―Então,‖  ela  disse  à  Bonnie,  determinada  a  mudar  o  assunto,  ―pelo  menos  Tanner  pareceu estar  com  um  humor  melhor  hoje.‖ Bonnie  pareceu  atormentada.  ―Você  sabe  que  ele  fez  eu  me  recrutar  para  ser  a  primeira  a fazer  meu  relatório  oral?  Eu  não  me  importo,  de  qualquer  forma;  eu  vou  fazer  o  meu  sobre os  druidas,  e  –‖ ―Sobre  o  quê?‖ ―Druí-das.  Os  velhos  esquisitos  que  construíram  Stonehenge  e  faziam  mágica  e  coisa  e  tal na  antiga  Inglaterra.  Eu  descendo  deles,  e  é  por  isso  que  eu  sou  vidente.‖ Meredith  bufou,  mas  Elena  franziu  a  testa  para  o  talo  de  grama  que  ela  estava  girando  entre seus  dedos.  ―Bonnie,  você  realmente  viu  alguma  coisa  ontem  na  minha  palma?‖  ela perguntou  abruptamente. Bonnie  hesitou.  ―Eu  não  sei,‖  ela  disse  por  fim.  ―Eu  –  eu  pensei  que  tinha  naquela  hora. Mas  às  vezes  minha  imaginação  me  escapa.‖ ―Ela  sabia  que  você  estava  aqui,‖  disse  Meredith  inesperadamente.  ―Eu  pensei  em  procurar na  cafeteria,  mas  Bonnie  disse,  ‗Ela  está  no  cemitério.‘" ―Disse?‖  Bonnie  pareceu  pouco  surpresa  mas  impressionada.  ―Bem,  veja  só.  Minha  avó  em Edimburgo  tem  a  segunda  visão  e  eu  também.  Sempre  pula  uma  geração.‖ ―E  você  descende  dos  druidas,‖  Meredith  disse  solenemente. ―Bem  é  verdade!  Na  Escócia  eles  mantêm  as  antigas  tradições.  Você  não  acreditaria  em algumas  das  coisas  que  minha  avó  faz.  Ela  tem  um  jeito  de  descobrir  com  quem  você  vai  se casar  e  quando  você  vai  morrer. Ela  me  disse  que  eu  vou  morrer  cedo.‖ ―Bonnie!‖ ―Ela  disse.  Eu  vou  estar  jovem  e  bonita  no  meu  caixão.  Não  acha  que  isso  é  romântico?‖ ―Não,  não  acho.  Eu  acho  que  é  nojento,‖  disse  Elena.  As  sombras  estavam  ficando  mais longas,  e  o  vento  estava  frio  agora. ―Então  com  quem  você  vai  se  casar,  Bonnie?‖  Meredith  disse  com  jeito. ―Eu  não  sei.  Minha  avó  me  disse  o  ritual  para  descobrir,  mas  eu  nunca  tentei.  É  claro‖  – Bonnie  fez  uma  pose  sofisticada  –  ―ele  tem  que  ser  escandalosamente  rico  e  totalmente lindo.  Como  o  nosso  misterioso  estranho  moreno,  por  exemplo.  Especialmente  se  ninguém mais  o  quiser.‖  Ela  lançou  um  olhar  travesso  para  Elena. Elena  recusou  a  isca.  ―E  quanto  à  Tyler  Smallwood?‖  ela  murmurou  inocentemente.  ―Seu pai  é  certamente  rico  o  bastante.‖ ―E  ele  não  é  feio,‖  concordou  Meredith  solenemente,  ―Isso  é,  é  claro,  se  você  for  uma amante  de  animais.  Aqueles  enormes  dentes  brancos.‖ As  garotas  olharam  uma  para  outra  e  então  simultaneamente  caíram  na  risada.  Bonnie jogou  um  punhado  de  grama  em  Meredith,  que  a  removeu  e  jogou  um  dente-de-leão  nela. Em algum  lugar  no  meio  disso,  Elena  percebeu  que  ela  ia  ficar  bem.  Ela  era  ela  mesma novamente,  não  perdida,  não  uma  estranha,  mas  Elena  Gilbert,  a  rainha  da  Robert  E.  Lee. Ela  puxou  a  fita  laranja-amarelada  de  seu  cabelo  e  balançou  o  cabelo  livremente  por  seu rosto. ―Eu  decidi  o  que  fazer  no  meu  relatório  oral,‖  ela  disse,  observando  com  olhos  estreitos enquanto  Bonnie  tirava  com  os  dedos  grama  de  seus  cachos. ―O  quê?‖  disse  Meredith. Elena  inclinou  seu  queixo  e  olhou  para  o  céu  vermelho  e  roxo  acima  da  colina.  Ela  tomou um ponderado  fôlego  e  deixou  o  suspense  crescer  por  um  momento.  Então  ela  disse friamente,  ―A  Renascença  Italiana.‖ Bonnie  e  Meredith  a  encararam,  então  olharam  uma  para  outra  e  explodiram  em  berros  e gargalhadas  novamente. ―Aha,‖  disse  Meredith  quando  se  recuperaram.  ―Então  a  tigresa  regressou.‖ Elena  mostrou-lhe  um  sorriso  ferino.  Sua  confiança  abalada  havia  retornado  à  ela.  E  ainda que  ela  mesma  não  entendesse,  ela  sabia  de  uma  coisa:  ela  não  ia  deixar  Stefan  Salvatore escapar  vivo. ―Tudo  bem,‖  ela  disse  rapidamente.  ―Agora,  escutem,  vocês  duas.  Ninguéma  mais  pode saber  disso,  ou  vou  ser  motivo  de  riso  na  escola.  E  Caroline  iria  amar  qualquer  desculpa para  me  fazer  parecer  ridícula.  Mas  eu  ainda  quero  ele,  e  eu  vou  tê-lo.  Eu  não  sei  como ainda,  mas  eu  vou.  Até  que  eu  bole  um  plano,  contudo,  nós  vamos  tratá-lo  com indiferença.‖ ―Oh,  nós  vamos?‖ ―Sim,  nós  vamos.  Você  não  pode  tê-lo,  Bonnie;  ele  é  meio.  E  eu  tenho  que  ser  capaz  de confiar  em  você  completamente.‖ ―Espere  um  minuto,‖  disse  Meredith,  um  brilho  em  seu  olhar.  Ela  soltou  o  alfinete cloisonné  de  sua  blusa,  então,  levantando  seu  dedão,  deu  uma  rápida  picada.  ―Bonnie,  me de  sua  mão.‖ ―Por  quê?‖  disse  Bonnie,  olhando  o  alfinete  com  suspeita. ―Porque  eu  quero  me  casar  com  você.  Por  que  você  acha,  idiota?‖ ―Mas  –  mas  –  Ah, tudo  bem.  Ai!‖ ―Agora  você,  Elena.‖  Meredith  picou  o  dedão  de  Elena  eficientemente,  e  então  espremeu-o para  conseguir  uma  gota  de  sangue.  ―Agoara,‖  ela  continuou,  olhando  para  as  outras  duas com  brilhantes  olhos  negros,  ―todas  nós  pressionamos  os  nossos  dedões  juntos  e  juramos. Especialmente  você,  Bonnie.  Jure  manter  esse  segredo  e  fazer  o  que  quer  que  Elena  peça em relação  à  Stefan.‖ ―Olha,  jurar  com  sangue  é  perigoso,‖  Bonnie  protestou  seriamente.  ―Quer  dizer  que  você tem  que  ser  fiel  ao  seu  juramente  não  importa  o  que  acontecer,  não  importa  o  que, Meredith.‖ ―Eu  sei,‖  disse  Meredith  cruelmente.  ―É  por  isso  que  eu  estou  dizendo  para  você  fazer  isso. Eu  lembro  do  que  aconteceu  com  Michael  Martin.‖ Bonnie  fez  careta.  ―Isso  foi  há  anos,  e  nós  terminamos  logo  de  qualquer  jeito  e  –  Ah,  tudo bem.  Eu  vou  jurar.‖  Fechando  seus  olhos,  ela  disse,  ―Eu  juro  manter  isso  secreto  e  fazer qualquer  coisa  que  Elena  peça  em  relação  à  Stefan.‖ Meredith  repetiu  o  julgamento.  E  Elena,  encarando  as  pálidas  sombras  dos  dedões  juntados na  reunião  do  anoitecer,  tomou  um  longo  fôlego  e  disse  suavemente,  ―E  eu  juro  não descansar  até  que  ele  pertença  a  mim.‖ Uma rajada  fria  de  vento  soprou  pelo  cemitério,  ventilando  o  cabelo  das  meninas  e  fazendo com  que  folhas  secas  se  agitassem  no  chão.  Bonnie  arfou  e  recuou,  e  todas  olharam  ao redor,  então  riram  nervosamente. ―Está  escuro,‖  disse  Elena,  surpresa. ―É  melhor  irmos  para  casa,‖  Meredith  disse,  fixando  seu  alfinete  enquanto  ficava  de  pé. Bonnie  se  levantou,  também,  colocando  a  ponta  de  seu  dedão  em  seua  boca. ―Tchau,‖  disse  Elena  suavemente,  encarando  a  lápide.  A  flor  roxa  era  um  borrão  no  chão. Ela  pegou  a  fita  laranja-amarelada  que  descansava  ao  lado  dela,  virou-se,  e  acenou  para Bonnie  e  Meredith.  ―Vamos.‖ Silenciosamente,  elas  se  dirigiram  à  colina  em  direção  à  Igreja  arruinada.  O  juramento  feito com  sangue  deu-lhes  uma  sensação  solene,  e  enquanto  elas  passavam  pela  Igreja  arruianada Bonnie  estremeceu.  Com  o  Sol  se  pondo,  a  temperatura  tinha  abaixado  abruptamente,  e  o vento  estava  subindo.  Cada  rajada  mandava  sussuros  pela  grama  e  fazia  com  que  as  antigas árvores  de  carvalho  agitassem  suas  folhas  suspensas. ―Eu  estou  congelando,‖  Elena  disse,  parando  por  um  momento  no  buraco  negro  que  uma vez  fora  a  porta  da  Igreja  e  olhando  para  baixo  para  a  paisagem. A Lua ainda  não  tinha  se  erguido,  e  ela  apenas  podia  perceber  o  antigo  cemitério  e  a  Ponte Wickery  além  dele.  O  antigo  cemitério  datava  dos  dias  da  Guerra  da  Secessão,  e  muitas  das lápides  tinham  nomes  de  soldados. Parecia  selvagem;  arbustos  e  grandes  ervas  daninhas  cresciam  nas  sepulturas,  e  heras americanas  abundavam  granitos  decadentes.  Elena  nunca  gostara  dele. ―Parece  diferente,  não?  Na  escuridão,  quero  dizer,‖  ela  disse  instavelmente.  Ela  não  sabia como  dizer  o  que  ela  realmente  quisera  dizer,  que  não  era  um  lugar  para  os  vivos. ―Nós  podíamos  ir  pelo  caminho  longo,‖  disse  Meredith.  ―Mas  isso  significaria  outros  vinte minutos  de  caminhada.‖ ―Eu  não  me  importo  ir  por  esse  caminho,‖  disse  Bonnie,  engolindo  em  seco.  ―Eu  sempre disse  que  queria  ser  enterrada  no  antigo.‖ ―Dá  pra  parar  de  falar  sobre  querer  ser  enterrada?‖  Elena  repreendeu,  e  começou  a  descer  a colina.  Mas  quando  mais  ela  descia  pelo  estreito  caminho,  mais  desconfortável  ela  se sentia.  Ela  diminuiu  até  que  Bonnie  e  Meredith  a  alcançaram.  A  medida  que  elas  se aproximavam  da  primeira  lápide,  seu  coração  começou  a  bater  mais  forte.  Ela  tentou ignorá-lo,  mas  toda  sua  pele  estava  formigando  com  percepção  e  os  pelinhos  em  seus braços  estavam  levantados.  Entre  as  rajadas  de  vento,  todo  som  parecia  horrivelmente magnífico;  o  esmagamento  de  seus  pés  contra  o  caminho  de  folhas  espalhadas  era ensurdecedor. A Igreja  arruinada  era  uma  silhueta  preta  atrás  delas  agora.  O  caminho  estreito  conduzia-se entre  as  lápides  incrustadas  com  líquen,  muitas  das  quais  eram  maiores  que  Meredith. Grandes  o  bastante  para  algo  se  esconder  atrás,  Elena  pensou  desconfortavelmente. Algumas  das  próprias  lápides  eram  amedrontadoras,  como  a  com  o  querubim  que  parecia um bebê  de  verdade,  exceto  que  sua  cabeça  tinha  caído  e  tinha  sido  cuidadosamente colocada  sob  seu  corpo.  Os  grandes  olhos  da  cabeça  de  granito  estavam  vazios.  Elena  não conseguia  desviar  seu  olhar  dele,  e  seu  coração  começou  a  golpear. ―Por  que  nós  estamos  parando?‖  disse  Meredith. ―Eu  só...  sinto  muito,‖  Elena  murmurou,  mas  quando  se  forçou  a  virar  ela  imediatamente endureceu. ―Bonnie?‖  ela  disse.  ―Bonnie,  qual  é  o  problema?‖ Bonnie  estava  encarando  diretamente  o  cemitério,  seus  lábios  separados,  seus  olhos  tão arregalados  e  vazios  quanto  os  do  querubim  de  pedra.  Medo  passou  pelo  estômago  de Elena.  ―Bonnie,  pare  com  isso.  Pare!  Não  é  engraçado.‖ Bonnie  não  respondeu. ―Bonnie!‖  disse  Meredith.  Ela  e  Elena  olharam  uma  para  outra,  e  de  repente  Elena  sabia que  tinha  que  escapar.  Ela  girou  para  começar  a  descer  o  caminho,  mas  uma  voz  estranha falou  atrás  dela,  e  ela  se  virou  rapidamente. ―Elena,‖  a  voz  disse.  Não  era  a  voz  de  Bonnie,  mas  vinha  da  boca  de  Bonnie.  Pálida  na escuridão,  Bonnie  ainda  estava  encarando  o  cemitério.  Não  havia  expressão  em  seu  rosto  de jeito  nenhum. ―Elena,‖  a  voz  disse  de  novo,  e  acrescentou,  a  medida  que  a  cabeça  de  Bonnie  virava  em direção  à  ela,  ―há  alguém  esperando  lá  fora  por  você.‖ Elena  nunca  soube  bem  o  que  aconteceu  nos  próximos  minutos.  Algo  pareceu  se movimentar  entre  as  escuras  sombras  curvadas  da  lápide,  mudando  e  se  elevando  entre  elas. Elena  berrou  e  Meredith  gritou  por  ajuda,  e  então  ambas  estavam  correndo,  e  Bonnie  estava correndo  com  elas,  berrando,  também. Elena  percorreu  o  estreito  caminho,  tropeçando  em  pedras  e  protuberâncias  de  raíz  de grama.  Bonnie  estava  soluçando  por  ar  atrás  delas,  e  Meredith,  a  calma  e  cínica  Meredith, estava  ofegando  selvagemente.  Houve  uma  repentina  batida  e  um  som  agudo  em  uma árvore  de  carvalho  acima  deles,  e  Elena  descobriu  que  ela  podia  correr  mais  rápido. ―Há  algo  atrás  de  nós,‖  Bonnie  chorou  estridentemente.  ―Ah,  Deus,  o  que  está acontecendo?‖ ―Vão  para  a  ponte,‖  arfou  Elena  através  do  fogo  em  seus  pulmões.  Ela  não  sabia  porque, mas  ela  sentia  que  elas  tinham  que  chegar  lá.  ―Não  pare,  Bonnie!  Não  olhe  para  trás!"  Ela agarrou  a  manga  da  outra  garota  e  a  arrastou. ―Eu  não  consigo,‖  Bonnie  choramingou,  agarrando  com  força  seu  lado,  seu  ritmo hesitando. ―Sim,  você  consegue,‖  resmungou  Elena,  agarrando  a  manga  de  Bonnie  novamente  e  a forçando  a  continuar  se  movendo.  ―Vamos.  Vamos!‖ Ela  viu  o  brilho  prateado  de  água  perante  elas.  E  ali  estava  a  clareira  entre  as  árvores  de carvalho,  e  a  ponte  mais  à  frente.  As  pernas  de  Elena  estavam  tremendo  e  seu  fôlego  estava sibilando  em  sua  garganta,  mas  ela  não  ia  se  deixar  retardar.  Agora  ela  podia  ver  as  tábuas de  madeira  da  ponte  para  pedestres.  A  ponte  estava  há  seis  metros  delas,  três  metros,  um  e meio. ―Nós  conseguimos,‖  ofegou  Meredith,  os  pés  trovejando  na  madeira. ―Não  parem!  Cheguem  ao  outro  lado!‖ A ponte  rangeu  a  medida  que  elas  corriam  vacilantemente  por  ela,  seus  passos  ecoando  pela água.  Quando  ela  pulou  na  terra  comprimida  na  margem  distante,  Elena  por  fim  soltou  a manga  de Bonnie,  e  permitiu  que  suas  pernas  cambaleassem  e  parassem. Meredith  estava  curvada,  as  mãos  nos  quadris,  respirando  profundamente.  Bonnie  estava chorando. ―O  que  foi  isso?  Ah,  o  que  foi  isso?‖  ela  disse.  ―Ainda  está  vindo?‖ ―Eu  pensei  que  você  fosse  a  expert,‖  Meredith  disse  instavelmente.  ―Peloe  amor  de  Deus, Elena,  vamos  cair  fora  daqui.‖ ―Não,  está  tudo  bem  agora,‖  Elena  sussurou.  Havia  lágrimas  em  seus  próprios  olhos  e  ela estava  tremendo,  mas  o  hálito  quente  na  parte  de  trás  de  seu  pescoço  tinha  sumido.  O  rio  se esticava  entre  ela  e  aquilo,  as  águas  um  tumulto  escuro.  ―Aquilo  não  pode  nos  seguir  aqui,‖ ela  disse. Meredith  a  encarou,  então  a  outra  margem  com  suas  árvores  de  carvalho  agrupadas,  então Bonnie.  Ela  molhou  seus  lábios  e  riu  brevemente.  ―Claro.  Não  pode  nos  seguir.  Mas  vamos para  casa  de  qualquer  jeito,  está  bem?  A  não  ser  que  você  queira  passar  a  noite  aqui.‖ Algumas  sensações  inomeáveis  estremeceram  por  Elena.  ―Não  hoje,  obrigada,‖  ela  disse. Ela  colocou  um  braço  ao  redor  de  Bonnie,  que  ainda  estava  fungando.  ―Está  tudo  bem, Bonnie.  Nós  estamos  a  salvo  agora.  Vamos.‖ Meredith  estava  olhando  através  do  rio  novamente.  ―Sabe,  eu  não  vejo  nada  lá  trás,‖  ela disse,  sua  voz  mais  calma.  ―Talvez  não  houvesse  nada  atrás  de  nós  de  modo  algum;  talvez nós  simplesmente  entramos  em  pânico  e  nos  assustamos.  Com  uma  ajudinha  de  nossa sacerdotisa  druída  aqui.‖ Elena  não  disse  nada  a  medida  que  elas  começaram  a  caminhar,  mantendo-se  muito  juntas pelo  caminho  de  terra.  Mas  ela  queria  saber.  Ela  queria  muito  saber.

O Despertar (tvd)-1Onde histórias criam vida. Descubra agora