Dengo

V

Naquela manhã, Ana foi acordada com uma movimentação no quarto. Ela não sabia se era de fato o seu quarto ou o de outra pessoa; os lençóis tinham o cheiro de Cecília mas o colchão da cama da loira não era tão confortável.

Custou para que a morena finalmente abrisse um de seus olhos apenas para dar uma espiada, mas logo o fechou por conta da claridade que a incomodava.

- Cecí? - chamou, mas não teve resposta por conta de sua voz estar muito baixinha e falha, dada pelo fato de ter acabado de acordar.

Esperou alguns minutos para tentar mais uma vez abrir os olhos. Dessa vez, lutou para mantê-los abertos pelo máximo de tempo que conseguia e constatou que estava em casa.

O barulho de água era perfeitamente ouvido do quarto já que a porta do banheiro não estava fechada. Lá dentro, Cecília cantava uma melodia desconhecida pela morena enquanto tomava banho.

Ana até mesmo pensou em se levantar e ir dar uma olhada na amiga mas abandonou a ideia no segundo seguinte; ela não queria ser invasiva quanto à privacidade da loira, ainda mais agora que descobrira os sentimentos da mais nova por si.

- Bom dia, Ana - Cecília desejou sorrindo assim que pôs os pés dentro do quarto da amiga. Ela agora já estava vestida com uma roupa simples e seus cabelos loiros estavam molhados, cobrindo um pouco dos seus olhos mas não o bastante para que Ana não pudesse ver as enormes bolsas roxas de inchaço abaixo deles.

- Bom dia - retribuiu o sorriso - Tu dormiu bem?

- Na verdade, não - ela se sentou na cama depois que puxou uma toalha branca limpa do cabide para secar os fios molhados - Passei mal a noite toda.

- Credo! Por que não me acordou pra eu te dar um remédio?

- Eu não queria incomodar - riu quando Ana lhe deu um soquinho - E outra: você tava dormindo feito uma pedra! Nem se eu me jogasse em cima de você gritando você acordava.

- Engraçadinha. Será que foi a torta de ontem que te fez mal? Tu não pode comer um pouquinho de massa que já fica vomitando pra todo lado e ontem tu exagerou e muito.

- É, né?! Mas acho que foi a Safira que colocou um veneno no meu prato, ela não vai muito com a minha cara - Cecília fez bico, fazendo Ana rir de sua besteira.

- Vocês duas nessa implicância sem fim, viu?!

- A culpa não é minha se ela é uma feiticeira.

A carioca deixou a toalha na cama e começou a pentear os cabelos ainda emburrada e culpando Safira por seu mal estar durante a madrugada.

Almoçaram juntas. Ana comeu uma das lasanhas que achou no congelador e fez uma sopa de feijão para Cecília comer.

- Me dá um pedaço da sua lasanha - pediu triste - Feijão é muito ruim.

- Não, tu está doente.

- Se eu comer tudo, você me dá um pedacinho?

- Me diz o que é que tu não me pede chorando que eu não te faço sorrindo, Cecília? Mas acaba essa sopa logo que eu tenho que te dar remédio e faz mal tomar de estômago vazio.

- Eu preciso falar contigo sobre aquilo que eu te disse semana passada.