Assim que voltei, percebi que eu estava atrasado para me encontrar com Steve.
Eu odiava com todas as minhas forças me atrasar para qualquer coisa, digamos que eu sou uma pessoa extremamente pontual.
Saí de minha casa bufando, e as pressas corri para o bar que não ficava tão distante. Steve estava lá, sentado no banco, com uma cerveja na mão e dando em cima de uma morena que estava dando mole para ele.
Ele era o tipo de cara super gente boa, um ótimo amigo, mas que adorava dar em cima de quase qualquer mulher que visse. Para ele, já tinha virado um hobby.
Assim que me viu, fez um sinal para a morena se afastar, sabia que a última coisa que eu queria era presenciar seus momentos galanteadores com as mulheres.
"Ei cara, o que aconteceu? Sua cara está péssima, e você não é de se atrasar." Exclamou preocupado.
"Eu só precisei resolver umas coisas antes de sair... Preciso me distrair." Sorri fracamente, sentando ao seu lado no banco.
Não demorou para um garçom vir até a mesa perguntando se nós queríamos algo, e eu imediatamente pedi uma bebida das mais fortes. Steve me acompanhou.
"Certeza que está tudo bem? Pode falar comigo sobre tudo, você sabe."
"Sim, estou bem. Como eu disse, só preciso me distrair e relaxar, esquecer os problemas." Respondi.
"Sendo assim, nós viemos ao lugar certo. Logo nós dois estaremos rindo bêbados, conversando sobre coisas fúteis, e você ficará melhor. Como fazíamos antes, lembra?" O comentário de Steve me fez sorrir com às lembranças vindo à mente.
"Lembro sim, era um tempo muito bom. Éramos apenas adolescentes vulneráveis, sonhando com dinheiro, fama..."
"E mulheres." Ele completou.
"Isso você sonha até hoje, já que não amadureceu muito." Disse debochadamente, olhando-o de relance.
Logo o garçom trouxe nossas bebidas e colocou-as na mesa. Peguei a minha e bebi um gole demorado, sentindo a satisfação que era o álcool descendo pela minha garganta como fogo.
"Isso não significa que eu não amadureci, significa apenas que eu sigo minha vida livremente e aproveito enquanto posso. Diferente de alguém." Rebateu, tomando um gole de sua bebida.
"Vai se lascar." Bebi um pouco mais, ignorando o comentário.
"Você sabe que é verdade, David. Você deveria se divertir mais, mal saí de casa, só trabalha." Reclamou.
No fundo, ele estava certo. Eu bloqueava qualquer tipo de interação social ou eventos que pudessem ser "divertidos" ao ver de outras pessoas.
"Eu não sou mais um adolescente, Steve. Essa época já passou. Minha diversão agora é meu trabalho." Falei com uma -falsa- convicção.
"Eu sei que nós não temos mais 19 anos e temos responsabilidades, mas não é por isso que você precisa se trancar em casa todos os dias. Depois daquilo, você se fechou mais ainda." Steve me olhava, ele deveria saber do rumo que aquela conversa tomaria. Já havíamos falado disso outras vezes.
"Eu não me importo. Não preciso de outras pessoas comigo para me divertir. E você pode por favor não falar sobre aquilo?"
Um silêncio tomou conta do ambiente. Bebemos mais de nossos drink's, em seguida pedimos para o garçom trazer mais.
"Desculpa, eu sei que ainda é complicado para você. Mas, mesmo depois de dez anos, como você ainda se fecha tanto? Como não superou ainda?"
Fechei os olhos, suspirando pesadamente, soltando todo o ar que havia em meus pulmões.
"É um problema tão grande eu não querer me relacionar com as pessoas? Não é como se eu estivesse traumatizado, elas apenas não tem nada interessante a oferecer." Ditei sério e desviei o olhar para as ruas de Tóquio. Falar sobre aquilo me estressava.
Lá fora, era tudo tão bonito. Era inverno, então as pessoas passavam apressadas com seus casacos, provavelmente indo resolver compromissos pessoais. Cada um com uma história diferente para contar, com seus medos e sonhos, sem realmente olhar um para o outro. Todos tão distantes, mas de alguma forma interligados.
Me perdi nesses pensamentos.
"Olá, terra chamando David Carter." Steve fez um sinal com a mão na minha frente. "Está me ouvindo? Eu tô falando com você a pelo menos cinco minutos."
"Foi mal" Voltei à realidade rapidamente. "Eu acabei me perdendo em alguns pensamentos. E eu não queria ter falado com você daquele jeito, inclusive, mas você sabe que eu não gosto que invadam meu espaço pessoal com perguntas. Não me sinto confortável."
Ele suspirou.
"Tudo bem, esquece isso. Eu só não quero ver meu melhor amigo com essa cara de enterro, vamos, hoje será divertido." Tentou me convencer com um sorriso amigável, e eu me esforcei para sorrir de volta e tentar acreditar naquilo.
[...]
Algum tempo depois, nossas conversas passar a fluir melhor. Steve e eu passamos horas naquele bar. Conversamos, contamos novidades, rimos como jovens com assuntos fúteis, e falamos sobre a vida em geral. Ele me contou que foi promovido no hospital e ganhou mais plantões, e que agora não está com tempo para nada, nem para ir à uma festa ou sequer visitar seus pais. Teve sorte de pegar uma folga naquele dia.
Eu disse à ele sobre alguns projetos recentes meus e contei coisas que aconteceram enquanto ficamos sem nos ver. Falei sobre tudo que possível, mas ainda não sobre minha ideia de viajar no tempo, nem sobre a máquina.
Mais assuntos foram postos em jogo, até nós começarmos a falar do passado. Como quem não queria nada, ele voltou a falar de Katherine, aquele cara era insistente demais.
Como eu já estava sob efeito do álcool e não raciocinando como eu normalmente faria, pensei que se eu falasse bem por cima do que eu sentia em relação à ela ele me deixaria em paz. Péssima escolha.
Diríamos que eu acabei me "empolgando" e falando mais do que deveria. Afinal, quando estamos bêbados não pensamos racionalmente, o que nos leva a fazer merda. E das grandes.
-
"Sabe, eu sinto falta dela ainda." Minhas palavras saíam cortadas por conta do meu estado alcoolizado.
"Eu queria ela de volta. Poder abraçá-la, falar o quanto é importante para mim. Queria mais tempo com ela, cuidá-la, protegê-la. Eu fui um idiota. Idiota, idiota!" Dei um tapa em meu próprio rosto. Steve tentou me conter segurando minhas mãos.
"A culpa não foi sua. Você não podia impedir aquilo."
"Eu odeio pensar nisso, por que teve de acontecer?" Coloquei as mãos sobre meus cabelos, puxando-os. "Ela era a melhor garota do mundo."
"David, você precisa superar isso. Katherine não irá voltar mais."
"Como você tem tanta certeza?!"
"Cara, você está bêbado demais. Ela se foi. Precisa parar de pensar nisso, se não nunca vai arrumar mulher nenhuma na vida." Disse, bebendo pelo menos seu vigésimo copo.
Eu iria me pronunciar, mas ele não me deu tempo de dizer uma palavra sequer, continuando de onde parou.
"E como eu te conheço muito bem e sei que você não vai tomar nenhuma atitude, vou bancar o bom amigo e te ajudar com o seu problema. Vamos arrumar hoje uma garota pra você, e das boas."
Eu fiquei pasmo e sem reação. Não sabia o que dizer, simplesmente havia congelado.
"O que?" Questionei para ter certeza de que não estava ouvindo nada errado.
"Isso mesmo que você ouviu. Se não der certo, prometo te deixar em paz. Mas se der... Bom, eu vou fazer você me agradecer da forma mais vergonhosa possível. E sem fugir, o acordo já está fechado."
Eu sabia que Steve Collins era do tipo que cumpria o que falava. Ele ia dar o seu melhor para vencer.
"Ok." Disse-lhe friamente. Eu não costumava fugir de promessas ou desafios.
"Veremos quem vai vencer."
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De volta para o passado
Fiksi Ilmiah/Este livro pode te surpreender. Dê uma chance e venha conhecer "De volta para o passado" de autoria minha./ Nossa história se passa na grande e tecnológica cidade de Tóquio, berço das maiores invenções da atualidade no século XXI. David Carter é u...