Capítulo I

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Eu já me encontrava de volta ao meu laboratório, olhei em volta e estava tudo exatamente como foi deixado. Eu não havia me perdido em nenhuma abertura no espaço-tempo durante a viagem, nem perdido nenhuma parte do meu corpo; então obtive sucesso.

A câmera ainda estava ligada, então eu disse um último "É isso, deu certo" e logo após a desliguei, pegando ela para levá-la comigo.

Eu estava no andar mais baixo da minha casa, então subi as escadas que davam direto para meu quarto. Assim que cheguei ao cômodo eu me joguei na minha confortável cama e coloquei a câmera em cima da escrivaninha.

Os vídeos de alguns experimentos que eu gravava nunca eram publicados, sempre acabavam armazenados na memória da minha câmera. Eu apenas gravava para registrar que realmente aconteceu.

Fechei os olhos por alguns instantes, mas sem conseguir realmente descansar, já que uma onda de sentimentos diversos me invadia naquele momento. Passei a olhar fixamente para minha câmera, com os pensamentos fluindo. 

Eu havia conseguido a chave principal para fazer o que tanto desejei. 

Eu precisava apenas ser cauteloso em quantas vezes eu iria e voltaria no tempo, tanto por conta dos paradoxos temporais (eventos que podem ocorrer quando você viaja no tempo, que podem alterar seu passado ou o seu futuro) e porque eu não sei o quanto de viagens no tempo essa máquina consegue aguentar.

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"Olá meus fãs..." Ela sorri de um jeito engraçado e dá um "oi" para câmera com suas mãos.

"Esse é mais um vídeo para o melhor canal do mundo, dessa vez eu vou falar sobre um assunto que vocês pediram muito... É mentira, só umas duas pessoas pediram." Susurrou essa última parte rindo.

"Você é definitivamente a pessoa mais estranha que eu conheço, Kate. Começa o vídeo logo." Eu disse por trás das câmeras.

"Ok, obrigado pelo elogio. Agora falando sério, hoje eu vou contar um pouco de como é meu dia e minha rotina neste lugar. Claro que não é fácil, mas eu acabei me acostumando. E além disso, eu sou bem mimada, e tenho minhas pessoas especiais, uma delas claro que é o nosso incrível mas as vezes um pé no saco, câmera-man. Vem cá, aparece." Me chamou, tentando me convencer a aparecer.

"Você sabe que eu não gosto de aparecer em vídeos." Disse, mesmo sabendo que ela não desistiria.

"Vem, David, deixa de ser chato, eles estão esperando." Ela me puxou pelo braço de um jeito irresistível e eu acabei cedendo, aparecendo e dando um simplório "oi" pro vídeo, logo voltando para os bastidores.

"Ele é assim mesmo, não liguem." Ela me olhou com o olhar semicerrado e continuou o vídeo, passando a ignorar minha existência.

Narrou toda a sua rotina e tudo que ela tinha que fazer em seus dias, de um jeito engraçado e divertido. Aproveitou e respondeu algumas perguntas que seus seguidores enviavam frequentemente.

Afinal, não era pra menos Katherine Baker ter tantos seguidores assim, ela consegue ser espontânea e cativante sem sequer se esforçar. Ela é única, e todos que a conhecem, a amam.

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Saí de meus pensamentos com um incômodo, eu realmente não gostava de ficar repassando momentos na minha cabeça, mesmo sendo quase incontrolável.

Pensamentos podem ser traiçoeiros, por isso eu preferia evitá-los.

Decidi então levantar daquela cama e fazer algo produtivo. Para quem não quer pensar, ocupar a cabeça é sempre a melhor solução. Funciona comigo, ao menos.

Fui direto para a cozinha preparar um café, depois de pronto subi novamente e fui estudar um pouco as anotações que havia feito sobre minha máquina. Beberiquei um gole e comecei a pesquisar mais coisas.

Eu estava de férias do meu trabalho, mas por eu ser um astrofísico, minha rotina nunca parava realmente. As vezes, eu precisava atender uma ligação ou outra, recebia algumas visitas de compromisso, e em alguns casos, era chamado para dar entrevistas.

Mesmo com a rotina sendo puxada, sempre que podia eu fazia pesquisas sobre diversos assuntos, descobrir e estudar coisas novas é algo que me fascina.

Se passaram algumas horas que eu já havia terminado minhas pesquisas , e estava numa onda de tédio intensa. Já havia verificado meu aparelho celular várias vezes, sempre mensagens fúteis de pessoas que eu não estava com a mínima vontade de responder.

Para falar a verdade, eu acabo sendo solitário grande parte dos meus dias, mas é mais uma escolha minha, eu por vezes prefiro estar sozinho do que rodeado de pessoas que não acrescentarão nada na minha vida.  Um bom livro ou uma matéria da internet e um café são sempre as melhores companhias.

O único amigo que eu realmente considero é Steve, ele trabalha com medicina em um hospital famoso de uma cidade vizinha. Nós nos conhecemos na faculdade, e somos amigos desde então. Agora, ele deve estar em um dos seus plantões médicos.

 Acabei por um impulso pegando o celular e enviando uma mensagem.

"Ei cara, nós precisamos nos ver de novo, quem sabe dar uma saída para assistir à algum jogo de hockey ou algo do tipo, como fazíamos no passado. Quando puder, me liga."

Após enviada, deixei meu celular na cômoda onde fica o computador. Sabia que ele não responderia hoje, e como eu não tinha mais nada para fazer, decidi tomar um banho quente e ir dormir.

Eram por volta das 21:30, mas eu queria estar bem descansado para mais um dia amanhã. Eu pretendia contar para Steve sobre a máquina, mas no momento certo apenas.

De volta para o passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora