III

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Desespero.

Agonia.

Dor.

Harry já tinha passado por todos esses estágios enquanto falava no telefone com Anne, e agora tudo que conseguia sentir era a angústia crescendo em seu peito, dando a sensação de que poderia explodir a qualquer momento. Louis não conseguiu entender muito bem o que havia acontecido, mas não quis enchê-lo de perguntas, uma vez que claramente o sofrimento do cacheado já era suficiente.

- Mãe, e-eu já entendi. Não, eu não vou s-sair de casa e não es-estou sozinho. - Louis tentava entender as palavras dentre as lágrimas e soluços do mais novo ecoando no corredor. - A senhora não confia em mim, por acaso? O-ok, tudo bem, desculpa mais uma vez, meu celular estava carregando. Te amo, tome cuidado. - Ele desliga o celular e volta para a sala, fungando e limpando o rosto enquanto pega um casaco. - Louis, você veio de carro?

- Sim... Harry, você est-

- Pegue as chaves, nós vamos para o hospital. - Louis se assusta um pouco com o tom usado pelo mais alto, e continua o encarando com uma cara de desentendido. - Você está surdo, porra? Vamos, rápido.

- Harry, sua mãe mandou você ficar em casa. Ela confia em você. E eu acabei de beber mais de quatro garrafas de cerveja, não sei se seria correto pegar o carro agora.

- Foda-se o que minha mãe falou, foda-se o que seria correto. Se você não vai me levar, então eu vou sozinho. - ele tentou chegar até as chaves, mas Louis foi mais veloz e guardou no bolso da calça tanto as do carro quanto as da casa de Harry, que estavam em cima da mesinha de centro, ao lado das várias garrafas vazias de vidro.

- Eu não vou deixar você dirigir nesse estado. Se quiser, vamos mais tarde quando sua mãe permitir. Tenho certeza que eles podem esperar.

- Inferno, eu não ligo, Louis! Preciso estar lá agora! Você não entende. Me dê as chaves. - as lágrimas voltaram a rolar e ele tentou ao máximo limpá-las, abaixando a cabeça para encarar o chão e estendendo a mão para o mais velho - P-por favor...

Tudo o que Louis queria fazer era abraçar o garoto chorando na sua frente com toda força e dizer que ficaria tudo bem e que ele não tinha com o que se preocupar. Mas esse não era o caso. Talvez fosse melhor não criar expectativas para que mais tarde elas fossem cruelmente estraçalhadas, quebrando junto o coração já tão frágil. Aquela situação estava despertando em Louis coisas que ele não queria relembrar, e isso era mais um motivo para precisar que Harry se acalmasse.

Então ele o fez.

Acolheu o mais novo em seus braços, ignorando que o outro se debateu um pouco até aceitar que estava tudo bem ficar ali, com a cabeça encaixada no pescoço de Louis enquanto tinha seus cachos sendo acariciados levemente e protetoramente. E assim eles ficaram. Nenhum dos dois sabe ao certo por quanto tempo. A camisa cinza foi molhada pelas lágrimas incessantes liberadas pelos olhos verdes e era possível sentir o desespero através do aperto de seus corpos cada vez mais próximos. Naquele momento, tudo o que podia ser ouvido na sala eram os resmungos baixinhos de Harry entre uma fungada e outra, abafados pelo ombro do mais baixo, e os "ei, tudo bem, você está bem" que saiam quase inaudíveis da boca de Louis. E Harry por um momento se sentiu seguro.

Depois disso, Louis preparou um chá de maracujá para o mais novo se acalmar mais e os dois permaneceram em silêncio, ignorando a cena que acabara de acontecer.

- Obrigada por isso... - Harry cospe do nada enquanto brincava com o saquinho de chá na xícara, surpreendendo o mais velho. - e me desculpe também, era pra você estar na sua casa dormindo agora, e não cuidando de um idiota que nem eu. - ele ri sem humor - Pode ir embora já, se quiser. Obrigado de novo.

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