Capítulo II

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— JinYi, eu não quero mais fazer isso. Eu quase tive um infarto agora a pouco. — Choramingou pelo telefone. — O que eu faço?

A recepção estava vazia e só os resmungos da garota podiam ser ouvidos, era como se tudo tivesse parado apenas para que ela desabafasse com sua confidente.

— Faça o que achar melhor, NamHee. — Escutou a voz aguda da amiga pelo telefone. — Sabe que eu vou estar contigo para o que der e vier, só não conte comigo se decidir pular da ponte.

— Qual a graça de curtir com a minha cara? — Expressou indignação sem ânimo depois de ouvir a risada gostosa da jornalista.

— Só queria quebrar o gelo, fica bem, eu preciso de você bem. Se ele demorar a te notar eu escrevo uma matéria sobre você, assim quem sabe? — Ela pode ver a amiga mexendo na ponta dos cabelos com um sorriso maquiavélico em sua imaginação.

— Quem sabe a essa altura eu estaria te esgoelando? — Revirou os olhos enquanto cuspia o ar em frustração. — Vou desligar, tenho muito o que fazer.

— Claro, claro... Bate uma foto do bailarino suado para mim depois! — Disse rápido e desligou o celular sem esperar a repreensão da amiga.

NamHee jogou o celular em cima da bancada com um bico nos lábios querendo que sua amiga derramasse seu café favorito na camisa que ela estivesse usando, e rezou para que esta fosse branca. Voltou a passar o pano sobre o mármore claro pensando no que iria fazer, sem sucesso algum. O tic-tac do grande relógio que ficava na parede lateral, passou a irritá-la. Era como se ela tivesse aqueles minutos para resolver tudo.

Pensando bem, ela queria ajudar mesmo que seu consciente dissesse que era loucura. Não era como se sua vida fosse uma novela e tudo andaria a seu favor, ele descobriria que era ela e se apaixonaria e viveriam felizes para sempre, detalhe importante: tudo isso por um único bilhete. Ela escondeu o rosto entre as mãos pronta para dar um verdadeiro chilique, mas decidiu faria isto depois, longe de possíveis olhos.

Ao longe pôde ver mais uma vez o diretor do espetáculo Giselle gritando com uma bailarina e nem mesmo quis ser o collant da garota, que tremia sem poder se defender, era um normal caótico para ela. Vê-las dando seu melhor e não serem reconhecidas por isso a deixava com o coração apertado e nessas horas não se culpava por ter deixado essa arte tão cedo.

"Enfrente alguém do seu tamanho, aposto que se fosse o CEO Jeon, não falaria tão alto!" — Foi o que pensou.  

Aquele diretor era o carrasco mais cruel da companhia, costumava carregar uma balança e olhava todos os bailarinos de cima para baixo. Sempre que podia, NamHee pedia junto ao CEO da companhia por eles, mas o que uma recepcionista poderia fazer? Ninguém conhecia sua história, nem mesmo JinYi sua melhor amiga.

Ela virou as costas para as paredes de vidro para não ver o que acontecia com punhos cerrados, maxilar trincado e coração quebrado. Pediu a todas as divindades do ballet para proteger aquelas franzinas criaturas daquele gigante desalmado.

Escorado na parede do corredor o jovem bailarino Jung via tudo acontecer, seus olhos continuaram serenos sabendo que aquela bailarina poderia ser ele, era fácil, apenas aquele pequeno detalhe que na hora da emoção era esquecido. A quinta posição não era tão fechada, o tour piqué não era tão ereto, o passé não estava aberto o suficiente, etc., etc.

Suspirou em condolência aos olhos brilhantes por lágrimas da colega de trabalho, viu seu peito de encher devagar e depois se esvaziar tentando manter a estabilidade emocional. A pressão em cima de um bailarino profissional era incalculável, nenhuma pessoa em plena consciência escolheria aquela profissão, não era atoa que se dizia "O bailarino não escolhe o ballet, é o ballet que escolhe o bailarino."

P.S. Plié HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora